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Trump diz entender motivação russa para Guerra da Ucrânia

Por Folha de São Paulo

07/01/2025 17h45 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira (7) que entende a principal razão alegada pela Rússia para invadir a Ucrânia em 2022: a noção de que o país do Leste Europeu pudesse entrar na Otan, a aliança militar comandada por Washington.

A fala é mais uma sinalização sombria para Kiev, que já teme a volta do republicano ao poder como um marco que a forçará a negociar sob termos que possam ser favoráveis a Vladimir Putin -sobre quem Trump disse lamentar não poder se encontrar antes da posse, no dia 20.

"Uma grande parte do problema [da guerra] é que a Rússia, por muitos, muitos anos, antes de Putin, dizia: 'Você não pode ter a Otan envolvida com a Ucrânia'. Era algo, tipo, escrito em pedra", afirmou.

"Em algum ponto no caminho [o presidente Joe] Biden disse: 'Não, eles deveriam poder entrar na Otan'. Bom, aí a Rússia teria alguém à sua porta, e eu posso entender como eles se sentem sobre isso", completou.

Trump falava na caudalosa entrevista coletiva que concedeu em Mar-a-Lago, na Flórida. Nela, deu dicas algo delirantes de seus desígnios geopolíticos ao dizer que não descarta uso da força para reaver o canal do Panamá ou tomar a Groenlândia, além de voltar a sugerir a anexação do Canadá.

A questão do incômodo russo com a Otan na Ucrânia, contudo, é um tema mais complexo. Ao longo dos anos, Putin advertiu a aliança sobre o risco de expandir-se ainda mais a leste do que já havia ido após o fim da União Soviética, em 1991. Ele afirma que não foi ouvido, enquanto seus críticos o acusam de imperialismo.

Trump erra em colocar a responsabilidade política em Biden. Em 2008, a Otan disse que aceitaria a candidatura da Ucrânia e a Geórgia, ainda que de forma diluída para não melindrar demais Putin.

Disso resultou uma guerra no país do Cáucaso no ano seguinte e o processo, estimulado pela derrubada do governo pró-russo de Kiev em 2014, que desembocou no conflito atual.

Além disso, se Biden pode ser creditado por relutantemente ter tornado os EUA o maior apoiador militar dos ucranianos, ele também é um dos líderes mais cautelosos --até o fim do ano, vetava qualquer uso de armas americanas contra solo russo e nunca considerou autorizar tropas da Otan na guerra.

Seja como for, a fala de Trump é um aperitivo de como será sua relação com a aliança de 32 membros que, numa derrota estratégica de Putin, expandiu-se com a entrada dos nórdicos Finlândia e Suécia devido justamente à invasão da Ucrânia.

O presidente eleito também retomou uma de suas pedras de toque no primeiro mandato (2017-2021): quer que a Europa gaste mais com defesa. Já tem um número mágico à mão: 5% do PIB (Produto Interno Bruto) com a área militar.

"Todos eles podem pagar, mas eles deveriam estar em 5%, não em 2%", disse, em referência à meta estabelecida em 2006. Hoje, os EUA gastam 3,38% do maior PIB do mundo com defesa, equivalendo a 41% de todo o dispêndio militar do planeta. Proporcionalmente, o país que mais gasta na Otan é a Polônia, com 4,12% em 2024, mas até a recalcitrante Alemanha vai passar dos 2% neste ano.

A pressão de Trump, aliada ao seu desengajamento de compromissos da aliança no primeiro mandato e, depois, à agressão russa à Ucrânia, geraram uma mudança no cenário. Se em 2014 só três dos então 28 membros da Otan cumpriam a meta, agora são 23 de 32 integrantes.

Para ele, contudo, será difícil manter a ideia de foco total na China com o conflito em solo europeu em curso. Ele disse que que espera ajudar a encerrar a guerra "antes de seis meses" de seu mandato. "Olha, a Rússia está perdendo um monte de jovens, assim como a Ucrânia; isso nunca deveria ter começado."

De seus lados, Putin e o ucraniano Volodimir Zelenski seguem a estratégia de tentar estar em posições favoráveis em caso de negociações. O russo segue avançando para completar a conquista de territórios no leste do vizinho, enquanto Kiev confirmou nesta terça que irá insistir na sua nova ofensiva na região russa de Kursk, que tem mais efeito simbólico numa eventual conversa de paz.


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