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Netanyahu muda versão e acusa Hamas de rejeitar acordo; grupo nega

Por Folha de São Paulo

16/01/2025 8h15 — em
Mundo


Foto: Reprodução/Youtube

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, criou a primeira crise em torno do cessar-fogo anunciado na noite de quarta (15) entre o país e o grupo terrorista Hamas. Ele acusou os palestinos de não aceitar todos os termos do acordo, horas depois de dizer que havia feito isso.

"O gabinete israelense não vai se reunir [para votar o arranjo] até que os mediadores notifiquem Israel de que o Hamas aceitou todos os elementos do acordo", disse nota do escritório de Netanyahu na manhã desta quinta (16).

Os palestinos negam. Também em nota, a chefia do grupo da Faixa de Gaza afirma que está comprometida com todos os termos acordados na véspera no Qatar, em uma negociação mediada pelos anfitriões, pelos Estados Unidos e pelo Egito.

Na quarta, o Hamas colocou uma última condição na mesa para aprovar o texto, a retirada imediata de forças de Israel do chamado corredor Filadélfia, a fronteira de 17 km entre Gaza e o Egito sob a qual era feito tráfico de armas para os terroristas.

Pelo acordo até então, tal retirada seria gradual, em 50 dias. O premiê qatari, Mohammed al-Thani, então chamou primeiro os negociadores palestinos e, depois, os israelenses.

Ao fim das conversas, o governo de Israel divulgou uma nota dizendo que "devido à forte insistência do premiê Netanyahu, o Hamas abandonou sua demanda de última hora para mudar o posicionamento das Forças de Defesa de Israel no corredor". O texto ainda dizia que faltavam outros pontos para finalizar o acordo.

Isso ocorreu com o cessar-fogo já sendo celebrado em rede social pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Cerca de meia hora depois, Al-Thani foi a público anuncia oficialmente o acordo. Netanyahu então falou com o atual titular da Casa Branca, Joe Biden, e indicou estar satisfeito.

Nesta manhã, mudou de ideia. Sua nota não cita o corredor Filadélfia, mas também não fala em outra condição de última hora do Hamas, que de todo modo nega ter feito isso.

Sem provas, tudo sugere que Netanyahu está jogando para a plateia, mais precisamente sua base de ultradireita religiosa que é contra o acordo porque nele os 98 reféns ainda em poder do Hamas após o ataque de 7 de outubro de 2023 serão trocados por cerca de 1.000 prisioneiros palestinos.

Ao menos 30 desses detidos em Israel cumprem prisão perpétua por matar judeus, e sua soltura é vista como um risco à segurança nacional pelos ortodoxos.

No gabinete de segurança de Israel, que reúne 11 ministros, apenas 2 são expoentes dessa facção da política. Quando o Estado judeu firmou o cessar-fogo com o Hezbollah, em novembro, apenas um integrante do colegiado votou contra, o radical Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional).

Mas o contestado governo do primeiro-ministro no Parlamento precisa da coalizão com esses partidos de ultradireita para sobreviver, com sua sigla tendo apenas 32 das 120 cadeiras. Por outro lado, o Likud de Netanyahu está à frente de pesquisas para a eleição do ano que vem.

O cessar-fogo está previsto para começar no domingo (19). Como Israel entra em suspensão devido à folga semanal do judaísmo na noite de sexta (17), o tempo agora corre para que a crise seja solucionada.

Pelo acordo, a troca de reféns por prisioneiros será escalonada, devendo respeitar proporções entre cativos do 7 de Outubro vivos, talvez 60 dos 98, e palestinos. A primeira fase deve durar 16 dias, quando 33 mulheres, crianças, doentes e homens com mais de 50 anos serão trocados por um número incerto de árabes.

Depois, será negociada a libertação de soldados homens de Israel e, por fim, os corpos de vítimas do ataque do Hamas. Posteriormente será estruturada a administração de Gaza, que era dominada pelo Hamas desde 2007, um processo complexo e ainda incerto, que dependerá muito da vontade de Trump.

O cessar-fogo inicial deve durar 42 dias, podendo ser estendido. Enquanto isso, os ataques na Faixa de Gaza continuaram nesta madrugada, com os palestinos contando ao menos 70 mortos em um bombardeio de Israel. O 7 de Outubro deixou 1.200 mortos em um dia em Israel, e a guerra subsequente matou 46,7 mil moradores de Gaza, segundo o Hamas.


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