500 alunos protestam no Shopping Higienópolis após 5 casos de racismo
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SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Cerca de 500 pessoas protestaram nesta quarta-feira (23) à tarde no Shopping Higienópolis, em uma área nobre da região central de São Paulo, uma semana após dois estudantes terem sido vítimas de uma abordagem racista no local.

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Grupo se mobilizou em frente ao colégio Equipe. De lá, rumou até o Shopping Higienópolis, levando faixas antirracistas. As ruas foram isoladas pela PM durante a caminhada.
Grupo entoou coros, pedindo o fim do racismo. "Exigimos mais do que um pedido de desculpa protocolar. Exigimos uma mudança concreta e urgente por parte da administração do shopping, com ações efetivas contra o racismo institucional (...). Para crianças e adolescentes negros, a vida os obriga a manter uma vigilância constante", disse um dos manifestantes, em palavras de ordem repetidas pelo grupo.
Ato foi acompanhado pela PM até dentro do shopping. Manifestação foi pacífica e sem qualquer tipo de incidente. Contudo, algumas lojas do shopping fecharam as portas após a chegada dos manifestantes.
Estudantes negros que denunciaram o caso de racismo se emocionaram durante o ato. Um adolescente de 12 anos inclusive chorou em algumas ocasiões e foi abraçado por colegas, parentes e professores. Os responsáveis legais das vítimas registraram boletim de ocorrência e aguardam os desdobramentos da investigação do caso na Polícia Civil.
Família das vítimas nega que shopping tenha entrado em contato para oferecer assistência. Procurado pelo UOL, o estabelecimento não respondeu ao questionamento. "[A manifestação] ocorreu de forma pacífica. Reforçamos nosso compromisso com o respeito ao direito à livre expressão dentro dos limites do regulamento do empreendimento", disse o Shopping Higienópolis por meio de nota.
"Eu já sofri racismo dentro desse shopping quando eu era adolescente. Não podia ir ao banheiro sem ser acompanhada por algum segurança. Agora, meu filho passou pelo mesmo tipo de situação. Isso dói muito. Mas ele foi muito acolhido pela escola e pelos colegas. Dessa vez, ele não estava sozinho", disse Larissa da Cunha, auxiliar de cozinha e mãe de uma das vítimas.
"Não é um caso isolado de racismo nesse shopping. Eu já passei por isso, a minha irmã já passou por isso, a minha sobrinha já passou por isso e muitas outras pessoas negras também já sofreram por isso. A diferença foi que, dessa vez, nós não ficamos calados. Em um shopping de classe média alta, eles pensam que podem nos discriminar. Não podemos ser julgados pela cor da nossa pele", afirma Isabela da Cunha, tia de uma das vítimas.
SHOPPING TEVE 5 CASOS DE RACISMO EM 7 ANOS
Shopping teve ao menos 5 casos de racismo em 7 anos. Em junho de 2017, o Ministério Público abriu inquérito para apurar possíveis práticas racistas contra o filho de um artista plástico, confundido com uma pessoa em situação de rua enquanto tomava chá com o pai no local.
Em 2018, um adolescente de 14 anos sofreu injúria racial no shopping. À época, o pai relatou que foi junto com o filho pedir uma informação ao segurança quando o funcionário ordenou que o menino tirasse as mãos do bolso de um casaco.
Em 2019, o shopping foi alvo de protestos após pedir na Justiça que a PM apreendesse crianças em situação de rua. O estabelecimento fez uma requisição oficial relatando supostos casos de vandalismo envolvendo as crianças e adolescentes. Contudo, o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que a medida promoveria a segregação, impedindo o direito de ir e vir.
Em 2022, parentes de três jovens negros denunciaram outro caso. Três jovens tinham ido ao cinema e estavam passeando, quando notaram que um segurança os perseguia. Um vídeo de dois minutos gravado por um dos garotos mostrou a atitude do segurança.
O Shopping Higienópolis foi questionado sobre os casos de racismo nos últimos anos. Em caso de manifestação da administração, a reportagem será atualizada.

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