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Gleisi mescla articulação no Congresso e embate com governadores no 1º mês no ministério

Por Folha de São Paulo

10/04/2025 15h00 — em
Política


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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Escolhida para exercer a função de principal articuladora política do governo Lula (PT), a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) tem desempenhado um papel que mescla negociações nos bastidores com partidos no Congresso Nacional e um enfrentamento público com governadores de oposição e o bolsonarismo.

O cargo ocupado por Gleisi exige diálogo especialmente com o Legislativo, hoje chefiado por Hugo Motta (Republicanos-PB), na Câmara, e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), no Senado. A principal atribuição da SRI (Secretaria de Relações Institucionais) é ajustar a recepção de projetos de interesse do Executivo, o nível de prioridade que cada um terá e os votos necessários para aprová-los.

Desde que chegou ao posto, há um mês, Gleisi teve êxito na articulação da votação e aprovação do Orçamento 2025 (travado desde dezembro) e na redução de resistências ao projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 e à PEC (proposta de emenda à Constituição) da Segurança Pública.

Necessário para fixar as despesas da União ao longo do ano, o Orçamento não tinha sido votado dentro do prazo devido ao impasse entre os três Poderes sobre as emendas parlamentares. Para destravar a LOA (Lei Orçamentária Anual), Gleisi fez um acordo pelo pagamento de mais de R$ 6 bilhões em emendas.

No caso da PEC da Segurança, a proposta de que seria enviada ainda em abril foi concretizada na terça-feira (8), após encontro entre ela, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e representantes do Congresso.

Em paralelo, Gleisi manteve tom considerado combativo, que se tornou uma marca ao longo de sua passagem pela presidência no PT.

Um dos alvos mais recorrentes é Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo e cotado para as eleições presidenciais em 2026.

Tarcísio havia questionado, em manifestação realizada em março pela anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, o motivo de terem tornado Bolsonaro inelegível: "É medo de perder a eleição?". Como resposta, Gleisi disse que Lula sempre respeitou os resultados de suas derrotas em eleições e que Bolsonaro é quem tinha medo da cadeia.

Na ocasião, o governador também culpou o governo Lula pela alta da inflação de alimentos, ao afirmar que "prometeram picanha e não tem nem ovo". Gleisi, por sua vez, rebateu relembrando os índices de inflação da época de Jair Bolsonaro (PL), em que Tarcísio era ministro da Infraestrutura.

"Qual vai ser a contribuição do governador Tarcísio para reduzir o preço dos alimentos no estado que governa?", questionou.

Os governadores de Minas, Goiás, Rio e Rio Grande do Sul também foram "cobrados" por Gleisi, que afirmou que nenhum deles agradeceu a Lula pelo pagamento das dívidas dos estados. O posicionamento acompanha o do presidente, que meses antes os chamou de "ingratos".

Um dia após se reunirem no Palácio do Planalto, na sexta-feira (4), Gleisi e Cláudio Castro (PL), governador do Rio de Janeiro, travaram embate via redes sociais. Ele acusou o governo federal de não dar suporte ao estado com as fortes chuvas que enfrentaram no último final de semana.

"Lamento que o governador Claudio Castro queira fazer exploração política de um desastre que afeta a vida de centenas de pessoas. Ao contrário do que ele disse, o governo federal não se se omitiu diante das fortes chuvas no Rio neste fim de semana", escreveu Gleisi.

Na publicação, ela afirmou que havia sido assinado pelo governo federal o reconhecimento de situação de emergência nos municípios, para garantir o apoio federal na assistência às vítimas e na recuperação dos danos.

Em alguns momentos, Gleisi chegou a bater de frente com nomes de partidos que integram o governo, como com Gilberto Kassab, presidente do PSD, sigla de três ministros de Lula –Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e André de Paula (Pesca).

"Com todo o respeito, eu acho que Kassab está muito injusto com o presidente Lula, que ele conhece tão bem e há tanto tempo", disse à CNN Brasil, ao ser questionada sobre a fala do presidente do partido de que Lula estaria repetindo os erros de Bolsonaro e fazendo um governo "mais à esquerda".

Ao assumir a nova posição, Gleisi também manteve suas críticas à família Bolsonaro, como ao filho 03 do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que pediu licença do cargo para morar nos Estados Unidos, alegando perseguição política. Em mais de uma ocasião, Gleisi tachou a atitude como vitimismo e "encenação".

Desde sua posse, Gleisi também fez declarações contra a misoginia na política. A reforma ministerial que inseriu a ex-presidente do PT na equipe ocorreu em um contexto em que o machismo foi tema das discussões sobre as mudanças na equipe do governo.

A cerimônia também empossou na Saúde Alexandre Padilha (PT) no lugar de Nísia Trindade, que mencionou ter sofrido machismo político durante seu mandato. A fala foi acompanhada por Gleisi, ao subir ao púlpito na sequência, queixando-se, brevemente, do machismo sofrido por Nísia e pela primeira-dama, Janja.

A defesa de Janja é outro ponto recorrente no discurso político de Gleisi, que também já sugeriu a criação de um cargo honorífico para a primeira-dama, função sem remuneração ou ligação com o Estado, mas que permitiria a participação da esposa do presidente com mais transparência –aspecto alvo de críticas às interferências e participações dela no governo.

Apesar da postura contrária a posicionamentos e declarações machistas, Gleisi não travou embates nem fez críticas públicas a Lula, autor de uma série de comentários dessa natureza.

No primeiro compromisso oficial dela como ministra, Lula afirmou que teria colocado uma "mulher bonita na articulação" para melhorar a relação com o Congresso.

Apesar de ter sido interpretada como uma resposta ao comentário feito na véspera pelo ex-presidente Bolsonaro, de que as mulheres petistas eram "feias e incomíveis", a declaração de Lula também foi lida pelo seu teor misógino. No dia, Gleisi saiu em defesa do presidente e disse que gestos valiam "mais que palavras".


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