Em júri, família de Moïse se emociona ao ver imagens de agressão que matou congolês
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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A família do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, morto em 2022 após ser espancado em um quiosque na Barra da Tijuca, se emocionou durante o julgamento de dois dos três acusados do caso nesta quinta-feira (13) ao assistir às imagens da agressão.

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A gravação foi exibida no júri popular de Fábio Pirineus da Silva e Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca no crime. O terceiro réu, Brendon Alexander Luz da Silva, teve seu julgamento desmembrado do processo após um recurso da defesa, que ainda tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Os réus, que estão presos desde 22 de fevereiro de 2022, alegam que agiram para se defender. Segundo eles, a discussão começou porque Moïse estaria embriagado e tentando pegar bebidas sem pagar. No entanto, familiares da vítima sustentam que ele apenas cobrava o pagamento por dias trabalhados.
A audiência começou por volta das 12h. O primeiro depoimento do julgamento foi o de Jailton Pereira Campos, conhecido como Baixinho, gerente do quiosque Tropicália, onde Moïse trabalhava e com quem ele se desentendeu antes do ataque.
Ao ser questionado pela Promotoria sobre a falta de um pedido de socorro à vítima, Jailton afirmou que estava sem telefone e chamou o episódio de "traumático". Durante seu depoimento, familiares de Moïse demonstraram revolta.
A defesa dos réus sustenta que as agressões ocorreram para proteger Jailton. No entanto, as imagens exibidas mostram Moïse sendo imobilizado e agredido, sem oferecer resistência.
A segunda testemunha a depor foi Maicon Rodrigues Gomes, vigia dos quiosques da praia da Barra. Ele defendeu os acusados e afirmou que a intenção do grupo era apenas "amarrá-lo e chamar a polícia".
Carlos Fábio da Silva Muzi, dono do quiosque Tropicália, também foi ouvido. Durante sua fala, foram reproduzidos áudios enviados por Fábio Pirineus logo após o crime. Na mensagem, Pirineus pergunta sobre as imagens do quiosque e afirma que o registro mostraria seu rosto.
"Tem como cancelar a filmagem? Porque se for puxar a câmera, com certeza meu 'carão' vai estar lá", diz o áudio de Fábio Pirineus para o dono do quiosque.
Carlos negou que Moïse fosse de causar confusão, mas afirmou que ele costumava beber durante o trabalho e que, no dia de sua morte, parecia estar alterado. O dono do estabelecimento também negou qualquer dívida com o congolês.
A quarta testemunha a depor foi Viviane de Mattos Faria, responsável pelo quiosque vizinho ao Tropicália.
Ao todo, seis testemunhas devem ser ouvidas, entre 20 que foram convocadas inicialmente. Em seguida, os réus serão interrogados antes da fase final dos debates entre acusação e defesa. A previsão é que a sentença seja anunciada até esta sexta-feira (14).
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro atua como assistente de acusação e busca, além da condenação dos réus, reparação financeira para a família de Moïse em uma ação cível por danos morais.
"A justiça que se espera é que seja dada a condenação proporcional à participação de cada um dos réus. Aqueles que tiveram maior envolvimento devem receber penas mais severas, enquanto aqueles com menor envolvimento também devem ser responsabilizados na devida proporção", afirmou a defensora pública Gislaine Kepe, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos.
A família da vítima chegou de manhã desta à 1ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para acompanhar o julgamento.
Maurice Mugeny, irmão de Moïse, criticou a tese de legítima defesa. "Como matam uma pessoa batendo com taco de baseball e falam que foi legítima defesa? Com as pernas e os braços amarrados, quatro pessoas em cima dele?", indagou Maurice.
"Esperamos que a Justiça seja feita, que os criminosos paguem pelo que fizeram com meu irmão", disse o completou o irmão.
A mãe da vítima, Lotsove Lolo Lavy Ivone, 46, acompanha o julgamento, mas disse que está abalada e que só se pronunciará após a sentença. Moïse era um dos 5 filhos dela, que se tornou assistente de acusação do processo.
Moïse, que tinha 24 anos, foi brutalmente agredido na noite de 24 de janeiro de 2022, no quiosque Tropicália, onde trabalhava como freelancer.
"Esperamos que a Justiça seja feita e que os criminosos paguem pelo que fizeram com meu irmão", afirmou Maurice Mugeny, irmão de Moïse, ao criticar a tese de legítima defesa apresentada pelos advogados dos acusados.
O QUE DIZEM AS DEFESAS
Os réus Fábio e Aleson respondem por homicídio doloso qualificado por motivo fútil, uso de meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa d a vítima.
A advogada Flávia Fróes, que faz a defesa de Aleson Cristiano, afirmou que "a motivação das agressões que resultaram na morte de Moïse foi a defesa de um idoso que estava sendo covardemente atacado por ele".
Já a advogada Hortência Menezes, que faz a defesa de Fábio Pirineus, afirmou que seu cliente "nunca teve a intenção de matar Moïse, mas agiu para proteger um idoso indefeso, ameaçado por horas". Ainda segundo a defensora, "a morte de Moïse não teve qualquer motivação racial, xenofóbica ou trabalhista.
A defesa de Brendon Alexander nega as acusações.

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