Lula chega a aldeia em MT para encontro com cacique Raoni
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Lula (PT) chegou no início da tarde desta sexta-feira à aldeia Piaraçu, na Terra Indígena (TI) Capoto/Jarina, em Mato Grosso, para um encontro com o cacique Raoni Metuktire. Raoni é o líder indígena mais conhecido e respeitado do país e foi um dos oito brasileiros que subiram a rampa do Palácio do Planalto na posse de Lula em 2023.

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A primeira-dama, Janja, a ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, também acompanham o encontro.
Como a Folha antecipou, os indígenas devem entregar a Lula uma carta com uma série de demandas ligadas à proteção da região. A articulação foi assinada por 48 comunidades indígenas e ribeirinhas, e cinco organizações da sociedade civil que atuam na região da bacia do Xingu.
De acordo com a programação do evento, uma reunião privada entre Lula e Raoni deve acontecer às 11h20 (horário de Brasília). Após, às 14h, deve ter início uma cerimônia de condecoração do cacique Raoni com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito. A partida do presidente e do grupo que o acompanha deve acontecer às 19h50, em direção a São Paulo.
O evento inclui ainda a presença de outras lideranças da bacia do rio Xingu.
A TI é referência na luta contra o desmatamento e contrasta com os entornos dominados pelo garimpo ilegal e a produção agrícola. Dados oficiais apontam que apenas 0,15% do território de Capoto/Jarina foi desmatado entre 2008 e 2024.
No entanto, o restante do estado teve cerca de 33 mil km² de áreas degradadas de janeiro a outubro de 2024, segundo o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). O valor representa um aumento de 187% se comparado ao mesmo período em 2017, último pico de degradação.
Na última semana, em entrevista à AFP, o cacique adiantou que pediria a Lula para deixar de apoiar a exploração de petróleo na margem equatorial e para demarcar mais terras indígenas.
A carta também cita os incêndios florestais. De 2023 a 2024, o aumento de queimadas na bacia do Xingu foi de 353%. No território indígena do Xingu, especificamente, a alta foi de 124%, enquanto a Terra Indígena Kayapó sofreu com o acréscimo de 1.886% em florestas perdidas para o fogo.
Relação com o presidente
Durante o primeiro mandato do petista, em 2003, Raoni advogou contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, àquela época em fase de planejamento. A usina foi inaugurada em 2011, já no mandato de Dilma Rousseff (PT).
Em episódio mais recente, em 2023, o cacique convidou Lula para o evento Chamado do Cacique Raoni, que reuniu mais de 700 pessoas na aldeia Piaraçu para discutir o marco temporal.
O presidente acabara de realizar uma cirurgia no quadril e não compareceu, enviando em seu lugar a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. Na mesma semana, no entanto, Lula foi à festa do senador Randolfe Rodrigues (sem partido) em Brasília.
À AFP, o cacique afirmou que permitir a exploração de petróleo na Amazônia seria como "repetir erros do passado", se referindo a Belo Monte, e se posicionou contra o projeto de exploração da Bacia Foz do Amazonas. A construção da Ferrogrão -ferrovia que ligará Sinop (MT) a Miritituba (MT)- também é uma de suas preocupações.
Em setembro de 2024, Raoni disse à Folha de S.Paulo que "muitas coisas melhoraram" para os indígenas e o ambiente com a troca de Bolsonaro por Lula. No entanto, afirmou que o governo ainda precisava avançar na demarcação de terras indígenas.
Em outubro do ano passado, o líder indígena foi a Brasília em uma tentativa de ser recebido pelo presidente. Na ocasião, esperou por cerca de 20 minutos no saguão do Planalto antes de ter a confirmação de que o encontro não aconteceria.
Trajetória
Nascido na década de 1930 (a data exata não é conhecida) na aldeia Krajmopyjakare, no nordeste de Mato Grosso, Raoni Metuktire passou anos vivendo como nômade junto aos indígenas kayapós. Teve o primeiro contato com a língua portuguesa em 1954 e, desde então, é ativista pela proteção das florestas e dos modos de vida indígenas.
Em 1984, o cacique conseguiu a demarcação de 15 km de terras indígenas em negociação com o então ministro do Interior, Mario Andreazza. Também participou da Assembleia Constituinte de 1988, levando dezenas de kayapós a Brasília para pressionar por uma Constituição que protegesse os povos originários.
Já recebeu títulos como o de Membro Honorário da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), em 2021, e de cavaleiro da Legião de Honra da França, em 2025. Também foi indicado ao Nobel da Paz em 2020.
VISITA DE HOLLYWOOD
Ainda nesta semana, o cacique recebeu uma visita da atriz americana Angelina Jolie. Ela viajou à aldeia na última quarta-feira (2), com o apoio da organização ambiental Re:wild, fundada por cientistas e pelo ator Leonardo DiCaprio. Imagens publicadas por um fã-clube mostram Jolie ao lado do cacique.
O motivo oficial da presença da estrela de cinema e ativista social na aldeia não foi divulgado.

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