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Reforma ministerial, INSS e Abin reforçam lista de desgastes de Lula

Por Folha de São Paulo

23/04/2025 22h45 — em
Política


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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ano de 2025 tem sido de desgastes no governo Lula (PT) em situações das mais diversas: na economia, a alta inflacionária e a crise do Pix puxaram a popularidade do presidente para baixo. Na política, a arrastada reforma ministerial atrapalha a relação do petista com o centrão.

Os casos mais recentes ocorreram nesta terça-feira (22) e nesta quarta-feira (23). O primeiro envolve a recusa do deputado federal Pedro Lucas (União Brasil-MA) em assumir o Ministério das Comunicações 12 dias após ser anunciado no cargo por Gleisi Hoffmann (PT).

O segundo é a demissão do presidente do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Alessandro Stefanutto, após operação da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) para combater um esquema de descontos não autorizados em aposentadorias e pensões.

O petista também fez declarações mais atrapalhando que ajudando na resolução dos problemas no governo. Um exemplo ocorreu em relação à inflação, quando Lula afirmou que "se você vai num supermercado e desconfia que tal produto está caro, você não compra".

Relembre algumas das crises que geraram desgaste ao governo Lula neste ano.

CRISE DO PIX

Entrou em vigor, em janeiro, regra da Receita Federal ampliando a fiscalização sobre transações de pessoas físicas via Pix que somarem ao menos R$ 5.000 por mês. Diante disso, uma série de notícias falsas sobre o assunto começaram a circular nas redes sociais, afirmando que o governo estava tentando criar um imposto sobre a modalidade de transferências.

A crise seguiu a partir do uso político do caso pela oposição, reforçando a desinformação. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) publicaram vídeos insinuando que o Planalto buscava taxar a modalidade de transferência. Diante da ofensiva, o governo decidiu recuar e revogar a norma.

O Executivo ainda percebeu um aumento da insatisfação de autônomos e empreendedores após a crise. Na avaliação de aliados do presidente, o diálogo com o segmento já era difícil e piorou ainda mais com a desinformação sobre a taxação dessas operações.

ALTA DO DÓLAR E PRESSÃO INFLACIONÁRIA

Desde o fim do ano passado houve uma escalada no dólar diante da guerra comercial e das insatisfações do mercado sobre o tamanho do corte de gastos do governo, e um aumento na inflação.

A alta de preços afetou produtos considerados essenciais no cotidiano do brasileiro, como ovos e café -no caso deste último, houve aumento de 8,14% nos preços de fevereiro a março e de 77,78% no acumulado de 12 meses, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em meio ao cenário de deterioração econômica, Lula afirmou em fevereiro que "se você vai num supermercado aí em Salvador e desconfia que tal produto está caro, você não compra. Se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar [o preço], senão vai estragar". O petista virou alvo de integrantes da oposição depois da fala.

Todos esses reveses econômicos colaboraram para o tombo na popularidade do governo: segundo o Datafolha, em fevereiro o índice dos que consideravam a gestão ótima ou boa foi a 24%, o pior dos três mandatos. Em abril, foi a 29%, indicando estabilização dos números.

REFORMA MINISTERIAL

O governo já admitia, no ano passado, fazer uma reforma ministerial para abrir mais espaço ao centrão. A primeira troca no governo indicando uma maior mudança foi a queda de Paulo Pimenta (PT) da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) e a indicação de Sidônio Palmeira para o cargo.

Em fevereiro deste ano, Lula demitiu Nísia Trindade do Ministério da Saúde, colocando Alexandre Padilha (PT), que antes chefiava a Secretaria de Relações Institucionais, no lugar. Para ocupar a vaga de Padilha, foi nomeada Gleisi Hoffmann (PT).

A ascensão de Gleisi já veio com uma gafe do presidente: afirmou ter colocado uma "mulher bonita" na articulação para melhorar a relação com o Legislativo.

O que iniciou uma crise no assunto foi a saída de Juscelino Filho (União Brasil) do Ministério das Comunicações: ele foi denunciado por suposto desvio de emendas parlamentares, e para substituí-lo, foi anunciado Pedro Lucas, também do União Brasil. Doze dias após sua indicação, ele desistiu de ser nomeado ao cargo.

Nesta quarta, o petista aceitou o nome do presidente da Telebras, Frederico de Siqueira Filho, como o novo ministro das Comunicações. A indicação ocorreu em reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e com Pedro Lucas.

CRISE NA ABIN

A Agência de Inteligência Brasileira também é motivo de crise no Planalto. Na semana passada o diretor-geral da instituição, Luiz Fernando Corrêa, prestou depoimento por cinco horas à Polícia Federal, que investiga possível obstrução de Justiça no caso da "Abin paralela" sob o governo Bolsonaro. Antes dos depoimentos, investigadores já enxergavam elementos suficientes para implicar Corrêa legalmente.

Lula ainda convocou Corrêa e o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, para cobrar explicações sobre uma operação de espionagem contra o Paraguai. A reunião foi descrita como tensa e chegou a ser interpretada como uma acareação entre o diretor da Abin e Rodrigues.

O hackeamento de autoridades do Paraguai, revelado pelo UOL em março, veio à tona a partir do depoimento de um servidor da Abin à PF no âmbito da investigação sobre o aparelhamento da agência no governo Bolsonaro.

FRAUDE NO INSS

Na mais recente crise, Lula mandou demitir nesta quarta o presidente do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Alessandro Stefanutto, alvo de uma operação da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) para combater um esquema de descontos não autorizados em aposentadorias e pensões.

A ação teve como objetivo combater um esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões. De acordo com as investigações, a soma dos valores descontados chega a R$ 6,3 bilhões, entre 2019 e 2024, mas ainda será apurado qual a porcentagem foi feita de forma ilegal.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), chegou a dizer que não pretendia demitir Stefanutto. Entretanto, a situação se tornou insustentável, na avaliação de integrantes do Palácio do Planalto. O governo considera a gestão do INSS delicada, uma vez que afeta diretamente milhões de beneficiários.


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