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Consumidores da Backer buscam indenização cinco anos após primeiras notícias de contaminação

Por Folha de São Paulo

09/01/2025 9h45 — em
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BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Familiares de consumidores da cervejaria Três Lobos, dona das marcas Backer e Belorizontina, buscam até hoje na Justiça indenização por supostamente terem sido contaminados ao beber produtos da empresa em 2019.

Investigações apontaram que dez pessoas morreram desde as primeiras notícias sobre o caso e outras 19 ficaram com sequelas neurológicas, renais ou motoras, intoxicadas por uma substância chamada dietilenoglicol, como apontou o laudo divulgado em 9 de janeiro de 2020.

O produto é usado na indústria como anticongelante e serve para evitar que os líquidos evaporem. É tóxico e não deveria ter contato com a bebida.

Um acordo feito pela cervejaria com o Ministério Público de Minas Gerais em julho de 2023 determinou o pagamento de R$ 500 mil para cada vítima e R$ 150 mil para familiares de primeiro grau.

O acerto, porém, delimitou um marco temporal de setembro de 2019 para a indenização de vítimas. A data refere-se ao início da produção em um tanque que teria apresentado um furo e promovido o contato do dietilenoglicol com a bebida, segundo as investigações da Polícia Civil.

Aqueles cuja suposta contaminação teria acontecido antes dessa data não foram incluídos no acordo.

Ao menos uma vítima e uma familiar de outra vítima que conversaram com a Folha de S.Paulo afirmam ter laudos periciais de que elas foram contaminadas com dietilenoglicol e consumiram a cerveja antes de setembro de 2019.

Elas também se referem ao relatório do Ministério da Agricultura e Pecuária, de julho de 2020, que apontou que a cronologia dos lotes contaminados começa antes da instalação do tanque.

"Nos meses de agosto de 2019 a janeiro de 2020 há outros tanques que de forma inédita também passam a contaminar a cerveja", diz trecho do documento.

O relatório também fala sobre a dificuldade de encontrar lotes antigos para fazer a análise. Os técnicos afirmam, porém, que, do conjunto analisado, o primeiro lote contaminado reportado se refere a um da marca Belorizontina, produzido presumidamente em janeiro de 2019.

"Ele foi obtido, aliás, casualmente num centro de distribuição. Existe a possibilidade, portanto, de haver lotes anteriores, ou próximos a este, também contaminados", diz trecho do relatório.

O analista de segurança da informação Vanderlei de Paula Oliveira, 42, ficou internado de fevereiro a julho de 2019. Ele afirma que os relatórios periciais identificaram que o exame clínico e seu histórico de internação foram compatíveis com aqueles apresentados por outras pessoas que aderiram ao acordo.

Como não está entre as vítimas que fazem parte do acordo da cervejaria com o Ministério Público, Vanderlei optou por entrar com uma ação judicial contra a empresa no início do último ano.

"Desde então, infelizmente, a gente não consegue nenhum tipo de contato com eles. A Justiça não consegue intimá-los", diz Vanderlei.

Hoje, ele sofre com sequelas do seu período de internação, como mobilidade reduzida, paralisia facial e afirma que teve de ser submetido a um transplante de rim em decorrência do período no hospital.

Procurada, a cervejaria Três Lobos, dona da Backer, disse que, conforme o acordo com o MP-MG, para receber a indenização a vítima precisa apresentar sintomas a partir do marco temporal de setembro de 2019.

Também cita provas periciais produzidas na Ação Civil Pública que dizem que "além do furo na falha da solda, não foi detectada outra falha construtiva ou alguma falha mecânica de processo, que pudessem permitir a contaminação da cerveja" e que "não é possível afirmar que existiu contaminação anterior à instalação do referido tanque de fermentação".

Outra pessoa que move processo individual contra a cervejaria é Eliane Faria, cujo marido, José Oswaldo de Faria, morreu em julho de 2020, após ficar mais de dezoito meses internado, desde fevereiro de 2019.

"Ele foi o último [das vítimas] a sair do hospital. No começo da internação, os médicos não tinham parâmetro para os sintomas, e eu fazia o registro. No ano seguinte, quando foram divulgados os sintomas das vítimas da Backer, eram exatamente os mesmos que ele tinha sentido", afirma Eliane.

Ela diz que os pacientes que foram internados depois de seu marido foram tratados de acordo com a experiência que os médicos adquiriram a partir de José Oswaldo. Apesar de seguir adiante com o processo na área cível, Eliane diz que seu foco é na vara criminal.

"Eu não quero o dinheiro deles. Ainda me sinto presa nesse luto e quero que eles sejam punidos, porque eu fiz essa promessa ao meu marido. E eu não vou descansar até isso acontecer", diz a parente da vítima.

Em outubro de 2020, a Justiça recebeu a denúncia feita pelo Ministério Público contra 11 pessoas, que tornaram-se réus. Uma delas morreu em novembro de 2020.

O julgamento referente aos crimes de lesão corporal, contaminação de produto alimentício e homicídio está em fase final de instrução, sendo que a etapa de audiência de testemunhas e interrogatório dos acusados já foi encerrada.

O próximo passo é a apresentação das alegações finais pela Promotoria e pelas defesas, e o processo, então, poderá receber uma sentença.

Procurado, o MP-MG afirmou que os acordos de indenização estão sendo cumpridos por parte da empresa. Disse também que existe um inquérito policial em curso que apura o óbito de uma vítima identificada posteriormente e que faleceu em maio de 2019.


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