Crescimento do turismo global acelera emissões de carbono, aponta estudo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O turismo é um dos principais responsáveis pelo crescimento das emissões de carbono no planeta, com um aumento anual de 3,5% na liberação de CO₂ de 2009 a 2020, enquanto os setores da economia global como um todo causaram um acréscimo de 1,5% por ano na pegada de carbono total no mesmo período.
É o que aponta um novo estudo, publicado nesta terça-feira (10) na revista científica Nature Communications. Os cientistas estimam que o descarte de carbono realizado pelo setor representa cerca de 9% do total atualmente.
Para os pesquisadores, os números se justificam por um aumento muito rápido da demanda por viagens de turismo, principalmente as de longa distância, que não foi acompanhado pelos ganhos de eficiência tecnológica no setor. O crescimento da demanda no turismo é estimado pelos cientistas em 3,8% ao ano no período analisado.
De acordo com Ya-Yen Sun, autora do artigo e professora associada da Escola de Negócios da Universidade de Queensland, na Austrália, os principais fatores que elevam as emissões do turismo global são as viagens de avião, carro a gasolina e utilitários. "Esses são os pontos críticos, que representam metade da pegada de carbono total do turismo; eles foram os que mais cresceram na última década", afirma.
Segundo a cientista, tecnologias que ainda estão em fase de desenvolvimento ou adoção apresentam níveis variados de viabilidade e acessibilidade enquanto os carros elétricos podem se tornar neutros em carbono até 2050, de acordo com a Agência Internacional de Energia, os biocombustíveis para aviação têm futuro incerto.
"A aviação, em particular, enfrenta inúmeras barreiras incluindo limitações tecnológicas, restrições financeiras e desafios políticos, o que torna difícil descarbonizar rapidamente apenas com soluções de inovação", diz Sun.
O estudo encontrou ainda profunda desigualdade na origem das emissões de carbono no turismo, com os 20 países que mais contribuem para a alta taxa de poluição sendo responsáveis por cerca de 75% do total da pegada de carbono do setor.
Os Estados Unidos encabeçam a lista dos maiores poluidores, com 19,1% do descarte de carbono do turismo quando se leva em conta as viagens feitas pelos norte-americanos. A China aparece na sequência, com uma fatia de 14,5%.
O Brasil aparece na lista em 13º lugar quando se consideram as viagens feitas pelos brasileiros (1,5% do total de emissões) e em 12º lugar (1,9% do total) quando é analisado o turismo receptivo quando estrangeiros vêm ao país.
Outros emissores relevantes do turismo são de Índia (5,7%), Alemanha (4,7%) e Reino Unido (3,6%). Os países que mais contribuem, em geral, são desenvolvidos ou com grandes economias e populações.
Para os pesquisadores, os 20 países do topo da tabela devem reconsiderar suas políticas de turismo, tirando o foco dos altos números de turistas e dinheiro gasto para buscar um maior equilíbrio entre índices econômicos e emissões de carbono. Priorizar o desenvolvimento de destinos turísticos de curta distância é outra ação que pode ajudar a reduzir o descarte de CO₂.
Os conselhos aos viajantes que desejam diminuir seu rastro de poluição atmosférica costumam ser desanimadores como a busca por destinos mais próximos de casa e viagens mais curtas, evitando o avião, mas há alternativas menos limitantes, como fazer a combinação de várias viagens em uma mesma região mais distante de uma única vez para reduzir o uso de transporte de longa distância repetidas vezes, sugere Sun.
Os dados revelados pelo estudo podem ajudar a compreender melhor quem são os maiores responsáveis pelos impactos negativos do turismo. Assim, a implementação de políticas que ajudem a compensar os que viajam menos ou são os mais prejudicados pela alta de emissões pode ser feita de maneira mais clara.
"A ideia de taxar os viajantes frequentes é uma direção promissora, mas exigiria colaboração das companhias aéreas para ser implementada de forma eficaz", diz a pesquisadora.
O custo social dessa poluição também precisa ser levado em conta. Segundo Sun, os países que menos liberam carbono estão entre os que mais serão impactados com a redução de demanda turística devido à piora de condições climáticas, como aumento de temperatura, chuvas, secas e outros eventos climáticos extremos. "Apoiar esses países na adaptação será um foco crítico para o futuro", conclui.
Na COP29, conferência do clima realizada em Baku, no Azerbaijão, em novembro deste ano, a ONU (Organização das Nações Unidas) anunciou que 52 países assinaram uma declaração plurilateral com o objetivo de tornar o turismo mais sustentável. Os signatários do documento comprometeram-se a reconhecer que precisam incluir o turismo na elaboração de suas ações climáticas.
Em 2018, o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês) assinou uma iniciativa da das Nações Unidas com o compromisso de medir e reduzir emissões no setor ou fazer compensações.
Segundo a organização, o turismo é responsável por cerca de 330 milhões de empregos no mundo (direta e indiretamente) e representa 9,1% do PIB (produto interno bruto) global, de acordo com dados de 2023.
TURISMO E AMBIENTE EM NÚMEROS
5,2 gigatoneladas de CO₂
Foi a quantidade liberada pelo setor em 2019, equivalente a cerca de 8,8% do total global naquele ano
3,8%
É o crescimento estimado da demanda no turismo entre os anos de 2009 e 2020
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