Aldeia Tururukari Uka recebe Mostra Doc Agricultura e Gastronomia em Manaus
MANAUS/AM - Comer o que a terra dá e descolonizar os pratos e os hábitos alimentares. Esta é a proposta central da Mostra Doc Agricultura e Gastronomia, projeto contemplado no edital de patrocínio do Banco da Amazônia/Governo Federal, iniciado em agosto deste ano. A atividade de encerramento acontece neste sábado e domingo (25 e 26) na Aldeia Tururukari Uka (km 47 Vila Verde UBIM, estrada de Manacapuru). O acesso é gratuito.
Além da exibição de curtas metragens, o evento promoverá uma oficina de agricultura participativa, onde serão trocadas experiências sobre as práticas da agricultura ecológica indígena e iniciado, junto aos participantes, uma horta para Escola Municipal Indígena da Comunidade, incluindo a produção do biofertilizante e tratamentos biológicos para a produção de alimentos. Para participar é necessário entrar em contato com Francisco Uruma Kambeba, Aldeia Tururukari Uka (92 98449-8555).
Participarão como palestrantes a ativista indígena Vanda Ortega, a personal chef Janaina Marinho, a nutricionista e ativista alimentar Camila Cyrino, Emerson Vagalume, técnico florestal e agroecólogo e o Alexandre Vitor, gastrônomo e agroecólogo.
O projeto Mostra Doc Agricultura e Gastronomia visa debater o movimento agroecológico no cenário de perda da identidade cultural, o desuso e esquecimento de diversas plantas na alimentação, a divulgação da riqueza e sabor do conceito PANC – Plantas Alimentícias Não Convencionais, promovendo o resgate dessas culturas desconhecidas, com potencial para complementação alimentar, diversificação dos cardápios e dos nutrientes ingeridos e na diversificação das fontes de renda familiar, como a venda de partes das plantas ou de produtos processados (geleias, pães, farinha, etc.).
“Colaboramos com o projeto com objetivo de despertar o interesse para agricultura e produção de alimentos para merenda escolar”, afirma o Tuxaua Francisco Uruma Kambeba, presidente da comunidade e coordenador da ação junto com as lideranças Larissa Kambeba, Mara Kambeba, Tximbo Atucupy, Awuima e Apysara.
A segunda edição tem a curadoria da Nora Hauswirth, curadora suíça que vive em Manaus e atua com o projeto Tururu Cine e com o Movimento Arte & Escola na Floresta na área da agricultura participativa e educação ambiental. A produção do projeto foi realizada pelo agroecólogo e educador ambiental Alexandre Victor. A mostra é realizada em parceria com o movimento Arte & Escola na Floresta no Centro Treinamento Agroflorestal do MUSA, o Casarão de Ideias, a Comunidade Igreja Mundial de Cristo, a Comunidade Indígena Tururukari Uka, e vários gastrônomos de Manaus.
Comunidade Tururukari Uka
O povo Omagua, também conhecido como Kambeba, tem a sua origem em Lima, Peru. Além de Manaus, no Alto Rio Solimões, vivem nas terras indígenas Tikunas e no Baixo Rio Negro. Os Omágua/ Kambeba configuram um dos casos de grupos que, na Amazônia brasileira, deixaram de se identificar como indígena em razão da violência e discriminação de frentes não-indígenas na região desde meados do século XVIII.
Foi com o crescimento do movimento indígena a partir da década de 1980, particularmente com o reconhecimento dos direitos indígenas pela Constituição de 1988 e a multiplicação das organizações indígenas, que os Omágua/ Kambeba passaram novamente a se afirmar como índios e a lutar pelas causas indígenas.
Chegando da área urbana em busca da vida moderna e saída em busca a melhoria na qualidade de vida, a comunidade Tururukari Uka foi fundada em 2004, com aproximadamente 6 famílias e 28 pessoas, e hoje já conta com 12 famílias e em torno de 52 pessoas que vivem das práticas tradicionais do povo e de outras alternativas de vida.
Oficinas culinárias
Da horta ao prato e se alimentar do que a terra dá como estratégia de soberania alimentar, resgatando e aproveitando as plantas regionais, também chamada PANC Plantas Alimentícias Não Convencionais. As receitas das oficinas culinárias baseiam-se nas hortaliças disponibilizadas junto com mudas e sementes pelo movimento Arte & Escola na Floresta.
Nas oficinas culinárias foram apresentados o Tucubiu da Ecochef e Ativista do SlowFood Luizi Viana, a Moqueca de inhame e Gnocchi de pupunha do gastrônomo Alexandre Vitor, o Pão de pupunha Arroz PANC com Orelha de Macacu, Cariru, Buxixu e Cipó Alho da Nora Hauswirth, o Guisado do coração de banana do Emerson Vagalume, a Jaca maluca da Elzira do restaurante Casa da pamonha, as Coxinhas de macaxeira com carne de banana e jaca verde do Ismael Alexandre Ribeiro, e vários outros delícias, como, polenta de milho, catchup de goiaba, corama refogada, maionese com erva de jabuti, carne de casca de banana, temporã de legumes com urtiga, e outros pratos criativos.
Mostra de cinema
A programação dos filmes apresentou uma ampla seleção de curtas-metragens sobre a produção de alimentos ecológicos, o processamento e a gastronomia até o contexto político e social das monoculturas e a estratégia de exportação da classe dominante brasileira.
Foram mostrados:
“Tapajós: uma breve história da transformação de um rio”, minidocumentário do Instituto INCESC que conta como a beira do rio Tapajós foi transformado em uma plataforma de exportação de soja.
“O custo Humano dos Agrotóxicos” do fotógrafo argentino Pablo Piovano, uma reportagem cinematográfica que retrata o efeito devastador do uso indiscriminado de agrotóxicos por aqueles que trabalham no plantio.
“Arroz Ecológico: alimento iluminado” que retrata as qualidades e as oportunidades de produção agroecológica no modo de organização cooperativista, minidocumentário.
“Organic farming/Ital cooking” do Don McConell cozinhando com ingredientes orgânicos do quintal o prato vegano Ital, o minidocumentário culinário
“Receita PANC e mais” da Nora Hauswirth, o movimento Arte & Escola na Floresta revela receitas e práticas para se alimentar do que a terra dá, o filme.
“Tomates, Molho e Wagner” de @mariannaeconomou, que conta a vida de dois primos gregos e cinco mulheres de um pequeno povoado rural que pretendem invadir o mercado mundial com seus tomates orgânicos.
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