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PL de Bolsonaro recua de emparedar deputados por anistia e mira próxima semana

Por Folha de São Paulo

09/04/2025 13h00 — em
Política


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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O PL de Jair Bolsonaro calcula agora que deve chegar na próxima semana às 257 assinaturas de deputados necessárias para solicitar que o projeto de lei que pede a anistia de presos nos atos golpistas de 8 de janeiro vá direto para o plenário.

O requerimento de urgência, como é chamado, tem o apoio de 213 parlamentares. Mas, segundo avaliação de parlamentares ouvidos reservadamente, o convencimento tem sido lento nesta reta final.

Após uma semana de obstrução de votações na Câmara, do ato na avenida Paulista com discursos mirando o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e da promessa de divulgação dos nomes de indecisos, o partido decidiu recuar da estratégia de emparedamento.

A lista de nomes e rostos dos que não apoiaram o documento seria uma forma de aumentar a pressão da militância em cima desses parlamentares —algo que desagrada muito os deputados.

Reportagem da Folha já havia mostrado o partido recalibrando a pressão e organizando a força-tarefa. A reunião de vice-líderes da oposição, ocorrida na manhã de terça (8) na casa de Zucco (PL-RS) com a presença de Bolsonaro, sacramentou a nova estratégia.

Segundo relatos, o ex-presidente e os parlamentares receberam avaliações de que a obstrução da semana passada deixou muitos deputados que poderiam ter assinado o requerimento de urgência contrariados, sobretudo pela paralisação nas comissões. Os presidentes de colegiados também demonstraram muita irritação.

A obstrução consiste no uso de manobras regimentais para impedir ou protelar votações no Congresso.

Assim, a leitura é de que era preciso adotar uma estratégia menos ostensiva e mais no varejo. Cada parlamentar tem feito um esforço de buscar deputados de sua bancada estadual que ainda não estão convencidos para pedir apoio.

Para isso, contam também com o apoio dos governadores que estiveram presentes no ato de domingo. Bolsonaro, no encontro, elogiou o discurso de Altineu Côrtes (PL-RJ), vice-presidente da Casa, que afirmou no ato que Motta "será pautado pela maioria da Câmara dos Deputados".

Depois, o parlamentar chamou um a um dos sete governadores no carro de som para perguntar se os seus partidos apoiavam à pauta, a que todos responderam "sim".

Em outra frente, Sóstenes foi para o aeroporto recepcionar os parlamentares que chegavam a Brasília na terça para pedir apoio ao requerimento de urgência. O PL também contratou pessoas para coletarem assinaturas com camisetas de "anistia, já".

Para que o partido possa pleitear a análise do texto direto no plenário na próxima semana, deve apresentá-lo na reunião de líderes nesta quinta-feira (10) de manhã, o que hoje eles veem como improvável.

Reservadamente, deputados empenhados em buscar o apoio calculam que na próxima semana será possível concluir a lista. E alguns defendem que, se faltar pouco e estiver difícil converter indecisos, que sejam divulgados nomes.

Mesmo sem essa pressão de um placar publicado pelo partido, muitos deputados de centro já têm se queixado de pressão nas redes sociais e de pessoas cobrando um posicionamento.

Ainda que consigam as 257 assinaturas na próxima semana, não há garantia de que o presidente da Casa paute o projeto no plenário. Bolsonaro teria dito a deputados que houve essa promessa e aguarda o seu cumprimento.

Mas aliados de Motta dizem que a subida de tom contra ele na manifestação de domingo afastou ainda mais uma possibilidade de boa vontade com o projeto, porque pareceria que ele cedeu à pressão. A interlocutores ele tem dito que aguarda primeiro o PL conseguir as 257 assinaturas e, depois, decidirá.

Apesar de os deputados terem abaixado o tom, o pastor Silas Malafaia manteve as críticas a Motta. Nesta terça, atacou os requerimentos de urgência para projetos de interesse do Judiciário pautados no plenário. Ao contrário da anistia, a proposta tinha apoio da ampla maioria do colégio de líderes.

Malafaia disse que Motta "está a serviço de Alexandre de Moraes e Lula, que são contra a anistia", e que ele teria pautado esses projetos porque há investigação da Polícia Federal contra o pai dele e que busca se proteger.

O pastor se refere a uma operação na semana passada em Patos (PB), com mandados de busca e apreensão, para apurar suposta fraude licitatória e desvio de recursos públicos federais em contratos que somam R$ 6 milhões para a realização de uma obra no município. O prefeito da cidade, Nabor Wanderley Filho, é pai do presidente da Câmara.

Procurado por meio de sua assessora, Hugo Motta não quis comentar os ataques de Malafaia.

No domingo (6), coube ao pastor a fala mais dura contra ele. "Senhor presidente da Câmara, Hugo Motta, disse 'eu sou arbitro, juiz'. Só se for juiz iníquo, porque ele pediu para os líderes partidários para não assinar urgência do projeto de anistia", disse Malafaia em cima do carro de som.

"Espero, Bolsonaro, se Hugo Motta estiver assistindo isso aqui, que ele mude, porque você, Hugo Motta, está envergonhando o honrado povo da Paraíba."


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