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Mulher denuncia médica por perder parte da visão após colocar silicone no Rio

Por Folha de São Paulo

14/04/2025 17h00 — em
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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A vendedora Luciene de Souza, 27, registrou um boletim de ocorrência na 27ª DP do Rio de Janeiro (Vicente de Carvalho) no qual acusa a médica Sandra Patricia Naranjo Gonzalez de lesão corporal após uma cirurgia. A jovem conta que perdeu a audição, parte da visão e o movimento parcial do corpo depois de passar por uma cirurgia de implante de prótese de silicone, em julho de 2024.

Em nota do advogado João Paulo Cruz, que representa Gonzalez, a médica afirma que "não há qualquer indício de falha médica ou condenação" contra ela e que "confia plenamente na elucidação dos fatos".

No boletim de ocorrência, registrado no último dia 9, Luciene afirmou que a médica "não fez o acompanhamento adequado durante sua permanência no hospital". Passados quase nove meses da cirurgia, Luciene segue paraplégica, com 30% da visão comprometida, usa sonda vesical (para drenar a urina da bexiga) e não recuperou a audição.

Na legenda do vídeo publicado nas redes sociais, Luciene explica que não expôs o caso antes "por achar que a situação mudaria". "Mesmo com toda a situação, a doutora me deu alta e me mandou para casa", conta.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro solicitou documentos do Hospital Semiu e investiga o caso. Sandra ainda não foi chamada para depor.

Hospital Semiu, unidade particular onde a cirurgia foi feita, afirmou em nota que a médica não tem vínculo com o local, "de modo que a referida cirurgia se deu de forma autônoma e sob exclusiva responsabilidade" de Gonzalez, e que o hospital "apenas cedeu suas instalações para a realização do procedimento".

"Importante destacar que é comum e rotineiro que médicos sem qualquer relação de preposição com hospitais utilizam-se dos centros cirúrgicos dos nosocômios para realizarem procedimentos médicos em seus pacientes, como no caso em questão, sendo esses médicos responsáveis pelo pré e pós cirúrgico dos pacientes", diz o comunicado. "As obrigações assumidas diretamente pelo complexo hospitalar em casos como esses ficam adstritos ao fornecimento de recursos materiais (instalações adequadas), aos quais a paciente jamais se queixou".

Ainda segundo a nota, o hospital diz que "possui toda estrutura e suporte necessário para garantir a segurança para o tipo de procedimento que fora realizado pela paciente Luciene de Souza".

O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) informou que abriu investigação após repercussão do caso. Questionado sobre quais medidas estão sendo tomadas, o conselho respondeu que a investigação corre em sigilo.

O procedimento era um sonho antigo de Souza. Custou cerca de R$ 20 mil, o que incluiu a internação no Hospital Semiu.

No prontuário enviado por familiares da vendedora, a equipe médica relata inicialmente que o procedimento "ocorreu sem anormalidades" e que a paciente "retornou para a clínica médica".

Uma neurologista, no documento, encontrou quadro compatível com a Síndrome de Devic, uma doença autoimune, e recomendou a medicação que devolveu parte da visão para Luciene. Diante da avaliação da colega, Sandra assinou a alta hospitalar de Luciene e afirmou em documento que continuaria o acompanhamento do pós-operatório em consultório.

No documento, a médica a orientou a procurar uma universidade privada para iniciar o tratamento da doença apontada.

Em casa, a família identificou que Luciene necessitava de cuidados especiais. Dandara Castro, prima de Luciene e técnica de enfermagem, afirma que a médica custeou itens como cadeira de rodas e uma cama especial.

Semanas após a alta, Luciene ainda tinha uma secreção contínua nas mamas, e Sandra a encaminhou para o Hospital Municipal Souza Aguiar.

Na internação, em agosto de 2024, foi constatada a necessidade de cirurgia para retirada das mamas, sob risco de infecção grave. As sequelas não foram tratadas ou investigadas, segundo a prima.

"Eu [estava] sem ouvir, sem enxergar e sem andar, mas isso ela [Sandra] não quis saber se foi através da cirurgia que eu fiquei assim. Se fosse para ficar antes, eu ficaria antes", conta Luciene em vídeo gravado e publicado em redes sociais.

Sem avanços sobre o quadro neurológico e as sequelas, Luciene recebeu alta em outubro. Mesmo com encaminhamento para tratamento, a família afirma que continua sem suporte.

"Quando eu fui para casa, a doutora nunca mais quis saber de mim. Disse que não poderia me ajudar e eu tenho que me virar com tudo, para cuidar de tudo", diz a paciente.

Hoje, Luciene é cuidada por familiares. Amigos e doações custeiam as medicações para dor e ajudam a vendedora autônoma no sustento de seus filhos.

"Os médicos não aceitam [tratá-la], os hospitais não aceitam. Ela tem febre e a UPA [Unidade de Pronto Atendimento] a manda de volta para casa. A gente segue pedindo essa solução porque não sabe o que aconteceu, se é reversível ou não", afirma a prima Dandara.

Em nota enviada pela defesa, Gonzalez afirma ser uma profissional "com uma trajetória consolidada em cirurgia plástica ao longo de mais de 20 anos e 2.500 procedimentos realizados". "Conduzo minha prática com empatia, comprometimento e um profundo zelo pelo bem-estar de cada paciente", diz.

Sobre o caso da vendedora, diz a médica, "reafirmo que todos os cuidados foram prestados com responsabilidade, seguindo os protocolos técnicos da especialidade. A paciente foi devidamente orientada antes da cirurgia, recebeu assistência pós-operatória contínua por mais de 30 dias e permaneceu sob acompanhamento até meu afastamento, por divergências com familiares quanto aos limites legais da atuação médica".

Ainda conforme a profissional, "não há qualquer indício de falha médica ou condenação contra mim. Confio plenamente na elucidação dos fatos e sigo firme no compromisso com a medicina responsável, ética e transparente".

"Mesmo diante disso, sigo à disposição para qualquer esclarecimento, sempre respeitando o sigilo profissional e as normas éticas que regem minha profissão", diz na nota.


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