Família de SP denuncia alunas por expor paciente no TikTok
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SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - A família de uma jovem que morreu após complicações em um transplante de coração registrou um boletim de ocorrência contra duas estudantes de medicina que publicaram no TikTok informações sobre a paciente. O caso aconteceu no Incor (Instituto do Coração) da Faculdade de Medicina da USP.

Você é vítima, mas vai pagar a conta
Familiares da jovem Vitória Chaves, que morreu após receber três transplantes de coração, relataram que as duas estudantes de medicina desrespeitaram a paciente. Elas publicaram um vídeo sem falar o nome da jovem, mas contando a história dela, e publicaram no TikTok em 17 de fevereiro, antes da paciente morrer.
No vídeo, as duas estudantes descrevem a situação clínica de Vitória para milhares de pessoas. O vídeo foi excluído da rede social ontem, após repercussão, mas já contava com milhares de curtidas e centenas de comentários.
Caso da paciente era considerado raro no Incor. Mesmo sem a divulgação do nome da mulher pelas estudantes, a família percebeu que o conteúdo era sobre Vitória, pois ela seria a única no hospital com um caso semelhante, e argumentam que isso constataria a falta de ética e desrespeito das estudantes de medicina.
"Uma paciente que já fez transplante cardíaco três vezes. Um transplante cardíaco é burocrático, já é raro, tem a questão da fila de espera, da compatibilidade, mil questões envolvidas. Agora, uma pessoa passar por um transplante três vezes, isso é real e aconteceu aqui no Incor e essa paciente está internada aqui", disse a aluna de medicina, em publicação no Tiktok.
Ainda no vídeo, uma das estudantes sugere que a paciente teve complicações após uma das cirurgias por erro dela mesma. O vídeo tem pouco mais de dois minutos e as estudantes vão se intercalando nas falas.
"Ela não tomou os remédios que precisava tomar e o corpo rejeitou e teve que transplantar de novo por um erro dela. E agora transplantou de novo", disse a aluna de medicina, em publicação no Tiktok.
"Sete vidas", diz outra estudante. A segunda aluna complementa a fala da colega satirizando a situação da paciente, segundo a família. "Essa menina está achando que tem sete vidas? (...) Eu tô em choque", complementa.
Ao fim do vídeo, as mulheres dizem que desejam melhoras para a paciente. Vitória morreu nove dias depois da gravação.
Alunas eram de outra universidade e estavam fazendo curso de extensão no Incor, explica USP. Ao UOL, a Faculdade de Medicina de São Paulo explicou que as universidades de onde as estudantes vieram foram notificadas sobre o ocorrido.
Alunos de curso de extensão receberão orientações sobre como se portar nas redes sociais e assinarão termo de compromisso, diz a universidade. "A FMUSP repudia com veemência qualquer forma de desrespeito a pacientes e reafirma o compromisso inegociável com a ética, a dignidade humana e os valores que norteiam a boa prática médica", afirmou em nota.
As estudantes apagaram os próprios perfis nas redes sociais. O UOL tenta contato com elas. A universidade particular na qual uma das estudantes faz o curso também foi procurada. O espaço segue aberto e será atualizado se houver posicionamento.
FAMÍALIA PEDE RETRATAÇÃO
A irmã da vítima diz que a exposição do vídeo foi como reviver a dor da perda de Vitória. Giovana Chaves disse ao UOL que registrou a ocorrência e levou o caso ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo).
Familiares querem retratação. Para eles, a história de luta da paciente teria sido desmerecida e, por isso, exigem que as mulheres se retratem publicamente sobre o que foi dito no vídeo.
A gente quer que o nome seja respeitado. Elas mancharam e desmereceram a história dela. Não teve um dia da vida dela que ela não lutou, que ela não sofreu. "Ela mentiu, disse que minha irmã não tomava as medicações, que não cuidava. A gente quer que elas façam um vídeo se retratando. Se retratando com os familiares. Que a justiça seja feita para que não aconteça com outras pessoas", disse Giovana Chaves, irmã.

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