Rotina de Francisco em Buenos Aires incluía viagem de metrô e mate nas vilas
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BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Antes de se tornar o papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio viveu no microcentro de Buenos Aires, em um pequeno edifício ao lado da catedral da cidade, que fica a alguns passos da Casa Rosada, a sede da Presidência da Argentina.

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Mantinha o hábito de ler o diário La Nacion, que recebia em casa diretamente de uma banca que ficava em frente à catedral. Em uma segunda-feira de março de 2013, telefonou para o local para avisar que não poderia mais receber a edição, já que passaria a viver no Vaticano.
"Entrei em choque, comecei a chorar, não sabia o que dizer a ele", contou há 12 anos ao La Nacion o filho do dono da banca de jornais e que atendeu a ligação, Daniel del Regno, após a confirmação de Bergoglio como novo papa. "Ele me agradeceu pelo tempo em que trouxemos o jornal e mandou lembranças para a minha família."
Quando não estava em suas atividades religiosas, o argentino saía pelas ruas do centro para tomar um café com um amigo, ia visitar a irmã María Elena ou circulava pela cidade de transporte público. Um dos principais destinos era o seu bairro de origem, Flores.
Vendedor em uma loja de colchões na avenida Rivadavia, ao lado da basílica, José Luis Gómez, 40, diz se lembrar das vezes em que viu o então arcebispo da capital argentina andar pelo bairro. "O metrô ainda nem chegava em Flores, mas meus pais pegaram o trem com ele mais de uma vez. Viajava como um passageiro qualquer, sem seguranças, e as pessoas se aproximavam para conversar. Quem não o reconhecia podia pensar que era mais um aposentado voltando para casa."
Francisco contava que teve a revelação em que descobriu sua vocação religiosa na Basílica de San José de Flores, aos 17 anos. Ao entrar na igreja para se confessar antes de sair de férias com um grupo de amigos, ele dizia ter recebido um chamado divino.
O taxista Leon Casares, 65, conta que o religioso visitava seus vizinhos na Villa 21-24, em Barracas. "Muitos tinham medo de entrar, ele ia a pé pelas ruelas e tomava mate com as famílias, tinha um forte vínculo com a comunidade, que o cuidava e valorizava."
Fanático pelo San Lorenzo, Francisco tornou-se torcedor honorário do clube de futebol em 2008. Em 2011, quando a equipe corria risco de ser rebaixada, foi inaugurada uma nova capela na sede, com uma homilia celebrada por Francisco. Em seus últimos anos antes de ir para Roma, ele já não frequentava o estádio do clube.
Ao longo de seu pontificado, ele repetiu diversas vezes que sentia falta de circular pela capital argentina. "O que mais sinto falta nesta Diocese [de Roma] é de não poder mais andar pelas ruas, como fazia em Buenos Aires, andando de uma paróquia para outra", escreveu em uma carta em resposta a um jornalista espanhol.
"Sinto saudades de sair às ruas, isto sim eu desejo, a tranquilidade de andar na rua, ou ir a uma pizzaria para comer uma boa pizza. Sempre fui 'da rua'", contou ao jornal argentino La Voz del Pueblo, em 2015.

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