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Plano de campanha de Trump prioriza migração, inflação e petróleo

Por Folha de São Paulo

18/07/2024 1h30 — em
Mundo



BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) - Em uma semana, Donald Trump sobreviveu a uma tentativa de assassinato, apareceu como mártir no evento nacional de seu partido e viu um dos processos criminais de que é alvo ser arquivado.

O ex-presidente consolidou de vez sua predominância no Partido Republicano, cujos reflexos são notados na nomeação de J.D. Vance como seu vice, um senador jovem e alinhado a Trump, no culto a sua imagem, onipresente em suvenires da convenção que termina nesta quinta (18), em Milwaukee, e na ausência de nomes críticos ao ex-presidente no evento.

O efeito é evidente também na plataforma de campanha republicana. O documento de 16 páginas lista, em linguagem muito semelhante à forma particular como Trump se comunica nas redes sociais --inclusive com tópicos inteiramente em letras maiúsculas--, uma série de propostas e promessas que vão de política externa a pautas sociais.

Análises do site Politico e do jornal The Washington Post mostram mudanças de tom entre o plano de campanha do partido em 2016 e o deste ano, destacando passagens que copiam de forma literal discursos e publicações em rede social de Trump e as 19 vezes que o programa atual cita o ex-presidente.

O documento deixa ainda muitas dúvidas sobre como seria um segundo governo Trump, mas indica suas apostas e prioridades em uma eventual volta à Casa Branca.

Antes da divulgação da plataforma, a campanha tentou se desvincular do chamado Projeto 2025, um plano paralelo à campanha capitaneado pela conservadora Fundação Heritage e elaborado por uma série de organizações e nomes ligados a Trump, devido ao caráter radical e polêmico de uma série de propostas.

"Nosso objetivo é montar um exército de conservadores alinhados, verificados, treinados e preparados para começar a trabalhar no primeiro dia para desconstruir o Estado Administrativo", escreve Paul Dans, diretor do Projeto 2025 e ex-integrante do governo Trump, na abertura do texto.

Ainda que não endosse o projeto, Trump ecoa tanto suas propostas como seu objetivo declarado. "Tivemos ótimas pessoas [no primeiro mandato], mas tivemos algumas pessoas que eu não teria escolhido em uma segunda vez. Agora, eu conheço todo mundo, sou verdadeiramente experiente", disse o republicano em entrevista à Bloomberg.

IMIGRAÇÃO

O tema está no topo da lista da plataforma republicana e se relaciona a outros assuntos listados, como o combate à inflação, e ecoa a promessa antiga e fundamental da campanha trumpista de 2016 de construção de um muro na fronteira com o México.

O programa defende a deportação em massa de imigrantes ilegais, o fortalecimento do ICE, a agência de imigração e alfândega dos EUA, e a elevação de punições para quem entra ilegalmente no país e permanece após o fim de vistos temporários.

O documento também cita o retorno do Título 42, medida da primeira gestão de Trump que restringiu a entrada de imigrantes durante a pandemia da Covid-19 --e chegou a ser ampliada por Biden.

ECONOMIA E ENERGIA

A plataforma --e Trump, em entrevista recente-- bate muito na tecla da redução da inflação via, principalmente, aumento da oferta de energia.

Isso seria feito com mais investimentos para novas perfurações de petróleo e gás, aliado ao corte de impostos e regulações "excessivas", a redução de "desperdícios de gastos federais" e a aplicação de tarifas a produtos importados.

O projeto dá poucos indícios do que seriam essas regulações e gastos. Relatórios como do Peterson Institute for International Economics e do grupo Oxford Economics sugerem que as propostas devem, pelo contrário, aumentar a inflação.

INDUSTRIALIZAÇÃO E COMÉRCIO EXTERIOR

O programa prevê a criação de novas tarifas a bens importados com o objetivo final de aumentar a produção doméstica, principalmente cadeias produtivas cruciais. Isso se relaciona a outra proposta, a de banir empresas que produzem fora dos EUA de negociar com o governo federal.

O texto reforça a visão da China como um adversário geopolítico e econômico, e sugere o fim gradual da importação de bens essenciais do país asiático, além de impedi-lo de comprar indústrias e bens no mercado imobiliário.

O Partido Republicano indica ainda que vai barrar a importação de veículos chineses e cancelar medidas de Biden relacionadas a veículos elétricos --embora Trump tenha sugerido que não é contra esse tipo de veículo em si.

POLÍTICA EXTERNA

A plataforma republicana ecoa falas anteriores de Trump a respeito da Otan e da Guerra da Ucrânia quando diz que quer fortalecer alianças "garantindo que nossos aliados cumpram suas obrigações de investir na nossa defesa comum" e "restaurando a paz na Europa". O texto não menciona a aliança militar ou o conflito no Leste Europeu.

Em entrevista à Bloomberg, o ex-presidente também deixou em dúvida a ajuda a Taiwan e disse que a ilha "pegou a indústria de chips" dos EUA, que funcionam como "uma apólice de seguros" --sugerindo que a ilha devesse pagar pela proteção.

O projeto republicano diz ainda que está do lado de Israel e busca a paz no Oriente Médio. Também em entrevista à Bloomberg, Trump afirmou que "sempre protegerá" a Arábia Saudita, citando sua relação com o príncipe Mohammed bin Salman.

POLÍTICAS SOCIAIS

O projeto apoia alternativas educacionais, como o homeschooling e afirma que vai retirar investimento de escolas que "engajem em doutrinação política inapropriada usando dinheiro pago pelo contribuinte". A diretriz sobre educação no texto diz "conhecimentos e habilidades, não teoria crítica da raça e doutrinação de gênero".

A plataforma menciona ainda que irá proteger a liberdade de expressão online e "responsabilizar aqueles que usarem de forma equivocada o poder do governo para perseguir injustamente oponentes políticos", menção óbvia ao que Trump afirma ser o caso em seus processos criminais.

Na questão do aborto e direitos reprodutivos, cara aos dois candidatos, o plano republicano reitera a posição do ex-presidente sobre o assunto.

O texto deixa aos estados a função de legislar sobre o assunto, e afirma que é contra o "aborto tardio, ao mesmo tempo que apoia mães e políticas que contribuam para melhorar o cuidado pré-natal, o acesso ao controle de natalidade e a fertilização in vitro".


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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