Evento Inspira BB reúne casos de superação após perdas traumáticas
RIO - Uma enfermeira americana saiu pela primeira vez dos Estados Unidos e, no Rio, encontrou histórias como a sua, de superação da dor através do amor. Agnes Furey, que perdeu uma filha e um neto, escreveu um livro baseado numa troca de cartas com o assassino dos dois, que foi preso. Na quarta-feira, ela se juntou a Carlos Eduardo Prazeres, que fundou a Orquestra Maré do Amanhã após o assassinato do pai na região do complexo de favelas; a Masataka Ota, vereador de São Paulo que teve o filho sequestrado e morto; e à executiva Bruna Mauro, que criou um projeto para crianças em tratamento contra o câncer após a doença levar o seu pequeno, de 1 anos e 7 meses. O grupo participou do Inspira BB, evento promovido pelo Banco do Brasil em parceria com O GLOBO, no qual cada um contou como abandonou a revolta e optou por um caminho de renovação da vida.
Depois de um período de luto e depressão, Agnes, hoje com 81 anos, decidiu começar a se comunicar com o algoz de sua filha Patricia e de seu neto Chris por meio de cartas. Os dois foram assassinados, em 1998, por Leonard Scovens, que se relacionava com Patricia. Ela tentava ajudá-lo a largar o vício de crack. Agnes contou que precisava entender os motivos daquele crime, embora, por lei, os dois não possam se encontrar pessoalmente. As cartas foram transformados no livro “Flores selvagens”, publicado em 2012 no Brasil.
— Com o passar dos anos, a situação não fica melhor, mas, sim, diferente. Você pode escolher viver na dor ou em recuperação. Tive meu próprio processo de perdão, porque Leonard disse que nunca teria coragem de me pedir para perdoá-lo. Penso que é uma libertação emocional para quem foi machucado — explicou a americana.
No início do evento, a Orquestra Maré do Amanhã fez uma apresentação.
—Foi na Maré que interromperam a vida do meu pai, e é lá que fui ressuscitá-lo — disse Prazeres, que pensou até em suicídio após perder Armando dos Prazeres, criador da Orquestra Petrobras Sinfônica, assassinado em 1999. — Na Maré, as referências de sucesso são os traficantes. Nosso objetivo é que as crianças escolham os heróis certos.
A família Ota também fez o caminho do luto traumático para o trabalho de transformação social. Por muito tempo, Masataka Ota dizia que só pensava em vingar o assassinato do filho Ives Ota, de 8 anos, em 1997. Os três autores haviam sido seus funcionários. Certo dia, ele foi convidado, pela produção de um programa de TV, a se encontrar com um deles.
— Sei que Ives queria que eu perdoasse. Pedi para ele continuar sorrindo para mim no plano espiritual. No fim, falei: “Você tem uma filha pequena, desejo para ela todo o contrário que você fez com meu filho. Que ela cresça, se case e tenha uma vida feliz” — disse o pai, cuja mulher, Keiko, é deputada federal em São Paulo.
O dois criaram o Movimento Paz e Justiça Ives Ota. Já Bruna Mauro fundou a ONG Dia de Alicia após perder o filho para o câncer, em 2012:
— Criei o projeto para transformar minha dor em amor. Hoje, movemos centenas de voluntários e ajudamos milhares de crianças.
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