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Pequenos Estados insulares e países menos desenvolvidos abandonam sala de negociação na COP29

Por Folha de São Paulo

23/11/2024 12h00 — em
Variedades



DUBAI, EMIRADOS ÁRABES UNIDOS (FOLHAPRESS) - As delegações dos pequenos Estados insulares e dos países menos desenvolvidos abandonaram reunião com a presidência da COP29, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas) que acontece em Baku, no Azerbaijão, neste sábado (23), para protestar contra o projeto de acordo que estava sendo preparado.

Com isso, as negociações em Baku, já atrasadas em mais de 18 horas, estão temporariamente suspensas.

"Saímos (...). Consideramos que não fomos ouvidos", disse Cedric Schuster, enviado de Samoa em nome da aliança dos pequenos Estados insulares (Aosis, como é conhecida na sigla em inglês). O grupo dos países menos desenvolvidos, por sua vez, é chamado de LDCs, também pela sigla em inglês.

"Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e os países menos desenvolvidos estão entre os mais afetados por esta crise climática que não causamos. Ainda assim, temos sido continuamente desrespeitados pela falta de inclusão, nossos apelos estão sendo ignorados", afirmou também Schuster.

Segundo os negociadores, eles se retiraram temporariamente das discussões para que a presidência reflita e os chame novamente para as conversas.

Os países menos desenvolvidos e os países-ilha que compõem a aliança somam mais de 70 nações. Entre os pedidos do grupo está a cifra de US$ 500 bilhões anuais até 2030. Em rascunho, os países ricos propõem US$ 250 bilhões anuais até 2035.

Com o aquecimento global, a elevação do nível dos oceanos causada pelo derretimento de geleiras coloca os países-ilha em risco de perder parte ou até a totalidade de seus territórios.

Mais de 300 ONGs pediram neste sábado que os países em desenvolvimento abandonem a COP29 se os países ricos não aumentarem sua proposta para o financiamento da adaptação às mudanças climáticas. O esboço de decisão divulgado na sexta (22) é visto pelo grupo de ONGs como inaceitável.

"Se nada suficientemente contundente for proposto nesta COP, convidamos vocês a deixar a mesa [de negociações] para lutar outro dia e nós nos envolveremos na mesma luta", escrevem 335 organizações em uma carta dirigida à aliança G77+China, que agrupa 134 países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, e o gigante asiático.

"Insistimos: é melhor não ter um acordo em Baku do que um acordo ruim, e é um acordo muito, muito ruim devido à intransigência dos países desenvolvidos", destacam.

A cúpula sobre mudanças climáticas entrou oficialmente em prorrogação na sexta-feira à tarde, após 12 dias de negociações que não chegaram a um consenso.

A plenária final do evento foi agendada para o meio-dia (horário de Brasília; 19h em Baku) deste sábado, mas a situação é incerta, uma vez que, com o protesto dos países insulares e dos menos desenvolvidos, as negociações ficam estancadas.

As discussões atravessaram a madrugada deste sábado em Baku após a proposta dos países ricos de aumentar sua contribuição anual de US$ 100 bilhões (pactuada para até 2025) para US$ 250 bilhões ser considerada insuficiente por ONGs e países em desenvolvimento.

Segundo negociadores ouvidos pela AFP, a Europa está disposta a elevar a proposta para US$ 300 bilhões, sob condição de alterar outros pontos no texto. O valor foi citado pelo Brasil nesta sexta como uma contraproposta apoiada pelo Itamaraty.

Especialista em política internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim avalia que os países desenvolvidos já chegaram a Baku sem a disposição para verdadeiramente discutir a cifra necessária para fazer face às mudanças climáticas.

"É visível que não era intenção dos países desenvolvidos discutir um valor para o financiamento climático em tempo hábil, sem contar que o valor é absolutamente ridículo. Agora subiram a proposta de US$ 250 bilhões para US$ 300 bilhões até 2035, o que continua sendo vergonhoso e não reflete o tamanho dos desafios que o financiamento climático precisa dar conta nos países em desenvolvimento", afirmou.

"Só no Brasil, por exemplo, em 2024, as inundações de maio no Rio Grande do Sul

custaram ao menos US$ 17 bilhões aos cofres públicos", relembrou. "Não temos mais tempo para acordos vagos e compromissos diluídos como os apresentados na COP29 até o momento. Infelizmente, a ação climática nos países em desenvolvimento está cada vez mais difícil sem financiamento."


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