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Rebeldes queimam o túmulo do pai de Assad na Síria

Por Folha de São Paulo

11/12/2024 13h30 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Rebeldes sírios incendiaram o mausoléu de Hafez al-Assad, o ditador que iniciou a dinastia encerrada no domingo passado (8) com a fuga de seu filho e sucessor, Bashar, para a Rússia.

Segundo a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos, baseada no Reino Unido, o ataque ocorreu nesta quarta (11) na cidade de Qardaha, onde o ditador nasceu. Imagens obtidas pela agência France Presse mostram combatentes não identificados no prédio com pontos de incêndio, em torno do túmulo de Hafez (1930-2000).

Ele fica no centro de um grande salão que evoca uma mesquita. Além dele, está enterrado no local seu filho Bassel, o primogênito de Hafez que era considerado seu sucessor natural, mas que morreu em um acidente de carro em 1994, aos 32 anos.

Bassel dá nome ao aeroporto que, a 10 km dali, tornou-se a principal base aérea de Vladimir Putin fora da Rússia, em Hmeimim. A manutenção do local e do porto de Tartus, a 60 km dali, é a preocupação central de Moscou na esteira da queda de seu aliado.

Não está claro se os rebeldes são da HTS (Organização para a Libertação do Levante), grupo que liderou a ofensiva de 12 dias que pôs fim à ditadura.

Hafez governou com mão de ferro de 1971, quando deu um golpe militar e consolidou-se como único líder do país, até 2000, quando morreu de um ataque cardíaco.

Personalista, ele estimulou um culto à sua figura que foi seguido pelo filho, que aos 34 anos assumiu o poder de forma inconstitucional até para o padrão da ditadura, que exigia ao menos 40 anos para o cargo nominal de presidente.

Qardaha é uma das cidades de maior concentração de alauitas, o ramo do islamismo ao qual à família Assad é ligado, na região de Latakia. Os alauitas são minoritários, compondo entre 10% e 13% da população síria, mas dominam o Exército e as estruturas de poder deixadas por Assad.

Isso agora vai mudar com a transição anunciada como pacífica, mas imersa em diversas dúvidas. Também nesta quarta, o líder da HTS, Ahmed al-Sharaa, disse que a anistia anunciada aos militares do regime anterior não será estendida àqueles envolvidos em torturas e crimes de guerra.

Como o critério será definido por quem está no poder, é impossível saber a essa altura se haverá uma extensa caça às bruxas ou algum tipo de acomodação. A HTS, egressa da Al Qaeda, é considerada uma organização terrorista pela ONU, EUA, União Europeia e Rússia, um raro consenso.

Apesar da moderação retórica de Sharaa, que abandonou o nome de guerra Abu Mohammed Al-Jolani, ainda há bastante cautela. Na terça (10), ONU e EUA alinharam o discurso e condicionaram a retirada do rótulo da HTS às suas ações na prática.

No centro das atenções está a Turquia, que bancou a ofensiva da HTS e de grupos rebeldes seculares baseados no norte sírio. A vitoriosa Ancara, que é membro da aliança militar ocidental, a Otan, será cobrada pelo comportamento de seus aliados.

O foco de atrito principal é o papel dos curdos, cuja autonomia no nordeste da Síria é combatida pelos turcos. O governo de Recep Tayyip Erdogan considera que as milícias curdas sírias não se distinguem daquelas que operam ações terroristas e separatistas na própria Turquia.

Por ora, o poder foi entregue a um premiê interino de confiança dos rebeldes, Mohammed al-Bashir, sem grandes incidentes. Mas pontos de tensão tendem a se multiplicar, como a queima do túmulo de Hafez mostra, além do risco sempre presente de fragmentação das frágeis alianças entre rebeldes.

Há outras questões, mais comezinhas. Os bancos ainda não estão reabertos, apesar das promessas das autoridades, e o câmbio nas ruas está descontrolado. Segundo o jornalista local Mohammad Mansour disse por mensagem de texto, é possível encontrar a libra síria por valores que vão de 15 mil a 25 mil por dólar.


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