Uma nova pesquisa publicada na Psychological Reports Journal revela que perguntas formuladas por psicólogos durante sessões de terapia podem alterar a percepção que pacientes têm de suas memórias de infância. A investigação, que acompanhou 300 pacientes ao longo de quatro semanas, destaca a importância de uma abordagem cuidadosa para evitar influenciar as lembranças dos pacientes.

O estudo analisou como diferentes tipos de perguntas impactaram os sentimentos dos participantes em relação às suas mães. Os voluntários foram divididos em grupos: alguns foram orientados a escrever sobre aspectos positivos das mães, enquanto outros destacaram pontos negativos. Durante as sessões de acompanhamento, os pacientes que focaram em características positivas apresentaram sentimentos mais felizes, enquanto aqueles que escreveram sobre aspectos negativos demonstraram mais tristeza e raiva.

Ana Lúcia Carvalho, psicóloga e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que profissionais precisam estar atentos às teorias sobre memória para guiar suas práticas. Segundo ela, uma boa terapia deve permitir que os relatos partam dos próprios pacientes, sem indução de pensamentos. A formulação cuidadosa das perguntas é essencial para não distorcer memórias.

Outros estudos reforçam esse cuidado. Pesquisas publicadas no Journal of Applied Research in Memory and Cognition e na revista Emotion investigam o impacto da reavaliação cognitiva e treinamentos de memória no processo de modulação emocional. Os resultados mostram que o sucesso em regular emoções influencia diretamente a qualidade das memórias.

Martín Cammarota, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ressalta que os terapeutas devem ser cautelosos ao buscar a origem de traumas. Ferramentas validadas pela neurociência podem ajudar os pacientes a processar memórias de forma saudável, sem criar falsos relatos ou prejudicar experiências futuras.