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Gaúcho criou Chico, o Vendedor Raiz, após comprar carro velho e caindo aos pedaços

Por Folha de São Paulo

03/01/2025 9h15 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dos recônditos mais profundos do Rio Grande do Sul, das cercanias dos pampas habitados pelo saudoso Gaúcho da Fronteira, com um sotaque digno do lendário Analista de Bagé, eis que surge, da cidade de Bento Gonçalves, um novo nome para representar o estado farroupilha.

Trata-se de Chico, o Vendedor Raiz, um personagem cômico que vem encantando e divertindo quem assiste seus vídeos. Grande criador de bordões, Chico é um comerciante de carros velhos -Monzas, Belinas, Kombis, Oggis, sempre em péssimas condições e com preços altos- que tenta convencer seus espectadores de que aquilo se trata de um negócio da China.

Ele também visita os pés-sujos mais mequetrefes da paróquia para fazer análises hilárias, conversar com os frequentadores (sempre chamados de guris) e colocar seu selo de aprovação nos locais.

Seus vídeos de bares sobem ao Instagram toda sexta-feira, às 18h32, e o do dia 14, foi o 41° boteco analisado neste segundo ano da série. A primeira temporada teve 30 episódios.

É nessa série que Chico Advisor (um de seus apelidos) comete seus bordões mais famosos, como "pra ti que não fala inglês" ou "isso aqui conta ponto".

Em setembro, o morador de Bento Gonçalves até visitou alguns locais em São Paulo, aproveitando que viria à capital paulista para um evento corporativo. Isso mesmo, Chico Raiz já é chamado para apresentar meetings, ou encontros, pra ti que não fala inglês.

Além das gírias e bordões, Chico traja um figurino marcante, que parece ter ressuscitado direto de um álbum de fotos amarelados dos anos 1970. Senão, vejamos:

Óculos escuros degradê? Conta ponto. Relogião dourado combinando com as correntes no pescoço? Conta ponto. Camisa aberta com barrigão sem vergonha? Conta ponto. Sapato de couro preto sem cadarço, mas com fivela? Conta ponto.

E, debaixo do braço, uma capanga (carteira masculina grande o suficiente para que o talão de cheques não precise ser dobrado) de couro legítimo? Também conta ponto.

Chico é uma criação de Francisco Cechin Junior, 41, um ex-vendedor industrial que trabalhava numa área bem específica: máquinas que colocam rótulos nas embalagens da indústria de bebidas.

A influência para o personagem vem de longe. "Veio de um garagista, né? A gente chama garagista aqui, que é o vendedor de carros. Aquele vendedorzão de carro mais antigo. Foi quem me vendeu meu primeiro carro. Que me empurrou uma bomba lá...", diverte-se Junior, falando do Kadett 1993 que adquiriu aos 19 anos.

"Aquele Kadett só me incomodou, acho que eu gastei uns cinco carros em cima de um só, acho que puxou até safra de cana...", recorda. Anos depois, em 2017, o mau negócio foi mote de piada em um grupo de amigos no WhatsApp.

"Eu mandava uns 'Tudo bom, guri? Tu tá interessado num Chevettinho todo original?'." Animado com o sucesso dos áudios, Junior expandiu as piadas para os colegas de trabalho. Outro triunfo instantâneo. "De repente, eu ia na fila do banco, ouvia minha voz. No posto de gasolina, tinha um cara escutando os áudios lá. Viralizou assim, cara."

Logo, pessoas conhecidas -e depois desconhecidas- começaram a encomendar áudios para tirar sarro de amigos e parentes. "Me mandavam o produto, um carro, uma casa de alguém, e eu criava um áudio em cima", conta ele.

Segundo suas contas -a partir de planilhas espalhadas por uma dúzia de cadernos universitários preenchidos de cabo a rabo-, o Chico Raiz fez entre 3.000 e 4.000 áudios em 2018, produzindo até 15 por dia.

"Por uns três meses, eu não ganhava nada. Aí passei a pedir uns R$ 50. E logo R$ 100. E fui dobrando." Quando ganhava de duas a três vezes mais do que no emprego, Junior largou o emprego e apostou no personagem, mesmo que isso lhe causasse certa ansiedade.

"Eu sou tímido para caramba. É da minha natureza ser bastante tímido. Hoje eu estou, vamos dizer assim, consegui me desenvolver um pouco mais, para poder conversar mais. Mas a minha natureza é bem para dentro. Eu ficava um pouco envergonhado, mas com a voz ali, como eles não me viam... Ali, eu coloquei toda a minha energia, sabe?"

Hoje Junior fatura de 10 a 15 vezes mais do que quando era vendedor de peças industriais. A empresa emprega ainda sua mulher na parte financeira e um agente/marketing/câmera que tem uma percentagem do faturamento. Foi esse colega, aliás, quem sugeriu que Chico fizesse as famosas reviews de bares, hoje o carro-chefe do personagem.

Mas é Junior quem faz o texto e a edição das imagens após assistir às filmagens feitas nos botecos. "Essa é a essência do personagem, né?", ele pergunta, retoricamente. Já os carros caindo aos pedaços, nos quais Chico sempre chega no início dos vídeos, é sempre do dono do boteco ou de algum cliente fiel.

Foi a partir da série de botecos, iniciada em 2022, que seu Instagram pulou de 50 mil seguidores para os atuais 790 mil. Ele também está no Youtube e no Facebook, com 500 mil seguidores, no TikTok, com 330 mil, e no YouTube, com 60 mil inscritos.

Para 2025, Chico já prepara a terceira temporada da série Bares pelo Mundo. E tem outros planos: talvez introduzir o Gralha, que faz as gambiarras nas carangas e é sempre citado por Chico: "Caiu o motor do carro que te vendi ontem? Dá uma passadinha lá no Gralha que ele resolve pra ti".

"Agora vou ter de me dedicar a criar o Gralha. E minha ideia é encarar esse desafio, eu mesmo interpretá-lo. O Gralha está famoso, todo mundo quer saber do Gralha", diverte-se Junior.


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