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Opositor de Maduro vai aos EUA, encontra Biden e busca revolta militar na Venezuela

Por Folha de São Paulo

06/01/2025 19h00 — em
Mundo



BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Edmundo González, que disputou as eleições presidenciais contra o ditador Nicolás Maduro e que uma parte do mundo ocidental reconhece como o eleito, teve o ponto alto de seu giro pelas Américas nesta segunda (6) ao se encontrar com Joe Biden nos Estados Unidos.

O democrata pode estar prestes a deixar a chefia da Casa Branca, mas ainda é uma das vozes mais importantes para apoio diplomático aos opositores, que nesse giro não conseguiram organizar viagens para os vizinhos de maior peso da Venezuela: Brasil e Colômbia.

O opositor também encontrou Mike Waltz, assessor de Segurança Nacional do republicano Donald Trump, que volta à Presidência no próximo dia 20 com uma agenda ainda incerta para Caracas.

De um lado, líderes opositores apostam que Trump inflará o pacote de sanções contra a ditadura, medida questionável em seus efeitos mas típica do político. De outro, cogita-se que Trump busque maior diálogo com Maduro para estancar o que vê como duas chagas com origem na Venezuela: o tráfico de drogas e o enorme fluxo de imigrantes.

Em comunicado, o governo Biden disse que "a campanha vitoriosa de González deve ser honrada com um processo de transferência pacífica do poder nos ritos democráticos". Já Waltz não fez comentários públicos sobre o encontro até a publicação deste texto.

O venezuelano que vive asilado em Madri desde setembro chegou a Washington na noite de domingo (5) após passar por Argentina e Uruguai. Ele também teve uma conversa por vídeo com o presidente do Paraguai, Santiago Peña —o que desencadeou o anúncio da Venezuela de rompimento de relações diplomáticas com Assunção.

O governo de Peña deu 48 horas para que os diplomatas venezuelanos deixem o país. Foi a sua gestão a responsável por retomar relações com Caracas em 2023, na expectativa de que o regime cumprisse o Acordo de Barbados, feito para eleições transparentes, livres e democráticas. A empreitada falhou, e hoje Peña é mais um dos líderes que reconhecem González como presidente eleito.

O venezuelano também teve um encontro com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o ex-chanceler uruguaio Luis Almagro. É um contato de efetividade reduzida, dado que a OEA há muito não consegue dialogar com Caracas.

É uma semana decisiva para a Venezuela: para sexta-feira (10) está marcada a posse de Maduro, que deve assumir por mais um período de seis anos mesmo não tendo apresentado provas da eleição, como seria de praxe no sistema eleitoral. González diz que irá à Venezuela neste dia.

Diante das incertezas, a oposição volta a apostar com maior fôlego em uma estratégia duvidosa aos olhos de analistas independentes: convocar um rompimento dos militares, que sustentam o regime chavista. Foi o que González voltou a fazer em um vídeo nas redes sociais.

"Nossa Força Armada Nacional está convocada a garantir a soberania e o respeito à vontade popular", disse ele ao pedir que os militares o ajudem a tomar posse. "É preciso terminar com uma cúpula que desvirtuou os princípios fundamentais e morais de nossas Forças Armadas; muitos de vocês já manifestaram sua vontade de mudança."

Liderada por María Corina Machado, que acredita-se estar asilada em alguma embaixada em Caracas, a oposição também convocou atos para a quinta-feira (9) em diferentes partes do país.

Será um teste importante para medir a capacidade de mobilização dos opositores, uma vez que a repressão colocada em prática pelo regime espalhou medo entre a população.

Nas últimas semanas, porém, a ditadura retomou a prática da chamada "porta giratória": liberar alguns dos presos políticos para amenizar a imagem da autocracia. Já foram soltas mais de 1.500 pessoas.

Analistas e opositores de alas menos radicais veem como quase nula a chance de uma revolta militar. A alta cúpula verde-oliva está ligada ao regime desde os anos de Hugo Chávez, ele próprio um militar. Mas, na cúpula opositora, a ideia é a de que não há chance de assumir o poder sem apoio dos militares.

Nas eleições de julho passado, em episódio que despertou alerta, os militares reconheceram Maduro como eleito antes mesmo de os resultados parciais serem divulgados. Nesta segunda-feira, minutos antes do encontro de González com Biden, voltaram a dar sinais de apoio inabalável. "Reconheceremos Nicolás Maduro como presidente constitucional", disse o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López.

"Rejeitamos categoricamente e com absoluta veemência este ato palhaço e bufão de política desprezível", seguiu ele, referindo-se ao chamado de González aos militares.

A ditadura convocou 1.200 militares em todo o território nacional para o dia da cerimônia de posse. Aliado de primeira hora do regime e uma das pessoas com maior poder no país, o ex-chefe de campanha de Maduro e hoje presidente do Legislativo, Jorge Rodríguez, disse que Edmundo González será preso caso entre no país. O regime o acusa, entre outras coisas, de traição à pátria e de tentativa de usurpar poderes.

Ele afirmou, ainda, que qualquer estrangeiro que entre em território venezuelano sem autorização será identificado como invasor e preso. É um alerta aos cidadãos de outros países em geral, mas especialmente a um grupo de ex-presidentes da América Latina que afirmava que acompanharia González em sua ida a Caracas.

São eles: os ex-líderes do México Felipe Calderón e Vicente Foz, a ex-líder do Panamá Mireya Moscoso e o ex-presidente da Bolívia Tuto Quiroga. O regime os declarou personas non gratas.

Ainda nesta segunda-feira, o ministro do Interior, Diosdado Cabello, afirmou que há ao menos 125 pessoas de outras nacionalidades detidas no país, a quem chama de mercenários. Ele não listou brasileiros no grupo. Seria uma lista composta por pessoas como o cabo argentino recém-detido na fronteira da Colômbia quando ia visitar sua família venezuelana e acusado de terrorismo pelo regime. Cabello voltou a dizer que González será preso se pisar na Venezuela.

Maduro também tem afirmado que colocará na esteira um projeto para modificar a Constituição. "Estou montando uma equipe de assessores e conselheiros internacionais que se ofereceram para nos apoiar. Terá de ser aprovada pela Assembleia Nacional [de maioria chavista] e depois ir a referendo", disse Maduro em entrevista que concede a cada final de ano ao jornalista espanhol e seu aliado Ignacio Ramonet.


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