Europa condena interferências do 'reacionário' Elon Musk
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Em menos de 24 horas, mandatários de Alemanha, França e Reino Unido condenaram as interferências de Elon Musk no ambiente político europeu. Olaf Scholz, Keir Starmer e Emmanuel Macron, desde o domingo (5), reagiram às seguidas investidas do bilionário em prol da extrema direita do continente.
Musk destilou insultos e palavras de ordem pelo X nos últimos dias: pediu o fim a deposição dos governos alemão e britânico, chamou o presidente da Alemanha de "tirânico", pediu votos para partidos de extrema direita, exigiu a libertação de um ultranacionalista preso no Reino Unido e reclamou da anulação de um pleito na Romênia liderado por um populista pró-Rússia, entre outras trolagens.
Macron, não diretamente afetado pelas últimas críticas do empresário, tomou as dores dos colegas nesta segunda-feira (6). "Dez anos atrás, se alguém tivesse dito que o proprietário de uma das maiores redes sociais do mundo estaria apoiando uma nova internacional reacionária e interferindo diretamente nas eleições, inclusive na Alemanha, quem acreditaria", perguntou o presidente francês em uma conferência a embaixadores.
Há uma "desordem no mundo", afirmou Macron, provocada pelo enfraquecimento das regras internacionais e pela ação desestabilizadora de países como a Rússia, acusada de manipular com ataques híbridos diversos pleitos no leste europeu. A Romênia, uma das reclamações da lista de Musk, foi usada como exemplo da desfaçatez russa pelo mandatário francês. Um tribunal superior anulou o primeiro turno presidencial após os serviços de segurança do país apontarem intensa manipulação da campanha pelo TikTok.
Macron afirmou que a Europa precisa de força para enfrentar "impulsos imperiais".
Um dia antes, em entrevista à revista Die Stern, Scholz advertiu que era preciso "não alimentar a trolagem" de Musk. "Nós, sociais-democratas, estamos acostumados com ricos empresários da mídia que não apreciam a política social-democrata. E não escondem isso."
O primeiro-ministro foi chamado de "idiota incompetente" pelo bilionário, que também disparou contra o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier. Os insultos foram condenados até pela oposição, que se divide em rejeitar as interferências de Musk ou ao menos não encampá-las diretamente.
Como fez com Donald Trump nos EUA, o empresário agora é cabo eleitoral de Alice Weidel, co-líder da AfD, a sigla de extrema direita alemã. Inclusive fará uma entrevista com ela nesta semana. As eleições alemãs ocorrem em 23 de fevereiro.
No Reino Unido, além de pedir a libertação de Tommy Robinson, um nacionalista e radical anti-islâmico, algo que o indispôs até com o líder populista Nigel Farage, Musk pediu ao rei Charles para dissolver o Parlamento e tirar Starmer do poder. O trabalhista está na linha de tiro do bilionário desde sua eleição, no ano passado, e agora enfrenta acusações fraudulentas de ter sido leniente com casos de abuso sexual quando era chefe do Ministério Público, há mais de dez anos. "Ele passou dos limites", afirmou o primeiro-ministro nesta segunda-feira (6).
A reação em cadeia na Europa ocorre poucos dias antes da posse de Trump nos EUA. Analistas se perguntam se a verborragia de Musk representa apenas seu radicalismo digital ou também está a serviço do futuro chefe. O bilionário, afinal, está na equipe do americano, encarregado de estabelecer um programa de eficiência para a segunda gestão Trump.
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