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Universidade itinerante criada nos EUA quer trazer alunos do mundo todo para São Paulo

Por Folha de São Paulo

15/03/2025 13h00 — em
Variedades


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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após completar uma década de existência e levar alunos para estudar em seis países do mundo, a Universidade Minerva planeja incluir São Paulo em seu roteiro acadêmico.

A instituição americana, que oferece apenas aulas online e sem cursos tradicionais, avalia que a experiência na capital paulista pode contribuir para a formação dos jovens.

O estudante da Minerva passa cada semestre em um país diferente, e o plano é incluir São Paulo na lista.

Criada com o objetivo de formar líderes globais, a universidade promete um ensino inovador em que os alunos desenvolvem uma série de habilidades, ainda que não saiam formados para exercer nenhuma profissão tradicional, como a de médico ou engenheiro.

Na última quinta-feira (13), Mike Magee, presidente da universidade, esteve em São Paulo para uma série de encontros com banqueiros e empresários que são potenciais doadores para a instalação da unidade no Brasil.

"Depois de completarmos uma década, nós começamos a pensar em como queremos crescer e quais cidades são ideais para construirmos experiências de aprendizagem para os nossos alunos. Buscamos cidades que são culturalmente e economicamente vibrantes e São Paulo, com certeza, é uma delas", disse Magee, em entrevista à Folha de S.Paulo.

Outro fator para o interesse em trazer a universidade para São Paulo é tentar atrair mais brasileiros. Dos cerca de 900 alunos formados pela Minerva, 49 são do país (e outros 34 estão atualmente cursando). Estudar na universidade custa cerca de US$ 50 mil ao ano.

Magee não revela o valor necessário para a instalação em São Paulo, e diz que é possível ter a estrutura para receber os alunos em até 18 meses.

PERGUNTA - O Brasil é um dos países com o maior número de alunos da Minerva, porque você acha que os brasileiros têm tanto interesse na universidade?

MIKE MAGEE - Nós temos mais alunos do Brasil do que de qualquer outra nação na América Latina, mas nós poderíamos atender muito mais brasileiros se conseguíssemos expandir nosso programa de bolsas. Entendo que a questão financeira é um entrave para que mais jovens do Brasil cheguem até nós.

P. - O Brasil atravessa um cenário político e econômico bastante desafiador. Esse contexto impulsiona a vontade dos jovens de fazerem faculdade em outro país?

MM - Estamos em um momento muito assustador para os jovens do mundo todo, acabamos de sair da pandemia, vivemos conflitos geopolíticos, incertezas econômicas. Esse cenário faz com que seja ainda mais importante experimentar o mundo, ter experiências em diferentes cidades te faz pensar no tipo de carreira que quer ter, como quer viver a vida e também como você pode ajudar a desenvolver sua própria nação.

Eu imagino que para alguns jovens brasileiros essa ideia pode ser muito inspiradora, motivadora, que a ideia de uma educação global possa dar uma verdadeira esperança.

P. - O Brasil tem universidades muito bem reconhecidas no mundo, mas o sistema de ensino superior brasileiro atravessa uma crise com a alta evasão dos jovens. Esse é um desafio que outros países também enfrentam. Você acha que o formato de ensino da Minerva pode ser mais atraente para essa geração?

MM - Eu acho que nós conseguimos tornar o ensino superior mais atrativo e efetivo para os jovens. Tenho números que comprovam isso, 93% dos nossos alunos se graduaram no tempo certo, 95% deles dizem que após seis meses da graduação já estavam na carreira que gostariam.

Então, eu acho que a Minerva é um modelo muito efetivo para ajudar a pensar sobre quem você quer ser, onde você quer viver e o que você quer fazer na vida. Eu acredito que precisamos mudar o formato das universidades, porque os jovens do mundo todo estão nos dizendo em palavras e ações que estão insatisfeitos com a educação tradicional.

Quando converso com reitores e diretores das mais prestigiadas universidades do mundo, eles reconhecem que têm um problema. Mas essas instituições muito grandes têm dificuldade de mudar rapidamente. Nós, por sermos uma instituição pequena, conseguimos nos adaptar às novas necessidades mais rapidamente.

P. - Por que a Minerva opta pelas aulas online?

MM - Houve muitas críticas a essa modalidade, especialmente após a experiência na pandemia.

Primeiramente, eu acho que a maior parte da educação online é terrível, a maioria do que é ofertado a distância é muito ruim. Mas a Minerva conseguiu desenvolver algo muito especial. Cada aula é um seminário em que os alunos constroem uma relação com seus professores e colegas. Porque a cada aula ele é envolvido em uma discussão, ele se sente relevante e interessante.

Outra razão para as aulas online é que esse formato permite que nossos alunos estejam em qualquer lugar do mundo. Um aluno em Buenos Aires pode acompanhar a aula junto com um aluno em Taipei ou em San Francisco. Isso nos ajuda a orquestrar o aprendizado global de uma forma que seria muito difícil se não fosse assim.

P. - O que diferencia o modelo da Minerva de uma experiência de intercâmbio?

MM - Não acredito que sejam experiências semelhantes. Quando um aluno está na graduação e vai fazer intercâmbio em outra instituição, ele se desvincula por um tempo da universidade em que estava originalmente. Na Minerva, tudo está conectado. Nós desenhamos uma experiência para os alunos em Berlim, Tóquio, Buenos Aires para que ele possa aproveitar e aprender nessas cidades.

A alternância de cidades faz com que ele aprenda a cultura e história de cada lugar, pode construir uma rede de contatos e fazer estágios em diferentes países e contextos. Então é infinitamente mais intencional do que simplesmente estudar no exterior.

Raio-X

Michael Magee, 53

Doutor em literatura americana, por mais de uma década foi professor em Haverford College, na Pensilvânia, Wheaton College, em Massachusetts e na Rhode Island School of Design. Foi também fundador e CEO da Chiefs for Change, ong que dá apoio para escolas públicas de ensino fundamental e médio nos Estados Unidos. Se tornou o segundo presidente da Universidade Minerva em 2022.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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