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Governo Lula teve reuniões com republicanos de olho em relação com Trump

Por Folha de São Paulo

06/11/2024 19h45 — em
Mundo



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) organizou uma missão com diplomatas que viajaram aos Estados Unidos para fazer encontros de aproximação com pessoas ligadas a Donald Trump e à campanha de Kamala Harris.

No caso dos republicanos, a comitiva tentou construir pontes com pessoas influentes no campo trumpista para o caso de uma vitória do ex-presidente nas eleições americanas que ocorreram na terça-feira (5) --o que acabou se confirmando na manhã desta quarta.

Segundo pessoas com conhecimento da agenda, os compromissos ocorreram em setembro e foram costurados pela embaixada em Washington. O envio de uma comitiva de Brasília serviu para dar maior peso institucional às reuniões.

Ocorreram encontros com parlamentares, assessores e membros de think tanks dos dois espectros políticos.

Confirmada a vitória de Trump, diplomatas brasileiros ouvidos pela Folha de S.Paulo destacam a densidade da relação econômica entre Brasil e EUA e argumentam que isso precisa se sobrepor a qualquer divergência ideológica entre o republicano -principal ícone da extrema direita no globo- e Lula.

O petista não escondeu em nenhum momento da campanha sua preferência pelo atual presidente Joe Biden e, depois, por sua substituta na corrida, Kamala Harris.

Na declaração mais polêmica sobre a campanha americana, Lula disse na semana passada que Kamala era uma opção muito mais segura para o fortalecimento da democracia nos EUA e comparou o movimento político encabeçado por Trump a um "nazismo com outra cara".

Apesar das declarações públicas, havia a avaliação no Itamaraty mesmo antes do pleito de que canais mínimos precisavam ser construídos para uma hipótese de um novo governo Trump.

Um dos principais pontos de preocupação de Lula e auxiliares no Palácio do Planalto é o nível de acesso que aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm ao entorno de Trump.

O caso mais evidente é o do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente brasileiro. Ele manteve viagens frequentes aos EUA mesmo depois da derrota de Trump, em 2020, e expôs nas redes sociais proximidade com familiares do presidente eleito.

No pleito de terça não foi diferente. Eduardo publicou uma foto ao lado de Donald Trump Jr., filho do magnata, e vídeos de Trump durante a apuração no resort de Mar-a-Lago, na Flórida.

No Itamaraty, o diagnóstico é que o futuro da relação bilateral vai depender do quão ideologizada será a política externa do republicano.

Ainda é incerto, por exemplo, se Trump recompensará a lealdade da família Bolsonaro com um tratamento especialmente hostil em relação a Lula --o que diplomatas ouvidos pela Folha de S.Paulo duvidam.

Tampouco está claro se a recente ofensiva do bilionário Elon Musk e de congressistas republicanos contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), vai se reverter em ações concretas contra o magistrado após o grupo de Trump assumir a Casa Branca.

Por último, há a leitura de que a relação com o Brasil deve estar longe das prioridades de Trump para política externa, diante das guerras em Gaza, na Ucrânia e da competição geopolítica com a China.

Lula já adotou uma postura diferente nesta quarta (6), ao parabenizar Trump pela vitória ainda pela manhã. Quando Joe Biden foi eleito em 2020, Bolsonaro demorou 38 dias para felicitá-lo.

O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, o embaixador Celso Amorim, afirmou à Folha de S.Paulo que sua expectativa é que Trump mantenha uma relação pragmática com o governo Lula. Amorim usou como exemplo o período de 2003 a 2008, quando o petista manteve uma boa relação com o republicano George W. Bush.

"O presidente Lula é pragmático. E Trump tende a ser mais pragmático do que foi da da outra vez. Isso facilita as conversas", avaliou.

Embora algum nível de antagonismo com Lula seja inevitável, diplomatas acreditam que os interesses econômicos tendem a criar bases pragmáticas para o relacionamento entre os dois países.

De acordo com a Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil), a corrente comercial entre Brasil e EUA atingiu US$ 60,1 bilhões (R$ 346,4 bilhões) de janeiro a setembro. Trata-se de um crescimento de 8,2% em relação ao mesmo período de 2023.

Além do mais, historicamente o país registra déficits com os americanos, o que também pode tirar o Brasil do radar de Trump para ações mais punitivas no comércio -o republicano adotou medidas em seu primeiro mandato contra economias que acumulavam superávit com os americanos.


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