Soldado de Israel mirado pela Justiça no Brasil diz que fugir foi 'tiro no coração'
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O soldado de Israel Yuval Vagdani, alvo da Justiça brasileira depois de ser acusado de crimes de guerra, disse nesta quarta-feira (8) à imprensa de seu país que ser forçado a fugir do Brasil "foi como tomar um tiro no coração".
Vagadni chegou a Israel nesta quarta depois de deixar o Brasil pela Argentina, tendo cruzado a fronteira com ajuda do Ministério de Relações Exteriores de Israel, segundo a emissora Channel 12. Depois, voou até Miami, nos Estados Unidos, e de lá até Jerusalém.
O militar fugiu do Brasil depois que veio a público a decisão da Justiça Federal em Brasília determinando a abertura de um inquérito da Polícia Federal contra si. A presença de Vagdani em território nacional foi exposta pelo grupo pró-Palestina Hind Rajab.
Segundo a entidade, Vagdani teria, por meio de posts em redes sociais, documentado a si mesmo cometendo crimes de guerra na Faixa de Gaza ao lutar na guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas.
Uma publicação atribuída ao soldado fala em "continuar destruindo e esmagando este lugar imundo sem pausa, até os seus alicerces", escrita logo abaixo de imagens supostamente captadas por ele em uma das regiões de Gaza ocupadas pelas forças israelenses.
Conversando com a imprensa no aeroporto internacional Ben Gurion, Vagdani relatou as horas que se seguiram depois que o caso veio à tona. "Acordei de manhã, liguei meu celular e de repente vi oito chamadas: do Ministério das Relações Exteriores, dos meus irmãos, da minha mãe. Eu sabia que tinha algo de errado."
O militar acrescentou que viajar ao Brasil era um sonho para o qual havia se planejado por mais de quatro anos, mas que não voltará ao país.
Na peça enviada à Justiça brasileira, Vagdani é acusado pela Hind Rajab de condutas como "destruição e apropriação de bens em larga escala em circunstâncias não justificadas por quaisquer necessidades militares e executadas de forma ilegal e arbitrária" e "dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou a civis que não participem diretamente das hostilidades".
Vagdani nega as acusações, e disse à imprensa israelense que "eles escreveram que eu matei milhares de crianças, quando na verdade só tinham uma foto minha de uniforme em Gaza."
Nesta quarta, dias após o caso de Vagdani no Brasil, o Exército de Israel atualizou suas diretrizes de censura da imprensa em relação à cobertura da guerra e agora vai exigir que veículos ocultem a identidade de todos os soldados abaixo da patente de general de brigada.
Toda a imprensa israelense é sujeita à censura militar, e jornalistas que se recusam a submeter matérias para análise do censor podem perder o direito de exercer a profissão no país. Até aqui, a imprensa já era obrigada a borrar o rosto e ocultar o nome de qualquer soldado em atuação na guerra em Gaza. Com as novas diretrizes, essas exigências passam a valer inclusive em entrevistas diretas com os militares.
A imprensa também não poderá informar se os soldados entrevistados participaram de operações específicas na guerra.
Apesar da nova medida, as Forças Armadas de Israel pouco fizeram para coibir o uso das redes sociais por militares -é através dessas postagens, que muitas vezes incluem tratamento degradante de palestinos ou destruição de propriedade, que entidades como a Hind Rajab identificam soldados que cometem supostos crimes de guerra.
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