Quem é o Unabomber, serial killer que teria inspirado Mangione a matar CEO
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Luigi Mangione, preso pela morte de Brian Thopmson, CEO da seguradora de saúde norte-americana UnitedHealthcare, seria um apreciador de Ted Kaczynski, conhecido como "Unabomber", um dos mais conhecidos serial killers dos EUA. Ele fez elogios a um livro do criminoso.
O 'UNABOMBER'
Ted Kaczynski era professor de matemática formado pela renomada Universidade de Harvard e foi procurado pelas autoridades por 17 anos. Kaczynski promoveu uma série de atentados a bomba entre 1978 e 1995 e recebeu o apelido de "Unabomber". Acadêmicos e cientistas eram os principais alvos de Kaczynski, que promovia uma campanha contra o que acreditava ser os males da tecnologia moderna.
O FBI descrevia o matemático como "um gênio distorcido que aspira ser o assassino anônimo perfeito". Nascido em 1942, em Chicago, Theodore John Kaczynski já demonstrava habilidade com artefatos explosivos na adolescência. Colegas da época relataram à agência de notícias Reuters que Kaczynski "tinha o conhecimento de montar coisas como baterias, fios, nitrato de potássio e criar explosões".
O criminoso era o responsável pela fabricação e envio de suas bombas. Segundo a Reuters, o "Unabomber" vivia em uma cabana "primitiva" na zona rural do estado de Montana, nos Estados Unidos, onde manipulava os explosivos. Ainda segundo a agência, Kaczynski tentou explodir um avião comercial como parte de sua iniciativa contra a dinâmica da sociedade.
AS EXPLOSÕES
A primeira explosão causada pelo "Unabomber" aconteceu em 1978. Na ocasião, Kaczynski deixou um pacote para um professor de engenharia da Northwestern University, em Chicago. O pacote explodiu, ferindo levemente um policial. A segunda vítima foi um estudante de pós-graduação da mesma faculdade, quando uma pequena bomba explodiu em suas mãos, causando queimaduras superficiais.
Em 1979, Kaczynski implantou uma bomba no compartimento de carga de um avião da companhia American Airlines. O artefato soltou fumaça durante o voo e forçou um pouso de emergência no Aeroporto Internacional Dulles. O episódio fez com que o FBI iniciasse a caçada ao "Unabomber".
Em 1980, Kaczynski enviou um pacote-bomba que explodiu e feriu o presidente da United Airlines. Percy Wood estava em sua casa, em Illinois.
A primeira morte causada pelas bombas de Kaczynski aconteceu em 1985. Hugh Scrutton, de 38 anos, era dono de uma loja de informática em Sacramento, na Califórnia, e morreu quando uma bomba carregada com pregos e lascas explodiu no estacionamento de seu comércio.
Entre 1987 e 1993, nenhuma bomba foi enviada pelo criminoso. Em 1994, uma nova morte foi provocada pelo "Unabomber": Thomas Mosser, um executivo no ramo da publicidade, morreu com uma bomba enviada por Kaczynski. Mosser havia trabalhado na melhoria da imagem pública da Exxon, empresa petrolífera.
Em 1995, outra bomba mortal foi enviada por Kaczynski. Gilbert Brent Murray, chefe de um grupo de lobby da indústria madeireira da Califórnia, morreu em uma nova iniciativa de "Unabomber" contra grandes empresas dos EUA.
Ao todo, as 17 bombas manuseadas e enviadas por Kaczynski feriram ao menos 25 pessoas. Além das vítimas mortais, outras perderam a visão, a audição e parte dos dedos por conta das explosões.
A RELAÇÃO DE 'UNABOMBER' E MANGIONE
O 'Unabomber' é autor do texto "A Sociedade Industrial e Seu Futuro". No manifesto, Kaczynski analisa a dinâmica da tecnologia moderna, além de avaliar as consequências e os problemas sociais causados por este movimento. "A Revolução Industrial e as suas consequências foram um desastre para a raça humana", começava o ensaio.
Mangione avaliou o livro escrito por Ted Kaczynski. O jovem afirmou que "quando todas as formas de comunicação falham, violência é necessária para sobreviver". Segundo Mangione, o "Unabomber" era um "indivíduo violento preso corretamente que feriu pessoas inocentes", mas que suas previsões sobre a sociedade moderna eram "impossíveis de ignorar".
Publicado em setembro de 1995, o manifesto foi pista final para que Kaczynski fosse capturado. O irmão mais novo do autor, David, acionou a polícia indicando que as ideias do texto coincidiam com os pensamentos de Kaczynski. O "Unabomber" foi preso em sua cabana em abril de 1996.
Kaczynski rejeitou a sugestão de seus advogados para que alegasse insanidade durante seu julgamento. O criminoso se declarou culpado nas acusações federais contra ele e um tribunal da Califórnia o condenou a quatro penas de prisão perpétua mais 30 anos de prisão.
Kaczynski morreu em junho de 2023, aos 81 anos. O "Unabomber" foi encontrado morto em sua cela no centro médico Butner, uma instalação para prisioneiros com necessidade de cuidados especiais de saúde, no estado da Carolina do Norte. A causa da morte não foi divulgada.
O QUE ACONTECEU
Brian Thompson, 50, estava em frente ao Hilton de Midtown, onde ocorria uma conferência de investidores. Thompson faria uma apresentação no evento e foi atingido pouco antes das 7h (9h, no horário de Brasília).
Policiais tentaram reanimar Thompson e o levaram a um hospital, onde a morte foi confirmada. "Estamos profundamente tristes e chocados com o falecimento de nosso querido amigo e colega Brian Thompson, diretor-executivo da UnitedHealthcare", disse a empresa em comunicado.
O chefe dos detetives da Polícia de Nova York, Joseph Kenny, informou que o atirador chegou ao local a pé cinco minutos antes de Thompson. O CEO caminhava sem seguranças em frente ao hotel. A esposa da vítima afirmou à TV NBC que o marido tinha recebido ameaças recentes.
O suspeito do crime foi preso na última segunda-feira (9). Luigi Mangione estava na região de Altoona, Pensilvânia, a 375 quilômetros de distância de Nova York, em uma unidade da lanchonete McDonald's. Embora tenha sido denunciado por semelhança com as fotos divulgadas pela polícia de Nova York em relação à morte de Thompson, Mangione foi detido por apresentar um documento falso de Nova Jersey e por posse ilegal de arma.
Na última terça-feira (10), Mangione protestou ao chegar no Tribunal do Condado de Blair, onde passou por audiência. Algemado e vestido com uniforme laranja, o suspeito saiu nervoso de uma viatura. "É um insulto à inteligência do povo americano e sua experiência de vida", gritou.
Mangione teria escrito "manifesto" contra seguradoras de saúde. O documento escrito à mão criticava as empresas por colocarem o lucro acima do cuidado com os clientes. O jovem apontava ainda sua motivação e interesses, segundo a comissária de polícia Jessica Tisch.
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