Anjos de farda na fronteira do Brasil com a Venezuela
Exército, Marinha e FAB em Boa Vista e Pacaraima ajudam sem pensar em reconhecimento. Travam uma guerra contra a falta de recursos e o preconceito. São combatentes pela paz e pela liberdade. Essa é a guerra deles. A guerra pela humanidade, pela solidariedade e pela justiça.
Conheci muitos homens e mulheres de farda que largaram suas famílias, passando meses fora de casa para ajudar pessoas anônimas, gente de outro país, falando outra língua, mas com sonhos que o Brasil quer preservar como exemplo para o resto do mundo.
Por Maria de Nazaré Lima Menezes
Administradora Pública
Há vinte dias me instalei em um Hotel de Boa Vista, Roraima, saindo da minha zona de conforto para descobrir o que se passava em um dos Estados do Norte do Brasil, ponto de chegada de refugiados procedentes da Venezuela.
Depois de vinte dias fui surpreendida com matéria onde dizia: “Brasil olhe por Boa Vista”, contendo relatos de que os refugiados estavam causando desconforto aos habitantes do Estado: “Hospitais lotados, cidade transformado em um caos e recursos sendo empregados no apoio aos venezuelanos, em detrimento dos brasileiros.”
Mas vou falar agora o que vi, não por que alguém me disse ou contou a realidade local. Percorri a cidade, conheci os abrigos, a Igreja Católica Consolata - que faz seu papel solidário ajudando os refugiados, e ouvi os que de certa maneira se envolveram no problema, jovens engajados em ajudar, a ONU através da ACNUR (O alto comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) juntos buscando soluções.
Acredito de fato que o Brasil é maior que tudo isso, e que podemos banir o preconceito contra pessoas que cruzam a fronteira em busca de socorro.
Mas para haver mudanças tem que haver esclarecimento da sociedade em geral. Nenhuma pessoa de bem pode se permitir ser manipulada por blogs com viés político, ou com as fake News que se espalham pela internet. Esse é o primeiro passo.
Boa Vista tem 284.313 habitantes, segundo dados do IBGE, a economia do Estado tem como principais atividades a Agropecuária e a Mineração e metade da população trabalha em órgãos Públicos.
O que me deixou mais perplexa é que mesmo tendo uma população relativamente pequena, os escândalos de corrupção também estão aqui. Um ex-governador preso, o senador Jucá envolvendo na Lava jato, a Prefeita de Boa Vista processada e condenada.
Uma governadora que briga pelo fechamento da fronteira apenas para impedir que perseguidos pela fome e pelo poder politico na Venezuela entrem no Brasil, faz apologia a xenofobia. Pior, ela proíbe atendimento médico aos Venezuelanos que jia estão em território brasileiro e ainda cobra do Governo Federal valores estrondosos baseados em alegações de gastos que precisam ser investigados. Em Boa Vista, antes dos Venezuelanos chegarem, a saúde já estava um caos e a corrupção já imperava.
Ao invés de tudo girar em torno de interesses políticos e com isso fazer com que pessoas sofram, façamos melhor: sejamos solidários.
Eu vi em Boa Vista os esforços das Forças Armadas recorrendo a União e nem sempre obtendo êxito, mesmo assim buscando soluções, sem o devido apoio do Estado e do Município. As forças Armadas, juntamente com a ONU montaram nove abrigos temporários para mais de 4 mil refugiados.
Conheci muitos homens e mulheres de farda que largaram suas famílias, passando meses fora de casa para ajudar pessoas anônimas, gente de outro país, falando outra língua, mas com sonhos que o Brasil quer preservar como exemplo para o resto do mundo.
Exército, Marinha e FAB em Boa Vista e Pacaraima ajudam sem pensar em reconhecimento. Travam uma guerra contra a falta de recursos e o preconceito. São combatentes pela paz e pela liberdade. Essa é a guerra deles. A guerra pela humanidade, pela solidariedade e pela justiça.
Falo isso por que estou vivenciando e antes não podia sequer ouvir falar em militares. Sim, tinha preconceito, consequência do que havíamos ouvido falar dos governos militares instalados no Brasil a partir de 1964. Aprendi que as Instituições evoluem e que não podemos julgar ou generalizar. Em todo lugar existirá sempre pessoas de boa e má índole. Temos, antes de mais nada, que sair da zona de conforto e formar nossa própria opinião.
Para mim hoje aqui em Boa Vista e Pacaraima os verdadeiros Anjos estão fardados.
ASSUNTOS: Exército Brasileiro, refugiados, Amazonas