Dados apontam queimadas de SP fora do pico climático e reforçam ação humana
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Dados coletados por satélites e radares mostram que a explosão de queimadas entre a quinta-feira (22) e o sábado (24) em São Paulo ocorreu fora do pico climático propício para fogo em vegetação no estado. Nesses dias, foram 2.621 focos de queimadas, 57% a mais que a soma das registradas nos anos inteiros de 2022 e 2023.
Segundo o professor Humberto Barbosa, coordenador do Lapis (Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite) da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), os dados meteorológicos apontam que o momento mais propício para o fogo ocorreu há cerca de um mês, o que reforça a ideia de que houve uma ação humana coordenada para deflagrar os incêndios.
"Os dados de clima e queimadas não batem, há uma dinâmica fora do padrão. Se fosse fogo natural, teríamos o pico no final de julho, não agora", afirma Barbosa.
Historicamente, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o mês com maior número de queimadas é agosto, com média de 2.444 focos por anos, conforme dados coletados desde 1998. Setembro e julho vem em seguida, com 2.247 e 1.070 de médias, respectivamente.
Na sexta-feira (23), São Paulo viveu o dia com mais focos de fogo registrados em 24 horas na sua história de medições, com 1.886 incêndios -mais de um por minuto.
SEM DNA CLIMÁTICO
Barbosa explica que, apesar de boa parte de São Paulo enfrentar um ano crítico de seca, as condições climáticas da semana passada eram melhores, ou seja, com menos probabilidade para início de fogo. "Isso tira o DNA climático da situação", alerta.
"O pico climático -de calor, vegetação seca e redução de chuva- ocorreu no final de julho. Normalmente, esse pico ocorre entre agosto e setembro, por isso é o período histórico com mais queimadas. Mas esse ano ele foi antecipado, ocorreu entre julho e início de agosto", diz Barbosa.
Segundo ele, em agosto, as temperaturas máximas não estavam tão altas como em julho, por exemplo, condição que ajuda a iniciar uma queimada.
"Agora você tinha uma vegetação ganhando um pouco de biomassa. Se essas queimadas ocorressem há um mês, certamente teriam um impacto muito maior", diz, lembrando ainda que 99% dos focos vêm de ações humanas.
"O pico das queimadas não foi o mesmo do pico climático [de condições mais propícias para o fogo]. E os dois, em regra, atuam juntos. Tem uma dinâmica aí que não está muito consistente com a questão climática", Barbosa conclui.
Entre os fatores climáticos, Barbosa cita que o único que teve pico favorável ao fogo foi o vento -que, no caso, tem poder apenas de fazer alastrar os focos, e não de criar fogo.
"Tivemos dois picos, nos dias nove e 23 de agosto, quando o estado foi afetado pelos ventos da frente fria e do ciclone", explica.
Ao comparar com o dia nove, é possível ver que naquele dia não houve qualquer foco de queimada registrado no estado, segundo dados do Inpe. "Os ventos na ocasião eram similares, e as condições de clima eram bem piores do que no dia 23. Então, só tem uma justificativa: os caras aumentaram propositalmente o número de queimadas", observa Barbosa.
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