STF autoriza envio de celulares de pessoas ligadas a Aécio aos EUA
BRASÍLIA - O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o envio para o exterior de quatro telefones e dois aparelhos eletrônicos apreendidos em endereços de pessoas ligadas ao senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Entre eles estão sua irmã Andrea Neves e seu primo Frederico Pacheco de Medeiros. O pedido foi feito pela Polícia Federal (PF), que afirmou não ter conseguido extrair os dados. Assim, é necessário enviar os aparelhos para que uma empresa sediada no Estados Unidos faça isso.
O pedido da PF foi feito em 13 de setembro. No dia 21, Marco Aurélio pediu a opinião da Procuradoria Geral da República (PGR). Em 25 de setembro, a procuradora-geral, Raquel Dodge, respondeu, dizendo não se opor à solicitação. Dois dias depois, o ministro autorizou, mas ressalvando que, antes do envio dos aparelhos, os próprios investigados poderiam fornecer as senhas. Os dados vão ajudar na investigação que apura se Aécio Neves recebeu propina do frigorífico JBS.
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"Defiro o pedido formulado pela autoridade policial, autorizando o encaminhamento do material apreendido para verificação da viabilidade de extração dos dados no exterior, sem prejuízo de os detentores dos aparelhos virem a fornecer, espontaneamente, colaborando para o esclarecimento dos fatos, as senhas necessárias ao acesso pretendido", decidiu Marco Aurélio.
Na lista de aparelhos há um iPhone de Andrea Neves e um iPad e um iPod de Mendherson Souza Lima, todos da Apple. Mendherson é um ex-assessor do senador Zezé Perrella (PMDB-MG), aliado de Aécio. Marco Aurélio autorizou ainda o envio ao exterior de um celular Motorola de Frederico Pacheco, e dois iPhones de Gustavo Perrella, filho de Zezé Perrella. A PF informou que consegue desbloquear dispositivos com a versão 7 do iOS, o sistema operacional da Apple. Os aparelhos, no entanto, rodavam versões que iam da 8.4 à 10.3.1.
Procurado pelo GLOBO para informar se vai disponibilizar a senha, o advogado Antonio Velloso Neto, que defende Mendherson, disse que não conversou com seu cliente ainda a respeito. Mas destacou: "Que fique claro que colaboramos com a Justiça desde o primeiro momento." A defesa de Andrea Neves não deu retorno até o momento. O GLOBO não conseguiu entrar em contato com o advogado de Frederico. No caso de Gustavo Perrella, o advogado Michel Asseff Filho informou que as senhas já foram fornecidas.
— No momento da apreensão, as senhas foram apresentadas pelo meu cliente. Em relação a ele, se não têm mais a senha, estamos à disposição de fornecer e colaborar com a justiça. Não há necessidade de enviar aparelho nenhum para o exterior — disse o advogado.
No pedido encaminhado a Marco Aurélio, o delegado Josélio Azevedo de Souza, coordenador do Núcleo Político da Operação Lava-Jato na PF, afirmou que os aparelhos estavam bloqueados com senhas e que "a versão da ferramenta forense disponível no Instituto de Criminalística não conseguiu extrair os dados e informações dos aparelhos, sendo necessário a remessa dos materiais apreendidos à sede da empresa responsável pelo equipamento de extração das informações nos Estados Unidos da América."
O delegado também informou: "Assim, considerando que está prevista uma viagem oficial de um perito criminal federal àquele país no dia próximo dai 24/09, requeiro autorização para encaminhamento dos mesmos para verificação da possibilidade de extração dos dados no exterior." A decisão de Marco Aurélio, no entanto, foi tomada apenas no dia 27.
Frederico e Mendherson são acusados de ter intermediado o repasse de propina paga pelos executivos da JBS a Aécio. Andrea teria sido a responsável pela primeira abordagem a Joesley Batista, dono da empresa, por telefone e via WhatsApp. Os três foram presos preventivamente em maio por ordem do ministro Edson Fachin, do STF. Em junho, a Primeira Turma do tribunal concedeu a eles a prisão domiciliar.
Joesley gravou uma conversa com Aécio, que não foi preso, na qual o senador aparece pedindo R$ 2 milhões, sob a justificativa de que precisava da quantia para pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato. O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no entanto, disse em maio ter elementos para afirmar que o dinheiro não foi repassado a nenhum advogado algum.
As filmagens feitas pela PF durante as investigações mostraram que, após receber o dinheiro em São Paulo em nome de Aécio, Frederico o repassou para Mendherson. Ele as levou de carro a propina para Belo Horizonte. Fez três viagens, sempre seguido pela PF. O assessor teria negociado para que os recursos fossem parar na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, de Gustavo Perrella.
Não é a primeira vez que a PF tem problemas em extrair dados. O mesmo ocorreu com o celular de João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, amigo do presidente Michel Temer. O ministro Fachin autorizou a PF a usar uma técnica especial para extrair os dados, mas, nesse caso, não houve pedido para enviar o aparelho para o exterior.
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