Investigação sobre morte de delator do PCC enfrenta crise entre delegados
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A força-tarefa criada pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para tentar esclarecer a morte do empresário Antônio Vinícius Gritzbach, 38, delator do PCC assassinado no aeroporto de Guarulhos em novembro, passa por uma crise interna com celeuma entre delegados e ameaça de debandada das equipes.
Uma das crises envolveu o delegado Severino Pereira de Vasconcelos, do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa) que, após desentender-se com superiores, decidiu entregar o cargo e colocar-se à disposição para trabalhar em outra unidade.
Após alguns dias afastado, o delegado decidiu reassumir a investigação com a promessa de ter autonomia para conduzir o inquérito, de acordo com policiais ouvidos pela reportagem. Na tarde desta quinta (12), ele teria se reunido com a diretora do departamento, Ivalda Aleixo, para aparar as arestas.
Policiais ligados a Vasconcelos relatam uma insatisfação por parte do delegado com suposta ingerências no curso dos trabalhos, que acabaram atrapalhando o desempenho da equipe de homicídios, que ainda não conseguiu prender os principais suspeitos, como os executores e mandante.
O ápice para o rompimento do delegado com a cúpula, ainda conforme policiais ouvidos, teria sido o flagrante dos suspeitos presos pela Rota (tropa de elite da PM), realizado na última sexta-feira (6). A ação teria começado com Vasconcelos, mas ele foi substituído no curso dos trabalhos.
A confirmação da saída do delegado poderia levar uma debandada das equipes do DHPP, já que ele tem apoio de colegas de profissão.
Policiais ligados a Ivalda amenizaram o episódio, afirmando ter sido um ato normal de trabalho, mas que acabou sendo mal interpretado. A indisposição com Vasconcelos estaria assim superada e todos estariam trabalhando arduamente para tentar esclarecer esse crime, considerado de alta complexidade.
A prisão dos suspeitos pela Rota também provocou outra crise envolvendo policiais da força-tarefa. Delegados do Deic (Departamento de Investigações Criminais) e do DHPP teriam se desentendido em público, com troca de ataques verbais, em razão do acionamento da equipe da PM para realizar a prisão.
Policiais presentes ao evento afirmaram que a discussão quase chegou a vias de fatos, tamanha a hostilidade entre eles. Colegas dos dois delegados envolvidos afirmam que, nos dias subsequentes, os dois trocaram pedidos de desculpas e voltaram a conversar normalmente.
Os policiais do Deic teriam criticado a decisão do DHPP de ter acionado a Rota para prender um suspeito de dar apoio ao olheiro do crime que. Para eles, a ação acabou em desastre.
Na ocasião, duas pessoas foram detidas, mas nenhuma delas era o suspeito. Além da prisão de pessoas erradas, há fortes dúvidas se o flagrante contra essa dupla foi forjado.
A defesa dos suspeitos afirma que policiais da Rota teriam plantado munições em veículos usados por eles, entre eles uma moto, para tentar incriminar a dupla. A Justiça considerou ter havido irregularidade na prisão e mandou soltá-los.
"Eu não considero [que as munições foram plantadas], estou afirmando que isso aconteceu. Infelizmente, são os fatos", afirmou o advogado Eduardo Kuntz, que representa os dois presos inicialmente.
O alvo correto, Matheus Soares Brito, suspeito de ter ajudado na fuga de Kauê do Amaral Coelho, 29, suspeito de ter dado o sinal aos atiradores do aeroporto, seria preso posteriormente.
Além de Deic e DHPP, também fazem parte da força-tarefa equipes do IC (Instituto de Criminalística) e do Dipol (Departamento de Inteligência da Polícia Civil). A coordenação das equipes está a cargo do secretário-adjunto da Segurança, o delegado Nico Gonçalves.
Sobre as afirmações feitas contra a Rota, a Secretaria da Segurança afirmou que o caso está sendo investigador em sigilo e, por isso, não pode dar informações. "As corregedorias das duas instituições acompanham as investigações para que todas as medidas pertinentes sejam adotadas, reiterando o compromisso e respeito às leis, à transparência e à imparcialidade", completou a secretaria.
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