'Tanta destruição', diz Biden sobre governo Trump sem mencioná-lo diretamente

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Alvo de ataques frequentes feitos por Donald Trump em seus quase cem dias de governo, o ex-presidente Joe Biden, 82, voltou ao debate político dos Estados Unidos nesta terça-feira (15) para defender o legado que deixou e devolver críticas à gestão do republicano, ainda que sem mencioná-lo diretamente.
"Em menos de cem dias, este novo governo causou tanto dano e destruição. É de tirar o fôlego", afirmou Biden num evento para defensores de pessoas que recebem seguridade social, em Chicago.

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Foi o principal discurso de Biden após ele deixar a Casa Branca, em janeiro. E a primeira vez que o ex-presidente comentou as políticas do atual governo. No ano passado, o democrata foi pressionado a retirar a candidatura à reeleição devido a questionamentos sobre sua saúde mental. Desde então, tem adotado discrição.
O foco do ex-presidente em seu discurso foi a Previdência Social, área já considerada estratégica pelos democratas para reverter a maioria republicana no Congresso em 2026, quando ocorrem as chamadas midterms, as eleições legislativas na metade do mandato do chefe do Executivo.
Biden disse que o setor foi manchado pelo governo Trump. De forma contundente, o democrata criticou a demissão de funcionários e disse que a medida provocou disrupções no sistema previdenciário americano. É uma política, segundo ele, que destoa da implementada em seu governo.
A Administração de Seguro Social (SSA) planeja demitir 7.000 funcionários e fechar escritórios para se adequar a decreto de Trump que determina corte de gastos. O enxugamento da máquina pública é coordenado pelo Doge (Departamento de Eficiência Governamental), com Elon Musk à frente.
No mês passado, uma juíza federal concluiu que a SSA provavelmente violou leis de privacidade ao dar à equipe de Musk acesso irrestrito a milhões de dados dos cidadãos americanos. Ela ordenou a suspensão imediata de qualquer compartilhamento de registros com o departamento liderado pelo empresário.
"A Previdência Social é mais do que um programa do governo, é uma promessa sagrada que fizemos", disse Biden. "Nós nunca, jamais, devemos trair essa confiança ou virar as costas para essa obrigação."
O governo Trump diz que os cortes são necessários para conter desperdícios e eliminar fraudes. Afirma ainda que planeja impor medidas mais rigorosas para verificar a identidade dos beneficiários.
"Quem eles pensam que são?", perguntou Biden ao criticar os republicanos, acusando-os de tentar esvaziar a Previdência.
"Eles estão atirando primeiro e mirando depois. Querem destruir tudo para depois saquear. Por que saquear? Para dar cortes de impostos a bilionários e grandes corporações", continou.
Antes mesmo de Biden discursar, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, já havia comentado o assunto mais cedo nesta terça, como uma forma de se precaver de críticas. Ela afirmou que o atual governo vai proteger os direitos dos aposentados. Aproveitou a ocasião também para alfinetar Biden.
"Pensei que sua hora de dormir fosse muito mais cedo", disse ela, em tom irônico. O discurso do democrata começou às 17h10 no horário local (19h10 em Brasília).
Em seu governo, o presidente Trump tem responsabilizado o antecessor por problemas em diferentes áreas, da alta da inflação aos conflitos na Faixa de Gaza e na Ucrânia. Durante encontro com seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelenski, em março, afirmou que o democrata foi um "presidente estúpido".
Já a oposição dos democratas a Trump tem sido apontada como frágil na maioria das frentes. O discurso de Biden, neste contexto, indica um novo comportamento das lideranças do partido. No começo do mês, Barack Obama e Kamala Harris, ex-presidente e ex-vice, respectivamente, também dispararam críticas ao republicano, em eventos separados.
Obama mencionou os esforços de Trump para remodelar o governo federal, reprimir a imigração e intimidar a dissidência. Ele afirmou que as tarifas impostas pelo republicano a vários países "não serão boas" para Washington. Mas a sua maior preocupação, enfatizou, é o que ele chamou de violação de direitos por parte da Casa Branca.
Kamala, por sua vez, disse que a volta de Trump à Presidência criou "grande sensação de medo", o que inibe manifestações contrárias ao governo. Ela foi derrotada pelo republicano nas eleições de novembro.
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