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Primeiro retirado da favela Moinho terá orçamento apertado e distância de irmão

Por Folha de São Paulo

22/04/2025 19h00 — em
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A família do motorista Claudevan Silva Marques, 32, foi a primeira a ser retirada pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) da favela do Moinho na manhã desta terça-feira (22). Com a esposa, Bárbara, 28, ele morava na favela desde 2011.

O casal tem duas filhas, Isabela, 6, e Celina, 1 ano e 11 meses. Ele saía para trabalhar e deixava as três em casa.

A mais velha teve de se submeter a uma traqueostomia quando bebê e já passou por algumas cirurgias. Ela tem consultas médicas e tratamento fonoaudiológico na região central. As meninas também frequentam escolas próximo da favela. Por isso, a família decidiu buscar um lugar para morar perto do centro.

A opção tem um custo elevado. Com um desconto dado pelo patrão de Claudevan, eles conseguiram alugar um apartamento próximo da empresa, no Bom Retiro. Mesmo com o pagamento de um auxílio de R$ 800, a conta não será fácil. O salário dele é de R$ 2.300 e o aluguel custa R$ 1.700, com mais R$ 380 de condomínio. Ou seja, a família terá pouco mais de R$ 1.000 para outras despesas mensais.

O apoio do chefe tem uma razão, segundo Claudevan. Ele começou a trabalhar na empresa quando tinha menos de 18 anos, assim que chegou de Batalha (AL). "Lá é meu primeiro registro em carteira", conta. Antes do Moinho, ele teve apenas um outro endereço na cidade, na favela do Parque do Gato, onde viveu por três meses.

A previsão é que a família receba o auxílio por um ano e meio. Depois disso, eles devem se mudar para um conjunto habitacional que está sendo construído na avenida Parada Pinto, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte. O contrato seria assinado ainda nesta terça-feira.

Ele concordou em deixar sua casa, que ocupava na parte de cima de um sobrado, com janelas viradas para a linha férrea. No apartamento para onde mudaram, com uma metragem maior, terão a mesma distribuição da antiga casa: dois quartos, sala, cozinha e banheiro.

Bárbara lembra quando o casal se conheceu e ainda morava em um barraco de madeira, comprado em 2011. "A gente construiu em alvenaria a partir de 2013, com muito esforço tanto para a construção quanto para levantar o dinheiro para fazer a obra", diz.

Para ela, apesar do auxílio, as pessoas deixam a favela sem nenhuma garantia e com a possibilidade de perder o valor que gastaram para construir seus barracos. "Até para construir em madeira não é barato. O terreno não era da gente, mas saímos sem receber nada pelo que construímos", diz.

Ela relata que o temor deles e de outros moradores é não conseguir pagar as prestações e ter de voltar para uma favela ou ocupação e reconstruir tudo do zero. Por isso, a associação dos moradores do Moinho pediu que as casas sejam lacradas, mas não sejam desmontadas, como era a proposta inicial da CDHU. A empresa manifesta uma preocupação com a possibilidade de as casas vazias receberem novos ocupantes.

A mudança também vai separar a família. Irmão de Claudevan, o pedreiro José Carlos, 34, também vai deixar a favela no sábado. O endereço provisório dele será no Jardim João XXIII, na zona oeste. "Conseguimos um aluguel lá de R$ 1.000, ainda assim teremos de completar o auxílio que receberemos", diz Aline, esposa de José Carlos.

Quando o prédio onde vão morar ficar pronto, eles passarão a morar em São Matheus, na zona leste. "Vamos ter de mudar as meninas de escola e o atendimento de Unidade Básica de Saúde agora e depois quando formos para o novo apartamento", diz ela. A vontade do casal era esperar e mudar para o endereço definitivo de uma vez.

Funcionários da CDHU informaram que oito famílias se mudaram nesta terça. O começo da operação só teve início depois de muita discussão entre os funcionários da CDHU e os moradores, que exigiam que a Polícia Militar não entrasse no lugar para acompanhar as mudanças.

Claudevan disse que estava cansado das revistas sempre que saía de casa, quando tudo que carregava era revistado. As operações policiais, consideradas violentas pelo casal, aumentavam a sensação de insegurança de quem vivia na comunidade.

"A gente só está saindo por causa da pressão da polícia", diz.


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