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Ouvidoria pede armas não letais para PM após morte de senegalês em SP

Por Folha de São Paulo

14/04/2025 18h30 — em
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ouvidor das polícias de São Paulo, Mauro Caseri, defendeu o uso de mais armas não letais para operações da PM como a que levou à morte do vendedor ambulante senegalês Ngange Mbaye, 34, na última sexta-feira (11). Para o ouvidor, a morte poderia ter sido evitada facilmente com equipamentos adequados.

Caseri acompanhou um protesto de senegaleses e de movimentos sociais nesta segunda-feira (14) contra a morte de Ngange. Cerca de cem pessoas fizeram uma passeata pelas ruas do centro da capital, cantando em uníssono "queremos justiça".

Ngange foi morto com um tiro de pistola ao reagir a uma abordagem de policiais militares, que tentavam apreender um carrinho de mercadorias numa operação de fiscalização contra o comércio ilegal no Brás, no centro de São Paulo. Um vídeo do caso mostra que, após ser atingido com golpes de cassetete, Ngange partiu para cima dos agentes com um barra de ferro quando foi atingido pelo disparo.

"Vendo as imagens, podemos concluir que uma situação como aquela não precisava ter o desfecho com morte se o policial estivesse com uma taser [pistola de choque elétrico] ou um spray de pimenta", disse o ouvidor, no meio da manifestação.

O vídeo também mostra que, após ser atingido, Ngange correu e caiu na calçada, a alguns metros da distância do local onde foi atingido.

A reportagem recebeu relatos de que o senegalês teria ficado caído na calçada sem socorro e que a ambulância que o levou à Santa Casa de Misericórdia demorou a chegar. Outra gravação mostra PMs formando um cordão humano ao redor do corpo enquanto pessoas protestavam contra a ação da polícia.

A Ouvidoria pediu à Polícia Militar imagens das câmeras corporais, detalhes do inquérito que investiga a morte e informações sobre a operação. Um dos questionamentos é se os policiais portavam armas não letais.

Caseri afirmou que, por enquanto, a Ouvidoria analisa o caso apenas com base em vídeos da ocorrência e que não recebeu nenhuma denúncia formal de omissão de socorro. Ele também não descartou essa possibilidade.

Ngange foi descrito por amigos e parentes como um homem religioso e trabalhador. Ele tinha uma filha de quatro anos que mora noSenegal e vários parentes que dependiam de sua renda de camelô para viver na África. Sua mãe está doente e seu pai está aposentado, segundo duas pessoas que o conheciam.

Ele havia acabado de sair de uma mesquita, onde havia rezado, e estava almoçando na calçada quando começou a operação no Brás.

"Ele tinha o sonho de trazer a família toda para o Brasil. Esse sonho foi ceifado pela Polícia Militar de São Paulo", disse o professor Mamour Sop Ndiaye, 49, que se apresentou como um parente distante da vítima. "Não queremos confrontar o governador do estado, o prefeito ou a polícia. A única coisa que nós queremos é paz, que é a coisa mais valiosa que nós temos. Senegaleses são um povo com cultura de paz."

Segundo o cônsul honorário do Senegal em São Paulo, Babacar Bá, o corpo de Ngange passou por necropsia e foi liberado nesta segunda. Bá afirmou que o governo senegalês deve arcar com as despesas do transporte. Ele e Ndiaye também afirmaram que a comunidade senegalesa levantou fundos para arcar com custos do velório e do translado.


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