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Quais processos e polêmicas pesam contra Guilherme Boulos e Marta Suplicy

Por Folha de São Paulo

19/08/2024 18h30 — em
Política



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) e sua vice na chapa, Marta Suplicy (PT), têm uma lista de polêmicas e processos judiciais que inclui a atuação do deputado federal no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e a gestão da petista na prefeitura.

Alguns dos casos foram resgatados por adversários no contexto da campanha.

**GUILHERME BOULOS**

CURRÍCULO DE PROFESSOR

Como mostrou a Folha de S.Paulo, Boulos enfatiza o currículo como professor desde os anos 2000 para rebater críticas de adversários que afirmam que ele nunca trabalhou, mas suas atuações na profissão se resumem a períodos esparsos, além de haver inconsistência em uma das experiências relatadas, com uma informação duplicada.

Desde a primeira experiência nas salas de aula, em 2006, até hoje, se passaram 18 anos. Em seu currículo, Boulos relata ter atuado como professor por aproximadamente metade desse tempo, em momentos intervalados. Apenas durante um ano e meio, porém, ele teve dedicação exclusiva, na rede estadual paulista.

Na última década, a principal atuação do hoje deputado sempre foi política. No entanto, ele afirma que não recebe e nunca recebeu nenhuma remuneração por parte do MTST.

Em nota, Boulos afirmou trabalhar desde 2006, quando passou a "atuar como professor de escola básica, professor convidado em cursos de especialização, pesquisador ou colunista de veículos da imprensa, sempre de forma remunerada".

ATUAÇÃO NO MOVIMENTO DE MORADIA E PROTESTOS

Os rótulos de invasor e radical têm ligação com a liderança de Boulos por mais de 20 anos no MTST. O hoje deputado coordenou invasões de terrenos e participou de manifestações tanto sobre a pauta da habitação como por outros temas sociais, políticos e econômicos.

Entre os episódios lembrados por adversários, está um protesto em que a fachada da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) foi depredada. Durante o ato, em 2016, Boulos disse: "A Fiesp defende a destruição do povo brasileiro. [...] Algumas vidraças quebradas não são nada perto do dano que a Fiesp faz para o povo trabalhador".

Em sabatina promovida pela Folha de S.Paulo e pelo UOL em julho, Boulos disse que a declaração foi dada "no calor da hora".

Outro protesto do MTST com presença de Boulos mencionado foi o que culminou na invasão do escritório do Ministério da Fazenda em São Paulo, em 2015, contra o ajuste fiscal da então presidente Dilma Rousseff (PT).

CASO DO TRÍPLEX DE LULA

Em fevereiro de 2021, Boulos virou réu sob acusação de ter invadido o tríplex em Guarujá (SP) ligado a Lula pela Operação Lava Jato em 2018. O então líder social se tornou alvo ao lado de outros dois integrantes do MTST e, embora não estivesse no local, foi acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de organizar e articular a ação, em protesto contra a prisão do petista.

Em junho do mesmo ano, a Justiça Federal trancou a ação penal, contemplando inicialmente Boulos. Os magistrados do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que julgaram o caso consideraram que não havia indícios mínimos que justificassem o seguimento do processo.

RELATÓRIO FAVORÁVEL A JANONES

Uma controvérsia recorrentemente lembrada por adversários é o relatório de Boulos que recomendou o arquivamento no Conselho de Ética da Câmara do processo por suspeita de "rachadinha" contra André Janones (Avante-MG).

O principal argumento foi que Janones ainda não tinha tomado posse quando foi gravado pedindo para auxiliares a devolução de parte do salário que eles receberiam na Câmara. O áudio da reunião, no entanto, indica o contrário.

Ele também deturpou uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) para justificar o voto.

Quando o assunto volta à tona, Boulos reitera que "rachadinha" é crime, mas repete o argumento sobre a jurisprudência.

CONDENAÇÃO E MULTA POR PROPAGANDA ANTECIPADA

Boulos e Lula foram condenados pela Justiça Eleitoral, em junho, por propaganda eleitoral antecipada, em virtude do pedido de voto no deputado feito pelo presidente durante evento do 1º de Maio na capital. O juiz impôs multas como pena, e ambos entraram com recurso.

