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Morte de delator do PCC completa 1 mês sem prisão de mandantes e atiradores

Por Folha de São Paulo

08/12/2024 14h15 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O assassinato do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, delator do PCC (Primeiro Comando da Capital), a tiros de fuzil no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, completa um mês neste domingo (8) sem a prisão dos mandantes e atiradores, e sem esclarecer a motivação do crime.

Apenas na sexta-feira (6), quatro semanas após o assassinato, dois homens foram presos —eles não estavam entre os dois nomes de suspeitos divulgados pela polícia anteriormente—. Todavia, menos de 24 horas depois, a Justiça mandou soltar a dupla por ilegalidade na prisão.

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CRONOLOGIA: 8 DIAS ANTES DO CRIME

Oito dias antes de morrer, em 31 de outubro, o empresário foi ouvido na Corregedoria da Polícia Civil sobre a delação em que citou uma suposta extorsão de policiais civis.

A Corregedoria ouviu Gritzbach após o MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo) compartilhar com a Polícia Civil trechos da delação em que nomes de agentes eram citados. Diferente do procedimento usual, o empresário foi o primeiro a ser ouvido no órgão.

8/11: O DIA DO CRIME

Gritzbach foi atingido por dez tiros de fuzil, desferidos por homens encapuzados, no final da tarde do dia 8 de novembro (sexta-feira) no terminal 2 de desembarque do aeroporto. Ele voltava de Maceió com a namorada, Maria Paiva, e o motorista particular e segurança dele, Danilo Lima Silva, 35, e outro segurança, o soldado Samuel Tillvitz da Luz, 29.

Três pessoas que estavam no aeroporto se feriram. E um dos feridos, um motorista de aplicativo, morreu um dia após o ataque.

Imagens obtidas pelo colunista do UOL Josmar Jozino (veja abaixo) mostram o empresário caminhando com uma mala na área externa do aeroporto, quando homens armados descem de um Gol e o atingem —a ação dura menos de sete segundos.

No mesmo dia, o carro que teria sido usado pelos atiradores foi encontrado abandonado, com munições de fuzil e colete a prova de balas, em Guarulhos.

9/11: PRIMEIRO DIA APÓS O CRIME

Após denúncia anônima, a Polícia Militar localizou dois fuzis com três carregadores e uma pistola com um carregador que estavam em uma mochila e teriam sido usados no ataque. Os agentes ainda acharam outras duas mochilas que continham mais um fuzil, sete carregadores e dois emplacamentos. As armas foram apreendidas na mesma rua onde o Gol foi achado no dia anterior, a cerca de sete quilômetros de distância do aeroporto.

Na mesma data, a Polícia Federal anunciou que abriu uma investigação sobre o homicídio do empresário. A corporação afirma que realiza a segurança em aeroportos, locais que onde possui jurisdição. O assassinato, no entanto, ocorreu no terminal 2 do aeroporto, uma área externa.

Neste mesmo dia, morreu o motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, atingido por um tiro nas costas durante o ataque.

11/11: FORÇA-TAREFA PARA APURAR O CRIME É ANUNCIADA

O secretário da SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), Guilherme Derrite, anunciou a criação de uma força-tarefa para investigar o crime. O grupo conta com a presença de membros da Polícia Militar, Civil e Científica e outros funcionários da SSP-SP.

19/11: PRIMEIRO SUSPEITO

No dia 19 de novembro, a Polícia Civil de São Paulo divulgou a identidade do primeiro suspeito de envolvimento com o crime: Kauê do Amaral Coelho, 29.

Ele seria o olheiro de Gritzbach e estava no saguão do terminal 2 para acompanhar a chegada da vítima. Por telefone, o olheiro avisou aos executores o exato momento em que o empresário deixava o local.

O homem está foragido e é procurado pela polícia. Ele teria se escondido no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, que é reduto do CV (Comando Vermelho), mas teria sido expulso do local.

A SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) oferece a recompensa de R$ 50 mil para quem fornecer informações sobre o paradeiro de Kauê.

22/11: POLÍCIA ANUNCIA A IDENTIFICAÇÃO DO SEGUNDO SUSPEITO

O segundo suspeito foi identificado como Matheus Augusto de Castro Mota. A prisão dele foi decretada pela Justiça após solicitação da Polícia Civil.

Matheus é apontado como responsável por fornecer os veículos usados na fuga dos outros envolvidos no crime. Ele é sócio de Kauê em uma adega em São Paulo.

No mesmo dia da divulgação do nome do segundo suspeito, a força-tarefa do caso cumpriu oito mandados de busca e apreensão e prisão na capital paulista. A Corregedoria da Polícia Militar também atuou na ação e fez a apreensão de celulares, computadores e alguns outros itens de comunicação.

