Milhares fazem fila para ver a tumba de Francisco em Roma
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ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - Uma fila que serpenteava os arredores da Basílica Santa Maria Maior reuniu milhares de pessoas neste domingo (27) em Roma para o primeiro dia de visitações à tumba do papa Francisco. O pontífice argentino, sepultado na véspera em uma das capelas do interior da igreja localizada no centro da capital italiana, atraiu sobretudo jovens.

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Muitos estão na cidade para o Jubileu, o maior evento do calendário católico, que ocorre a cada 25 anos e ganhou ainda mais significado ao coincidir com o funeral do pontífice. Mais de 80 mil adolescentes se inscreveram para a celebração, que culminaria com a canonização do beato Carlo Acutis, morto aos 15 anos. A confirmação do primeiro santo millennial, porém, acabou adiada.
No começo da tarde italiana, chegava a 30 mil o número de visitantes do túmulo de Francisco, segundo a prefeitura de Roma. A multidão não arrefeceu nem com a chuva leve que caiu em Roma, e a visitação foi estendida até as 22h (17h de Brasília). De acordo com o Vaticano, a Santa Maria Maior abrirá todos os dias e abrigará missas regulares.
A inédita visita a Francisco concorria pela manhã com a grande celebração do dia na Praça São Pedro, a segunda missa do novendiali, os nove dias de luta pelo papa. "O Papa Francisco foi uma testemunha brilhante de uma Igreja que se inclina com ternura para com aqueles que estão feridos e os cura com o bálsamo da misericórdia", disse na homilia do Vaticano o cardeal Pietro Parolin.
"Ele nos lembrou que não pode haver paz sem reconhecer o outro, sem prestar atenção aos mais fracos e, acima de tudo, nunca poderá haver paz se não aprendermos a perdoar uns aos outros, usando entre nós a mesma misericórdia que Deus tem para com as nossas vidas."
À tarde, Parolin e mais de 110 cardeais visitaram a tumba na Santa Maria Maior e rezaram por Francisco e pela escolha que terão que fazer a partir da próxima semana. O período do novendiali precisa acabar para permitir o início do conclave, o processo de escolha do próximo papa.
"Não podemos escolher", disse Alessandro Grasso, operário de Napoli, na saída de sua visita. "Eles vão escolher", completou, frisando a responsabilidade do Colégio Cardinalício. "O Senhor o escolherá, eu sei", disse a seu lado a amiga Noemi Curcio. "Mas esperamos um papa que esteja em sintonia com os tempos e que consiga falar melhor com os jovens. São muitas as portas que ele deixou abertas, então esperamos poder continuar a segui-las."
O alemão Dominic Kuhl, desenvolvedor de software que mora em Viena, também aguarda um pontífice preocupado com as gerações mais novas. "Tenho 26 anos e só posso falar do que acontece na Europa, mas há muitos como eu atraídos pela liturgia da Igreja Católica, de uma igreja mundial, apegada a seus rituais", declarou, logo após deixar a basílica.
A descrição pode soar um pouco conservadora, mas Dominic refutou o rótulo usando o exemplo do próprio Francisco. "As pessoas eram sua primeira preocupação, de uma maneira pastoral. É diferente de dizer faça o que você quiser. Porque Jesus disse: faça o que é a vontade de Deus. O papa pensava assim, então não acho que ele era muito liberal, embora fosse visto como controverso."
Dominic chegou cedo e ficou 20 minutos na fila. Ela já durava mais de hora no momento em que saiu, com a estimativa policial anterior de centenas saltando para milhares. A espera passava de duas horas na metade da tarde. "É um túmulo pequeno, com uma pedra branca e seu nome inscrito nela. É muito simples", descreveu.
Francisco determinou em testamento que queria ser enterrado em Santa Maria Maior, sua igreja preferida em Roma. A lápide, em mármore da Ligúria, terra de seus avós, leva apenas seu nome em latim, Franciscus, e está instalada na capela Paulina. Na parede, há uma reprodução de seu crucifixo.
Noemi contou que policiais não deixavam a fila parar na frente da tumba e fotos não eram permitidas. Alessandro fez registros de outros ambientes da igreja, mas guardou o celular na hora de passar pelo túmulo. "Às vezes é melhor não tirar fotos. Apenas olhar e lembrar-se do que viu. Basta fechar os olhos e lembrar."
É a primeira vez em 122 anos que um papa é enterrado fora do Vaticano. "É uma experiência que não se espera ter na vida", diz Noemi.

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