Premiê do Canadá, Justin Trudeau anuncia que deixará cargo em meio a crise partidária
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou sua renúncia como líder do Partido Liberal e premiê nesta segunda-feira (6), em meio a grave crise de popularidade de seu governo e crise interna de sua legenda.
Trudeau deve seguir, ao menos por um tempo, como líder da sigla e premiê, e os Liberais iniciarão processo eleitoral interno para decidir quem será o novo líder e, portanto, o novo primeiro-ministro. As disputas pela liderança do partido geralmente levam meses para serem organizadas e, mesmo que o partido acelere o processo, Trudeau não deve deixar o cargo tão cedo.
Até recentemente, Trudeau conseguiu afastar partidários preocupados com a perda de assentos no Parlamento em pleitos recentes, além de pesquisas eleitorais que indicam grande derrota dos Liberais para os Conservadores em pleito que precisa ocorrer até outubro.
Mas os pedidos para que ele se afastasse dispararam desde o mês passado, quando o premiê tentou demitir a ministra das Finanças, Chrystia Freeland, uma de suas aliadas mais próximas no gabinete, depois que ela se opôs a propostas para aumentar o gasto público.
Freeland, então, renunciou e escreveu uma carta acusando Trudeau de praticar "truques políticos" em vez de se concentrar no que era melhor para o país.
Trudeau se posicionou como ícone progressista desde o início de seu mandato, cumprindo a promessa de um gabinete com igualdade de gênero. "Porque é 2015", foi a resposta do premiê a questionamento sobre a escolha paritária para o governo, com 15 mulheres e 15 homens.
O primeiro-ministro tem sido, ao longo dos quase dez anos no cargo, defensor de políticas de abertura à imigração e refúgio.
A popularidade de Trudeau, de início alta, começou no entanto a cair logo após os primeiros dois anos de mandato, após alguns escândalos relacionados a um período de férias em ilha caribenha classificadas como antiéticas em relatório, e vídeos antigos em que Trudeau aparecia com "blackface" (prática hoje considerada racista em que pessoas brancas pintam o rosto com tinta preta para representar pessoas negras).
Já em 2019, e de novo em 2021, o Partido Liberal perdeu cadeiras no Parlamento de Ottawa e foi obrigado a governar sem maioria na Casa. Há dois anos, a aprovação do premiê despencou, uma queda puxada por indignação com a inflação e escassez de moradias.
Durante a pandemia da Covid-19, no início de 2022, o premiê defendeu medidas restritivas como lockdowns e obrigatoriedade de vacinas, e foi enfrentado por manifestantes que bloquearam cidades e pontes na fronteira com os EUA contra as medidas.
Apesar da polarização relativa ao tema, a popularidade do premiê, que tomou ações como a declaração de estado de emergência durante os protestos, nunca se recuperou desde então.
O premiê do Partido Liberal, de centro-esquerda, governa o Canadá desde 2015 e foi reeleito duas vezes. Apesar do tempo no cargo, Trudeau, 53, é apenas o nono primeiro-ministro mais longevo do país seu pai, Pierre Trudeau, por exemplo, governou por mais de 15 anos, da década de 1960 a 1980.
O atual premiê foi também o segundo mais jovem a assumir o posto, aos 43 anos.
Dado o tempo para escolha de novo líder liberal, Trudeau ainda será primeiro-ministro em 20 de janeiro, quando o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, assume o cargo. Trump ameaçou impor tarifas a produtos canadenses, e chegou a provocar o vizinho dizendo que a população local preferiria ser um estado americano do que um país independente.
"Muitos canadenses querem que o Canadá se torne o 51º estado", publicou em sua rede Truth Social. "Economizariam demais em impostos e proteção militar. Acho que é uma ótima ideia. Estado 51!!!", escreveu Trump.
Outra preocupação para os Liberais é a ameaça dos partidos de oposição de derrubar o governo. Uma moção de desconfiança poderia ser proposta já no final de março e, se todos os partidos votarem a favor, a eleição será antecipada, encurtando e dificultando a campanha de novo líder liberal.
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