A ação visava capturar Matheus —o que não ocorreu. Ele segue foragido.

28/11: RETRATO FALADO DO SUSPEITO DE SER UM DOS ATIRADORES

A Polícia Civil divulgou em 28 de novembro o retrato falado do homem que seria, segundo o Departamento de Homicídios de São Paulo, um dos suspeitos de matar o delator.

A imagem mostra um homem com camisa preta e boné branco, traje que teria usado no dia do assassinato.

O retrato, revelado 20 dias após o início das investigações, foi obtido depois da análise de câmeras de segurança.

Após abandonarem o carro usado no crime, os suspeitos seguiram a pé por vias de Guarulhos. Os homens seguiram com cabeças baixas até entrarem em um coletivo. O segundo, apresentado no retrato, usava um boné.

30/11: UM SUSPEITO DE SER ATIRADOR E UM SUSPEITO DE SER MANDANTE SÃO IDENTIFICADOS

A Polícia Civil também identificou um dos atiradores e também um dos mandantes do assassinato do empresário. Segundo apurou o colunista do UOL Josmar Jozino, o atirador identificado integra o PCC, cumpriu condenação de 15 anos e sete meses pelos crimes de tráfico de drogas, roubo a bancos e uso de documento falso e já passou por vários presídios dominados pela maior facção criminosa do Brasil.

Já o suposto mandante integra o PCC, é parente de um dos envolvidos na morte do empresário e ligado ao narcotraficante Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, assassinado a tiros em 2021 no Tatuapé, zona leste de São Paulo.

Apesar da identificação, o nome dos novos suspeitos não foram divulgados pela força-tarefa.

Cara Preta foi morto a tiros com seu motorista, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue. Gritzbach foi acusado ter encomendado o duplo homicídio e virou réu pelo crime. Ele sempre negou envolvimento nas mortes, mas desde então recebia ameaças do PCC.

6/12: PRIMEIRO PRESO, MAS SOLTO EM MENOS DE 24 HORAS

Marcos Henrique Soares, 22, e o tio dele, Allan Pereira Soares, 44, foram presos por agentes da Rota na sexta-feira (6) sob suspeita de envolvimento no crime. Os policiais militares disseram ter apreendido celulares, munições e carregadores de fuzil. A dupla nega a versão dos agentes.

Todavia, no sábado (7), a Justiça mandou soltar a dupla após a juíza Juliana Petelli da Guia apontar que "nada veio ao auto de prisão em flagrante para confirmar a versão registrada, no caso a dos policiais militares. A magistrada acrescentou que "não havia elementos para comprovar a situação de flagrante, de modo que cumpre reconhecer a ilegalidade do ato".

Segundo o defensor da dupla, Guilherme Vaz, os clientes não têm envolvimento com a morte de Gritzbach e não portavam a munição apreendida.

07/11: SAI UM IRMÃO, ENTRA O OUTRO

Na madrugada de sábado (7), Matheus Soares Brito, irmão de Marcos, foi preso por suspeita de ter ajudado na fuga de Kauê para o Rio de Janeiro. Outras pessoas foram detidas, mas acabaram liberadas após depor no DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

Nos bastidores da Polícia Civil, os comentários são de que a Rota fez uma lambança. O alvo seria Matheus, mas prendeu o irmão dele, Marcos, e não foi à casa do suspeito porque recebeu denúncia anônima, como havia divulgado, mas, sim, porque Matheus estava com a prisão temporária decretada.

As defesas de Kauê e Matheus Augusto não foram encontradas para pedido de posicionamento. O espaço segue aberto para manifestação.

Até o momento, oito policiais militares que tinham ligação com o delator foram afastados e são investigados pela Corregedoria da corporação. Pelo menos quatro deles faziam a escolta de Gritzbach no momento em que ele foi morto.

SECRETARIA NÃO RESPONDE SOBRE DEMORA EM PRISÕES

Veja abaixo a íntegra da nota enviada ao UOL pela pasta:

A força-tarefa criada para investigar o crime ocorrido no último dia 8, no Aeroporto de Guarulhos, segue em diligências. Entre a tarde de sexta-feira e a madrugada de sábado a polícia deteve três suspeitos de envolvimento no caso, que foram para o DHPP para serem ouvidos. Houve a apreensão de munições e aparelhos de celular, que serão periciados. As investigações seguem sob sigilo. Mais informações serão preservadas para garantir a autonomia do trabalho policial.

As corregedorias das duas instituições acompanham as investigações para que todas as medidas pertinentes sejam adotadas, reiterando o compromisso e respeito às leis, à transparência e à imparcialidade.


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