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Europa cumprimenta Trump, que tem agenda complicada para o bloco

Por Folha de São Paulo

06/11/2024 11h15 — em
Mundo



BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Líderes europeus cumprimentaram Donald Trump, na manhã desta quarta-feira (6), pela vitória nas eleições americanas. A volta do empresário à Casa Branca traz uma agenda complexa e desafiadora para a União Europeia, ainda que a franja conservadora e de direita do bloco prefira pensar primeiro em celebração.

Efeito prático da mudança de perspectiva, o euro caminha para sua maior queda em um único dia desde a aprovação do brexit, em 2016.

Emmanuel Macron foi um dos primeiros líderes europeu a felicitar Trump pela vitória. No X, o presidente francês declarou que estava pronto para trabalhar com o americano: "Como conseguimos fazer há quatro anos. Com suas crenças e com as minhas. Com respeito e ambição. Por mais paz e prosperidade".

Paz e prosperidade, ou "prosperidade e liberdade", como pontuou o chanceler alemão, Olaf Scholz, em sua mensagem ao americano, serão dois pontos óbvios de atrito entre União Europeia e EUA, já que Trump promete retirar apoio financeiro da Otan, crucial para as pretensões do bloco de conter a Rússia na Ucrânia, e aumentar tarifas de importação, especialmente de veículos.

Ações de montadoras alemãs despencaram nesta quarta-feira (6). O mercado vê BMW, que amargou queda de 7%, Mercedes e VW como principais vítimas de uma guerra tarifária com os EUA.

Também da França vieram os primeiros comentários mais eloquentes dos extremos do espectro político europeu. Éric Ciotti, o parlamentar que foi expulso dos Republicanos em junho por se aliar à extrema direita no país, declarou também em rede social que o triunfo era "uma vitória do povo americano contra o sistema".

Já Marine Tondelier, dos Verdes, comentou sobre "esse inferno que se aproxima" e recomendou "coragem aos americanos e ao mundo inteiro".

Macron conversou por telefone com Scholz nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira (6). O assunto era a volta de Trump. Segundo o porta-voz da chancelaria alemã, foi um diálogo para "coordenar esforços".

Reações diplomáticas foram a tônica. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, desejou que EUA e Europa continuem trabalhando juntos "por uma agenda transatlântica forte" que interessa a 800 milhões de pessoas.

Keir Starmer, do Reino Unido, e Giorgia Meloni, da Itália, pontuaram as boas relações de seus países com os EUA.

Mark Rutte, o novo secretário-geral da Otan, foi um pouco mais direto ("sua liderança será novamente chave para manter nossa aliança forte"), assim como Volodimir Zelenski. "Eu aprecio o comprometimento do presidente Trump com a abordagem de ‘paz pela força’ em assuntos globais. Este é exatamente o princípio que pode na prática trazer a paz justa para a Ucrânia", declarou o presidente ucraniano no X.

Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, que festejava a vitória de Trump desde a noite de terça-feira (5), baseado apenas nos primeiros resultados, já tinha afirmado nesta semana que uma reviravolta no comando dos EUA significaria outro tipo de paz para a Europa —um fim de guerra com Vladimir Putin vencedor em detrimento ao custoso esforço geopolítico do continente para contê-lo.

Em editorial, o jornal francês Le Monde escreveu que o prognóstico implica "risco real de uma Europa dividida ou mesmo fraturada". "É uma ameaça existencial para a União Europeia, e seus líderes precisam se preparar para enfrentá-la, sem esperar que Trump tome posse."

A divisão já parece evidente no tom de celebração da direita europeia, bem mais efusiva em suas mensagens a Trump. "Patriotas estão vencendo no mundo todo", afirmou Geert Wilders, do PVV, da Holanda. "Foi uma vitória dos trabalhadores dos EUA, não da Hollywood woke", declarou Alice Weidel, da AfD, o ascendente partido alemão de extrema direita, que nesta quarta-feira (6) discute a expulsão de integrantes.

Na véspera, eles foram presos junto com um grupo suspeito de tramar golpe de Estado e a volta do nazismo ao país.

Além de Ucrânia e tarifas, um aguardado retrocesso ambiental, a exemplo do primeiro mandato do americano, preocupa bastante os europeus.


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