"Ninguém derrotará esse moço aqui se vocês votarem no Boulos para prefeito de São Paulo nas próximas eleições", disse o petista na ocasião. "Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2006, em 2010, em 2018... 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo", continuou.

DETENÇÕES

Boulos já foi detido ao menos três vezes no contexto de atividades do MTST.

Em 2012, ele foi espancado e algemado sob a alegação de destruição de patrimônio público durante o processo de reintegração do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). O então coordenador do movimento foi solto após advogados do grupo pagarem R$ 700 de fiança.

Em 2017, Boulos foi conduzido para averiguação e liberado pouco depois, durante uma reintegração em São Mateus, na zona leste de São Paulo, numa área que cerca de 700 famílias ocupavam irregularmente. A justificativa foi desobediência.

Em entrevista à Agência Pública, em 2017, Boulos afirmou ter sido detido em "2003 ou 2004", durante uma desocupação em Osasco, mas não detalhou como o caso se encaminhou.

A assessoria do candidato confirma os dois primeiros casos, descrevendo ambas as detenções como indevidas, mas não se manifesta sobre o terceiro. Em nota, diz que Boulos "nunca foi condenado criminalmente em nenhum processo judicial" e que "todos os casos foram arquivados pela Justiça, reforçando a arbitrariedade e a ilegalidade das conduções".

**MARTA SUPLICY**

PASSADO NA GESTÃO MUNICIPAL

Prefeita de 2001 a 2004, Marta é relacionada até hoje à criação das taxas do lixo, da iluminação e do comércio, que renderam a ela o apelido de "Martaxa". Ela já disse ter se arrependido das medidas, citadas como responsáveis por sua derrota na tentativa de reeleição.

Na gestão de Marta, também houve acréscimo sobre o ISS (Imposto sobre Serviços) e mudanças na cobrança do IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana).

A gestão da petista também foi criticada pela construção de um túnel no cruzamento das avenidas Rebouças e Faria Lima. A inauguração, a um mês das eleições de 2004, teve congestionamentos e até atropelamentos. Dois meses depois, o túnel inundou e teve que ser interditado. A obra foi orçada em R$ 65 milhões, mas acabou custando R$ 97 milhões.

RUSGAS COM PT E BOULOS

Antes de retornar ao PT, neste ano, numa articulação de Lula para que ela fosse indicada pelo PT para a vice de Boulos, Marta estava rompida com o partido.

Ela deixou a sigla em 2015, após 33 anos, com críticas aos escândalos de corrupção e ao governo Dilma Rousseff (PT). Migrou para o MDB e, como senadora, votou pelo impeachment da presidente, chamado de golpe por petistas.

Na época da desfiliação, em meio às revelações de Operação Lava Jato, ela disse que se sentiu "traída" por uma sigla que rompeu "com todos os princípios éticos" para os quais foi criada.

Nunca cortou relações com Lula, mas já disse que o presidente foi "mentiroso e machista" em conversas interceptadas pela Polícia Federal.

Além de Dilma, um dos petistas mais contestados por Marta foi Fernando Haddad, hoje ministro da Fazenda. A candidata a vice já se referiu a ele, por exemplo, como "pior prefeito que São Paulo já teve".

PROCESSOS DA GESTÃO

Marta ainda enfrenta processos judiciais relativos ao período em que administrou a capital.

Segundo levantamento publicado em julho pelo jornal O Estado de S. Paulo, são cinco ações com acusações de dano ao erário e improbidade administrativa, em casos envolvendo dispensas de licitação e a permuta de uma área com uma empresa para a construção de casas populares.

Das ações movidas pelo Ministério Público de São Paulo, a ex-prefeita tem uma condenação em duas instâncias por suposto uso indevido de verba pública para realizar propaganda de sua gestão, de acordo com a reportagem. O processo tramita há 20 anos e está em fase de recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

A defesa da ex-prefeita sustenta que não houve dolo em nenhum dos casos investigados e afirma não haver elementos para eventual condenação.


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