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Patroa da mãe de Miguel pede perdão em carta aberta

Por Folha de São Paulo

05/06/2020 20h47 — em
Variedades



RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - Sari Gaspar Côrte Real, patroa da mãe do garoto Miguel Otávio Santana da Silva, 5, que morreu nesta terça-feira (2) após cair do 9º andar de um prédio no Recife, pediu perdão em carta aberta.

O menino estava aos cuidados da patroa, enquanto sua mãe, Mirtes Renata de Souza, saíra para passear com a cadela da família.

"Te peço perdão. Não tenho o direito de falar em dor, mas esse pesar, ainda que de forma incomparável, me acompanhará também pelo resto da vida", escreve Sari para a mãe do menino.

Ela diz que está sendo condenada pela opinião pública. "As redes sociais potencializam o ódio das pessoas. Tenho certeza que a Justiça esclarecerá a verdade."

Em outro trecho, afirma que reza muito para que Deus possa amenizar o sofrimento de Mirtes e confortar o seu coração. "Na nossa casa, sempre sobrou carinho e amor por você, Miguel e Martinha. E assim permanecerá eternamente."

Sari escreve que não há palavras para descrever o sofrimento da perda irreparável. "Como mãe, sou absolutamente solidária ao seus sofrimento. Miguel é e sempre será um anjo na sua vida e na sua família."

A criança morreu nesta terça-feira (2) após cair do nono andar do edifício residencial Píer Duarte Coelho, mais conhecido como Torres Gêmeas, no bairro de São José. Sari Côrte Real permitiu que ele entrasse no elevador sozinho.

A Polícia Civil de Pernambuco prendeu Sari em flagrante por homicídio culposo após ela deixar que o menino se deslocasse até o andar mais alto, onde escalou um buraco de ar condicionado, caiu e morreu. Após pagamento de fiança no valor de R$ 20 mil, Sari foi liberada.

Investigadores afirmam que as imagens de circuito interno mostram a mulher observando o menino entrar no elevador no 5º andar e registram o momento em que ela apertou o botão para a cobertura. O menino, segundo o vídeo, acionou os botões do 7º e do 9º andar, onde desembarcou.

No início da tarde desta terça-feira, uma pergunta reverberou nas ruas do Recife durante ato de protesto contra a morte do garoto: "E se fosse ao contrário?".

Os manifestantes se concentraram em frente ao Tribunal de Justiça de Pernambuco, no centro do Recife. Com cartazes que pediam justiça, seguiram em marcha até o prédio, também na área central da cidade.

Algumas pessoas se deitaram no chão e repetiram que "não foi um acidente". Em frente ao edifício, gritaram a palavra "assassina". Alguns vestiam uma camisa com uma imagem do garoto.

Em entrevista à Rede Globo, a mãe do garoto disse que confiou o filho à patroa e que esta não teria tido a paciência para retirá-lo do elevador.

"Se fosse ao contrário, eu não teria direito à fiança. É uma vida que se foi por falta de paciência. Não se deixa uma criança sozinha dentro de um elevador", disse.

O nome de Mirtes Renata Souza, mãe de Miguel, consta no quadro de servidores da Prefeitura de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, desde 2017. Ela trabalhava havia quatro anos como empregada doméstica na casa do prefeito do município, Sérgio Hacker (PSB), e da primeira-dama, localizada no Recife.

Em entrevista ao UOL, nesta sexta (5), Mirtes disse que recebia o salário das mãos dos patrões e se disse surpresa com a informação.

A Promotoria de Justiça de Tamandaré instaurou um inquérito civil com a finalidade de apurar possível prática de improbidade administrativa do prefeito Sérgio Hacker no caso da nomeação de Mirtes.

A Prefeitura de Tamandaré declarou que só vai falar sobre o assunto na próxima semana. Em nota, afirmou que o prefeito se encontra profundamente abalado e que, no momento próprio e de forma oficial, prestará informações aos órgãos competentes.

No fim da tarde, o PSB comunicou em nota que o partido defende a apuração do caso pelos órgãos de controle e que qualquer ato ilícito seja punido.

Mirtes trabalhava na casa da suspeita e levou o filho, Miguel, ao local de trabalho por não tinha com quem deixá-lo.

Escolas e creches estão fechadas devido à pandemia do novo coronavírus, e a mulher continuava trabalhando para o casal apesar da alta incidência da doença em Recife. O próprio Hacker anunciou em abril que estava infectado pelo novo coronavírus.

"A responsabilidade legal naquela circunstância era da moradora. A criança permaneceu e estava sob a sua responsabilidade", disse o delegado responsável pelo caso. "Ela tinha o poder e o dever de cuidar da criança e impedir, em última análise, o trágico resultado que adveio de uma tragédia."

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