Pessoas com perda auditiva têm maior risco de desenvolver demências; diz estudo
Pessoas com perda auditiva têm um risco 37% maior de desenvolver demências. O dado foi publicado na revista científica The Lancet, uma das mais reconhecidas no meio, em agosto deste ano. Estima-se que a perda auditiva seja responsável por cerca de 10% dos diagnósticos de demências, como o Alzheimer, por exemplo.
A especialista em reabilitação auditiva e fonoaudióloga, Dra. Vanessa Gardini, da Pró-Ouvir Aparelhos Auditivos, de Sorocaba (SP), explica o porquê e afirma que o uso de aparelhos auditivos é fundamental em todos os graus de perda auditiva, dos casos mais leves aos mais severos. Ela informa que a região do cérebro responsável por decodificar os sons pode atrofiar pela falta de estímulo, criando uma desorganização neurológica e podendo desencadear quadros de demência precoce se não for estimulada adequadamente.
“Quando a gente ouve, o som é convertido em estímulo elétrico e passa pelas vias neurais até chegar à região do cérebro, onde ele é traduzido em informação. É assim que a gente ouve. E essa mesma região do cérebro é responsável pela memória, equilíbrio,aquisição de linguagem e comunicação. É uma região neural que precisa ser estimulada, precisa ser exercitada para não atrofiar”, afirma a especialista.
Dra. Vanessa Gardini acrescenta que a inatividade dessa região do cérebro é um dos fatores que podem levar às demências, mas que episódios gerados pela própria condição, como depressão e isolamento social, frequentes em pessoas que não ouvem, também são agravantes.
“Os indivíduos que começam a perder a audição tendem a se afastar de situações sociais, pois têm dificuldade em acompanhar conversas e acabam se sentindo deslocados. Isso pode causar uma sensação de frustração e, eventualmente, resultar em um quadro de ansiedade ou depressão", pontua.
Hábitos, como falar ao telefone, assistir à televisão ou conversar, são interrompidos pela perda auditiva, que pode ocorrer gradualmente, principalmente na fase de envelhecimento, ou estar presente desde o nascimento. Identificar e tratar o problema, logo no início, é considerado fundamental para prevenir, ou adiar, o surgimento de demência.
A especialista da Pró-Ouvir explica que o uso de aparelhos auditivos é fundamental, mas o tratamento não se resume a isso, pois envolve uma série de processos, como exame de audiometria clínica, avaliação detalhada das necessidades e dificuldades do paciente, adaptação e acompanhamento contínuo. “O cérebro do paciente precisa ser treinado a reaprender a ouvir, desenvolvendo habilidades, como memória auditiva, atenção e identificação de sons, especialmente após um longo período de privação sensorial”, destaca.
A reabilitação, acrescenta Dra. Vanessa Gardini, igualmente auxilia no estímulo das habilidades auditivas, como a discriminação e a memorização de diferentes frequências e sons. “Quando realizada por profissionais experientes, a reabilitação auditiva pode modificar as estruturas cerebrais, fortalecendo e ampliando as redes neurais responsáveis pela audição. Isso resulta, não apenas em uma melhor compreensão da fala e na percepção de uma ampla gama de sons, mas também em uma significativa melhoria no bem-estar e na qualidade de vida do paciente”, ressaltou a fonoaudióloga especialista.
ASSUNTOS: Saúde e Bem-estar