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Laudo mostra que PM atirou nas costas de adolescente de 17 anos em Santos

Por Folha de São Paulo

10/12/2024 16h00 — em
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O adolescente Gregory Ribeiro Vasconcelos, 17, foi morto com ao menos quatro tiros pelas costas disparados por policiais militares, além de outros ferimentos por armas de fogo. Ele foi morto enquanto andava de moto com outro adolescente de 15 anos no Morro São Bento, em Santos, na noite do dia 5 de novembro. Na ação, Ryan da Silva Andrade Santos, 4, também foi baleado e morreu.

A descrição dos ferimentos no corpo de Gregory está num laudo do IML (Instituto Médico Legal). O documento mostra sete conjuntos de ferimentos compatíveis com disparos de arma de fogo, além de uma queimadura na barriga. Questionada, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) afirmou que os policiais envolvidos estão afastados de atividades operacionais e que o caso está em sigilo.

No dia de seu enterro, a família de Gregory ficou sem velório e sem o cortejo que havia planejado no bairro onde ele cresceu. O velório foi cancelado devido às condições precárias de conservação do corpo. Familiares e amigos disseram que ele ficou fora do refrigerador durante mais de 24 horas.

O cortejo de Ryan sofreu bloqueios da PM e seu funeral terminou com uma discussão entre manifestantes que foram ao velório e policiais da Força Tática, após uma abordagem em frente ao cemitério.

Os tiros o atingiram de diferentes direções e em várias parte do corpo. Dois disparos o acertaram por trás na região das costelas e saíram pela região do peito. Outro tiro o atingiu na parte de trás do pescoço, saindo próximo do olho esquerdo. Há ainda outro disparo nas costas próximo à axila esquerda.

Ele ainda levou um tiro na lateral da coxa esquerda e dois tiros no braço esquerdo. Já a queimadura na barriga seria resultado de um tiro de raspão, segundo o laudo. Contando o tiro de raspão, o adolescente foi alvo de oito tiros.

O documento confirma os relatos de quem presenciou a ação policial. No dia seguinte à morte de Gregory e Ryan, a Folha de S.Paulo foi ao local, e familiares das vítimas já diziam que os disparos tinham atingido os adolescentes pelas costas. Moradores da rua onde eles morreram também disseram que os adolescentes na moto foram alvejados quando já estavam caídos no chão.

A trajetória dos disparos descrita no laudo também corrobora esse ponto. Três disparos atingiram o corpo de Gregory de baixo para cima —são aqueles que o atingem nas costas e saem pelo peito e pelo rosto.

Outro, que o atingiu na axila, faz o percurso contrário: a perfuração de entrada está acima do ponto de saída. Há ainda três disparos que o atingiram de lado no braço e na coxa, ou seja, vieram de uma terceira direção.

A quantidade de tiros é um indicativo de desrespeito aos protocolos de operação e ao treinamento que os PMs recebem. Em casos de risco iminente à vida de policiais ou outras vítimas, a recomendação é dar dois tiros contra agressores —o que só é admitido como último recurso e após uma série de procedimentos, como anunciar a presença da polícia e ordenar ao suspeito que largue a arma, por exemplo.

Um número maior só seria admitido se, mesmo ferido, o adolescente ainda representasse risco aos policiais. O boletim de ocorrência do caso não faz menção a nenhum desses procedimentos.

A PM afirmou que Gregory e o outro adolescente estavam num grupo de até dez pessoas que atiraram contra policiais da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas). Eles teriam pedido apoio via rádio, e segundo moradores uma viatura descaracterizada se posicionou em outro local para interceptar a moto.

Policiais disseram que houve "novo confronto" com os dois adolescentes da moto, e que os outros suspeitos teriam conseguido fugir. Os moradores da rua negam essa versão, ressaltando que os adolescentes estariam desarmados. A PM afirmou que os policiais envolvidos não usavam câmeras corporais.

SEIS PMS FICARAM EM SILÊNCIO

O relato oficial está baseado em dois depoimentos de policiais, apesar de oito PMs estarem listados no boletim de ocorrência. Os termos de depoimento desses dois policiais são idênticos, inclusive com os mesmos erros de grafia —uma prática de "copia e cola" que já foi denunciada como algo recorrente nos casos que resultaram em morte nas operações Escudo e Verão.

Seis policiais militares decidiram ficar em silêncio na delegacia e só se manifestar posteriormente, após constituírem advogados e serem intimados a depor.

Porta-voz da PM, o coronel Emerson Massera falou em troca de tiros com, possivelmente, mais de cem disparos. Nenhum policial ficou ferido. Em dois boletins de ocorrência sobre o caso, não há menção a viaturas ou motos da PM atingidos por disparos dos suspeitos.

A SSP afirmou que o caso é investigado pela Polícia Civil e pela PM. "Detalhes serão preservados em razão do sigilo determinado pela Justiça", disse a pasta. No dia dos dois enterros, após circularem imagens dos bloqueios ao cortejo de Ryan, a secretaria informou que a PM iria analisar as denúncias.

As mortes de Ryan e Gregory fazem parte de uma série de casos de brutalidade policial que aumentaram a pressão sobre o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Eles incluem um homem morto com 11 tiros pelas costas por um policial que estava de folga, a morte de um estudante de medicina que estava desarmado e a agressão contra um homem que foi jogado do alto de uma ponte por um PM.


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