Quando suco com bolacha provoca discussão política
Vereador Professor Samuel (PSD) e vereadora Professora Jacqueline (União Brasil). Na quarta-feira 22, ela falou que algumas escolas estavam recebendo apenas suco e bolacha para a merenda dos alunos. Ele, em resposta, disse que “merenda não é almoço”. A expressão chamou tanto a atenção da mídia, que serviu de manchete em muitos veículos de notícias. Registre-se que, mesmo com tamanha polêmica, a vereadora Professora Jacqueline não citou nome das escolas e também ninguém perguntou. O vereador Professor Samuel, conforme noticiado, completou a frase: “Eu não posso querer botar, encher de proteína e tal e tal. Senão ele chega em casa e nem almoça. Eu não sou contra que se coloque (proteína), mas de repente serve-se uma bolacha com suco, um biscoito. Por que não?”
Não precisava de mais nada para o assunto “viralizar”, salvo acrescentar que o vereador Professor Samuel é presidente da Comissão de Educação da CMM (Câmara Municipal de Manaus) e o discurso da vereadora Professora Jacqueline também incluiu outros problemas na pasta de educação municipal. Ainda na mesma sessão legislativa, o vereador Lissandro Breval (PP) definiu o argumento do colega como “assustador”. “Normatizar bolacha e suco na merenda escolar, isso me assusta. Outra colocação que me assusta é dizer que merenda é merenda e almoço é almoço. A gente sabe que mais de 70% das crianças que vão à rede pública municipal, muitas vezes, estão naquela quantidade de famílias abaixo do IDH com problemas de segurança alimentar, e não têm o que comer”, afirmou Lissandro Breval.
No site da CMM, a manchete: “Breval disse que não se pode normatizar a entrega de alimentos como suco e bolacha, tendo em vista a situação de pobreza de muitas famílias da capital amazonense”. A coluna pinçou algumas manchetes: “Vereador diz que bolacha com suco é suficiente para alimentar alunos em Manaus”; “Vereador de Manaus defende suco com bolacha em escolas: merenda é merenda, não é almoço”; “Vereador diz que merenda não é almoço e bolacha com suco é suficiente para alunos em Manaus”; “Vereador de Manaus defende ´bolacha com suco´na merenda escolar”; “Merenda é merenda, não é almoço”, diz vereador sobre suco com bolacha nas escolas”; “Vereador gera polêmica ao falar sobre merenda escolar na CMM: ´Merenda é merenda, não é almoço´”; “É merenda e não almoço”, diz vereador Prof. Samuel ao defender suco com bolacha no lanche escolar”.
É ALMOÇO OU MERENDA?
Até onde foi possível verificar, no noticiário sobre a questão aqui abordada, nenhuma escola foi mencionada no discurso da vereadora Professora Jacqueline. São 41 vereadores na CMM, não se sabe quantos estavam presentes na ocasião, mas se algum deles quis saber o nome das escolas, não ficou registrado. O noticiário sobre o assunto também não cita escolas. Não se ouviu administradores da Secretaria de Educação. Gestores, alunos e pais de alunos poderiam ter sido ouvidos, caso se soubesse nome e endereço das escolas. Teve veículo de comunicação que entrevistou nutricionista, com as respostas esperadas sobre a importância da boa alimentação etc.
Este portal divulgou a notícia na quinta-feira 23, da mesma forma que outros sites, incluindo o da própria CMM. Todos explicando que a discussão havia acontecido no dia anterior. Portanto, além do que disseram os vereadores, a Redação deste portal poderia ter colocado em pauta, por exemplo, pedir mais esclarecimentos da vereadora Professora Jacqueline a respeito da sua denúncia. Do jeito que está, o leitor não sabe em quais escolas os alunos têm merenda de apenas suco e bolacha, desde quando começou o problema, a opinião dos gestores, qual a justificativa da autoridade competente. Mas, se perguntar, alguém pode até explicar a diferença entre merenda e almoço nas escolas municipais de Manaus. E até quando foi criado o programa de merenda escolar no Brasil e no Amazonas.
Sobre esse caso, até o fechamento desta coluna não foi possível conseguir respostas para todas as perguntas que devem ser respondidas em qualquer mensagem na comunicação/informação: o que, quem, onde, como, por que e para que. Sem essas respostas, a mensagem fica incompleta.
Sempre.
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