Resultado de novo estudo confirma cenário crítico da educação brasileira desde os anos iniciais
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Foram divulgados nesta quarta-feira (4) os resultados do Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (TIMSS), conduzido pela Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional (IEA), que reúne instituições e agências internacionais de pesquisa. Trata-se de uma avaliação internacional de aprendizagem em matemática e ciências, realizada desde 1995, e consolidada em diversos países desenvolvidos.
A edição de 2023 marcou a estreia do Brasil no estudo, permitindo ao país ter mais dados sobre a qualidade da educação brasileira em comparação com o cenário internacional.
Antes dessa participação, a principal referência externa sobre o desempenho dos estudantes brasileiros era o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), aplicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a jovens de 15 e 16 anos. Com a adesão ao Estudo Internacional de Progresso em Leitura (PIRLS) em 2021 e agora ao TIMSS, o Brasil passa a ter mais indicadores internacionais de qualidade, abrangendo os anos iniciais e finais do ensino fundamental. Contudo, esse diagnóstico mais amplo confirma uma realidade preocupante: as dificuldades de aprendizagem no Brasil já estão presentes desde os primeiros anos de escolaridade.
Os resultados do PIRLS já haviam evidenciado desafios críticos em leitura. Apenas 62% dos alunos brasileiros do 4º ano do ensino fundamental atingiram o nível básico de aprendizado, enquanto a taxa foi superior a 95% em países como Espanha, Holanda, Inglaterra, Itália e Polônia. Agora, o TIMSS reforça o diagnóstico negativo, mostrando que em ciências apenas 61% dos alunos brasileiros alcançam o nível básico de aprendizado e que, em matemática, esse percentual é ainda menor, 49%.
Em termos práticos, isso significa que menos da metade dos alunos do 4º ano dominam habilidades fundamentais, como adição e subtração de números inteiros de três algarismos e operações básicas de multiplicação e divisão.
O cenário é tão crítico que 16% dos brasileiros tiveram um desempenho nos itens de múltipla escolha abaixo do esperado para um aluno que chutasse todas as questões da prova. Por esse motivo, aliás, a IEA sinaliza que as médias do Brasil podem estar mal estimadas, devido aos resultados desses estudantes que demonstraram não conseguir fazer a prova (ou, talvez, não se engajaram para fazê-la).
O cenário do 8º ano de matemática se mostra ainda pior, com somente 38% dos alunos chegando ao nível básico. No entanto, fica evidente que a urgência já aparece no 4º ano. Ainda que a média e o percentual de alunos no nível básico sejam melhores na avaliação dos mais novos, o país já está muito atrás dos outros países que fazem a prova. Até mais no 4º ano (103 pontos atrás da média geral) do que no 8º ano (100 pontos atrás da média geral).
Essa realidade contrasta um pouco com os resultados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que vinha apontando progresso nos anos iniciais. O PIRLS e o TIMSS apontam que a situação dos anos iniciais do Brasil é desafiadora. Há a necessidade de uma mudança significativa nas práticas pedagógicas e nas metas de aprendizagem do país. Embora o Saeb tenha sido fundamental para monitorar o progresso dos alunos, tanto ele como os currículos aplicados nas redes de ensino precisam ser repensados para garantir uma aprendizagem mais sólida e estruturante.
A discrepância entre o Brasil e os países desenvolvidos vai além dos números: é uma negação de oportunidades e equidade. Permanecer nessa situação significa aceitar que milhões de crianças, em especial as mais vulneráveis, não terão acesso à transformação social por meio da educação. Por isso, é urgente avançar no que ensinamos em nossas escolas e alinhar nossas expectativas de aprendizagem aos padrões internacionais.
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