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Versões sobre mortes na Rocinha são divergentes

Por Agência O Globo

26/03/2018 0h24 — em
Rio de Janeiro



Apesar de alguns moradores e parentes de vítimas terem dito que homens do Batalhão de Choque atiraram contra pessoas na saída de um baile funk, a polícia tem um versão diferente para as oito mortes registradas na Rocinha, na manhã de sábado. Ela sustenta que houve seis confrontos, em pontos diferentes da comunidade, e que todos os baleados eram traficantes. Por isso, abriu seis inquéritos para investigar o caso. De acordo com os PMs que participaram da operação e tiveram as armas apreendidas, cinco pessoas foram mortas durante quatro trocas de tiros. Entre elas, estava Matheus da Silva Duarte de Oliveira, integrante do projeto social Valsa Noite de Encanto. O jovem de 19 anos, segundo relatos dos policiais, teria atirado com uma pistola 9 mm. Em depoimento na Delegacia de Homicídios, os agentes do Choque também afirmaram que três vítimas foram encontradas já feridas por equipes que não participaram dos confrontos. Contaram ainda que em outros dois tiroteios não houve vítimas, apesar de, em um deles, os policiais terem feito, segundo eles mesmos, 136 disparos.

A operação de cerco ao tráfico, segundo o depoimento dos PMs, começou por volta das 5h30m. A primeira troca de tiros aconteceu, de acordo com os policiais do Choque, às 8h, na Rua 1. Eles contaram que Osmar Venâncio do Nascimento, de 45 anos, e Bruno Ferreira Barbosa, de 24 anos, “entraram em confronto com os policiais militares” e foram baleados. Segundo os PMs, duas pistolas — uma 9mm e uma .40 — foram apreendidas com as vítimas. Em dois tiroteios diferentes na Rua 2, por volta das 9h, foram mortos Matheus e Júlio Morais de Lima, de 22 anos. Já Hércules de Souza Marques, 26 anos, teria sido morto em confronto na Rua do Valão. As outras três vítimas — Magno Marinho de Rezende, de 28 anos, Wanderson Teodoro de Souza, de 21, e um homem não identificado — foram, ainda segundo o relato dos homens do Choque, encontradas já feridas por agentes que sequer participavam da operação.

Em dois confrontos, não houve vítimas — ou elas não foram encontradas —, mas os policiais apreenderam armamento. Em um deles, no Beco da Raíssa, acharam um fuzil; em outro, na Rua do Valão, foram apreendidas duas granadas. Ao todo, os policiais registraram oito ocorrências porque na conta estão incluídos, além dos seis tiroteios, os três corpos achados em dois locais diferentes.

Os policiais acusam seis mortos de portarem pistolas, que foram apreendidas. Entretanto, segundo os depoimentos deles, somente quatro das vítimas teriam atirado: Matheus, Osmar, Bruno e Júlio. Hércules e o homem não identificado estavam caídos no chão junto às armas. Parentes de Matheus alegam, no entanto, que a arma foi “plantada”.

— Tem impressão digital dele na arma? Depois que ele foi morto, querem incriminar o Matheus de qualquer jeito — diz um parente.

Entre os mortos, Matheus, Magno e Hércules não têm passagens pela polícia. Osmar tinha duas por tráfico de drogas. Bruno era investigado por tortura, dentro da Rocinha, de um homem acusado pelo tráfico de estupro. Júlio havia sido preso duas vezes: em 2013 e em 2015. Já Wanderson foi detido por tráfico quando ainda era menor de idade.


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