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Em comício final no Michigan, Trump promete ressuscitar a indústria automobilística

Por Folha de São Paulo

02/11/2024 10h15 — em
Mundo



WARREN, MICHIGAN (FOLHAPRESS) - Incentivos fiscais para financiamento de carros feitos nos Estados Unidos, tarifas de até 200% sobre automóveis fabricados na China ou no México, fim das regras que favorecem veículos elétricos, mais exploração de petróleo para baixar preços dos combustíveis -o republicano Donald Trump fez um discurso sob medida para agradar os eleitores do Michigan nesta sexta-feira (1º), em seu último comício em um dos estados-pêndulo mais cobiçados desta eleição.

"Estão dizimando a indústria automobilística de Detroit e do Michigan, sumiram com 40 mil, 50 mil empregos", disse, referindo-se à crise das montadoras, que já foram o principal motor de desenvolvimento no estado, mas estão em decadência há décadas.

"Kamala acabou com os empregos. Com as minhas políticas, vamos ter um renascimento da indústria no estado. Vamos ter um êxodo maciço de empregos da indústria do México e de Xangai [na China] para Michigan."

Grande parte da plateia de cerca de 2.000 pessoas do comício em Warren tinha familiares que trabalham ou perderam emprego na indústria e seus fornecedores.

O presidente do sindicato dos operários da indústria automobilística, Shawn Fein, declarou apoio à democrata Kamala Harris em agosto. Uma pesquisa divulgada pelo sindicato mostrou que 57% dos 391 mil membros apoiam a democrata, e 32%, o republicano.

Mas Trump levou para o palco de Warren um dissidente -Brian Pannebecker, o fundador do "Operários da Indústria Automobilística em apoio a Trump 2024."

"Só Trump pode impedir que nossos empregos acabem", disse Pannebecker. "E ninguém quer esses carros elétricos! A gente não é só operário da indústria automobilística, a gente é consumidor também!" O presidente Joe Biden implementou uma meta de redução de poluentes que exige uma diminuição significativa na fabricação de veículos movidos a combustíveis fósseis até 2032.

"Vamos acabar com essa Picaretagem Verde [como ele se refere às políticas de incentivo a transição energética de Biden] e metas de fabricação de carros elétricos", disse Trump, afirmando ter conseguido impedir que uma empresa chinesa abrisse uma fabrica de automóveis no México que iria sugar todos os empregos americanos.

Joe Shariat, 71, trabalhava na linha de montagem de pintura de uma das fábricas da Ford no estado. "Depois do Nafta, com [Bill] Clinton, meu emprego foi transferido para o México", disse. Mas essa não era sua única crítica contra os democratas. "Imagine a Kamala Harris como comandante das Forças Armadas da nação. Uma mulher, e ainda por cima ela? É uma piada", disse.

Shariat também se disse contra o aborto e afirmou que "em Nova York, as mulheres podem esperar duas semanas depois de o bebê nascer para decidir se querem matá-lo" -uma afirmação que não é verdadeira.

Ele aplaudiu entusiasmado a fala de Robert Kennedy Junior, negacionista de vacina que abandonou a disputa e está apoiando Trump. "Eu não tomei nenhuma vacina, você não viu quantas pessoas morreram por causa da vacina?", indagou. "A Covid foi uma arma biológica desenvolvida pelos chineses e russos. E a Ucrânia tem 32 laboratórios de armas biológicos, por isso a Rússia entrou em guerra com eles. Você não sabia? Por onde você tem andado, querida?"

Kennedy também afirmou, sem provas, que celulares causam câncer. Ele está cotado para ter um papel de destaque nas políticas de saúde de um potencial governo Trump. "RFK vai fazer a América saudável de novo no meu governo", disse o republicano.

Joe Shariat foi acompanhado de seu irmão Rick, 70, que é sósia do lutador profissional Hulk Hogan, figurinha carimbada em comícios do republicano. Rick teve seus cinco minutos de glória, ao ser chamado por Trump: "Nunca vi um sósia do Hulk Hogan tão bom".

Como tem ocorrido ultimamente, o discurso de Trump rivalizou em duração com as falas intermináveis de ditadores de esquerda latino-americanos como o venezuelano Hugo Chávez e o cubano Fidel Castro. O republicano falou por quase duas horas e as pessoas começaram a sair do local antes de o evento terminar.

Quem saiu perdeu o grand finale, em que Trump dançou animadamente ao som da música YMCA, do grupo Village People. O republicano incorporou os finais dançantes com YMCA após seu desempenho de DJ e dançarino em comício na Pensilvânia em 15 de outubro, quando duas pessoas desmaiaram por causa do ambiente abafado.

"Vai ser uma lavada para Trump, a não ser que os imigrantes ilegais votem em massa, como em 2020", disse Jonathan, que produz soja e milho em uma fazenda a uma hora de Warren e veio com a mulher, Beth. Eles se mostraram entusiasmados com a promessa de Trump deportar milhões de imigrantes em situação irregular. "Ele vai começar mandando embora todos imigrantes criminosos, vai limpar o país", disse Jon, que não quis informar seu sobrenome.

Na fila para entrar, um voluntário da campanha passava com o abaixo-assinado patrocinado pelo Super PAC America, do bilionário Elon Musk. As pessoas preenchiam a "petição a favor da liberdade de expressão e do direito a portar armas" com o nome, celular, email e endereço de onde estão registradas para votar.

"Vamos assinar a petição do Elon Musk, com sorteio de US$ 1 milhão", dizia o voluntário. Musk prometeu sortear US$ 1 milhão para pessoas que assinarem a petição, mas só para aquelas que estão registradas para votar -e responde na Justiça por essa promessa, que testa os limites da legalidade.

Desde a tentativa de assassinato contra Trump em julho, em um comício na Pensilvânia, o Serviço Secreto intensificou as medidas de segurança. Todos passam por uma triagem com seguranças, detector de metais, revista manual e com cachorros. Não se pode levar bolsa nem mochila. Armas e explosivos estão, felizmente, vetados.

E não se pode entrar com bandeiras, paus de selfie, cartaz, guarda-chuva, água, isqueiro, apito, balões e nem eletrodomésticos como torradeiras (sim, torradeira está na lista).


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