Manaus/AM - A médica ginecologista Marcela Sousa, que tem o pai internado com coronavírus,  usou as redes sociais para denunciar "cenas de horror" testemunhadas por ela na Sala Rosa do Hospital 28 de Agosto, na última semana. 

Ela conta que viu "várias pessoas falecendo sem uma gota de dignidade, sem assistência médica", e que sabe que os profissionais estão dando o seu máximo pois "trabalham incansavelmente dia e noite, praticamente morando dentro dos hospitais e sem receber salários por 4 meses", mas critica o governo do Estado pela falta de estrutura na chamada 'sala rosa', que intitula de 'sala da morte'.  Leia, na íntegra, o relato da médica:

"Sala Rosa do Hospital 28 de Agosto - A SALA DA MORTE!!!!

Boa tarde, utilizando hoje minhas redes sociais pra fazer um desabafo. Gostaria de esclarecer antes de tudo, que não possuo partido político, apenas luto por um país melhor para todos nós.
Me chamo Marcela Sousa, médica ginecologista/obstetra, farei um desabafo como usuária do serviço público, mas, com um olhar técnico.
Meu pai (Sr. Pedro de Sousa) está com diagnóstico de COVID-19, internou no hospital 28 de agosto na manhã de quarta feira dia 29/04/2020, no dia 30/04/2020 foi transferido para a sala rosa, o que eu eu vi nesta sala foi uma cena de terror, como nunca vi antes nos meus 10 anos de formada. Vi várias pessoas falecendo sem uma gota de dignidade (SEM ASSISTÊNCIA MÉDICA).
Não estou aqui para falar mal dos profissionais de saúde (médicos e equipe de enfermagem), pois, sei que todos estão dando o seu melhor, trabalhando incansavelmente dia e noite, conheço colegas que estão praticamente morando dentro dos hospitais, sem poder voltar pra casa e sem receber seus salários há aproximadamente 4 meses!!!!!
Bom, a minha crítica é a respeito da falta de gestão pública, da má administração e total despreparo do Sr. Governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima.
Como pode intitular uma sala denominada de rosa pra atender pacientes com COVID-19, sem a menor estrutura de funcionamento, ou seja, pacientes alojados praticamente um em cima do outro e sem o quantitativo suficiente de profissionais para atender tais pacientes (ISSO É DESUMANO). Digo sim, que esta sala é a SALA DA MORTE, pois as pessoas morrem sem dignidade, sem o direito estabelecido pela constituição de acesso à saúde pública!!!

Finalizo o meu desabafo fazendo a seguinte pergunta ao Sr Governador: Se o Sr adocer, o Sr irá para a sala rosa????
Fica aqui o meu desabafo pra essa má gestão que vem administrando o nosso Estado! Espero ter sido a voz de muitas pessoas que estão passando pela mesma situação que eu!!!

Obs- meu pai já foi transferido para o Hospital Delphina Aziz, tendo um atendimento digno, graças a Deus, mas, precisava relatar esta cena de terror presenciada na sala rosa do Hospital 28 de Agosto.

Gostaria de deixar claro que a crítica não é de forma alguma para os colegas que estão na linha de frente, esses profissionais são exemplares e lutam incansavelmente para salvar vidas! A crítica é para a má gestão do Sr Governador!

Convido o Ministério Público do Estado do Amazonas a conhecer a Sala Rosa do Hospital 28 de Agosto, vulgo Sala da Morte!!!

Me ajudem a compartilhar, não aceitem que seus familiares morram na sala da morte.

Marcela Sousa
CRM- AM 7064
Ginecologista/Obstetra"

Confira nota da Susam na íntegra:

"

As Salas Rosas no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, assim como nas outras 15 unidades da rede estadual que atendem covid-19, foram instaladas para que os pacientes sintomáticos, ao chegar nessas unidades, não dividam o mesmo espaço com os demais pacientes que buscam outro tipo de assistência. 

O local tem corpo clínico exclusivo e preparado para fazer a avaliação, estabilização e acompanhamento dos pacientes, antes que estes sigam o fluxo de internação na própria unidade ou sejam transferidos para um dos dois hospitais de referência para internação de pacientes graves, via Sistema de Regulação inter-hospitalar, como foi o caso do pai da denunciante encaminhado ao Delphina Aziz.

A Secretaria de Estado de Saúde (Susam) ressalta que, conforme o avanço da pandemia, vem ampliando a oferta de leitos para covid 19 no HPS 28 de Agosto.  Até este domingo (03/04), a unidade tinha  240 leitos para esta finalidade. Neste domingo novas enfermarias ficaram prontas e vão dar suporte às Salas Rosas para internação de pacientes estáveis, que não precisam de UTI."