Manaus/AM - O epidemiologista da Fiocruz/Amazônia, Jessem Orellana, afirmou, em entrevista à CNN Brasil, que as comunidades científicas avisaram antecipadamente que o Amazonas viveria mais uma vez um pico na pandemia da Covid-19, e que as autoridades, entre elas o governo do Estado, ignoraram “veladamente” os alertas.  Ele classificou como "crime contra a humanidade" o que vem acontecendo.

“Infelizmente a previsão de oxigênio feita pelo Governo Estadual do Amazonas estava muito aquém da necessidade diante desse pico explosivo que foi veladamente ignorado, não só pelo governo do estado mas também por autoridades do nível federal. Nós fizemos questão de alertar a Comissão Nacional de Covid-19 (da câmara e do Senado) e não tivemos nenhuma única resposta em mais de 5 contatos oficiais que nós fizemos, não só com eles, mas também  com a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH).”, relatou à CNN.

 Para Orellana, houve descuido das medidas de restrição, e o cenário, ao contrário do que afirmam o governador Wilson Lima e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, era, sim, possível de prever:  “Não só era possível prever como nós [Fiocruz] documentamos tudo isso. Nós temos modelos, previsões que foram apresentados inclusive em discussões com vários atores da sociedade amazonense e de fora do  Amazonas. [...] Esses três fatores: as negligências [de autoridades sanitárias], da população e essa surpresa da nova variante do novo coronavírus, ajudam a entender a situação de completo colapso, e como disse o governador repetidas vezes, um colapso sem precedentes.”.

Orellana também rebateu a hipótese de “imunidade de rebanho” que foi defendida por alguns no início da pandemia, inclusive pelo presidente da República, Jair Bolsonaro.

“Essa é uma discussão que nós também levantamos inclusive no mundo científico, enviamos um technical committee para tentarmos questionar a inviabilidade e a forma irreal como essa estimativa sobre possível imunidade de rebanho foi feita pra Manaus. Infelizmente, por questões que não conseguimos entender até hoje, o editores não avaliaram o nosso technical committee, e inclusive informamos que Manaus estava entrando em colapso da sua rede hospitalar, e que portanto essa tese de imunidade de rebanho, liderada lamentavelmente por pesquisadores brasileiros, é uma tese estapafúrdia, que não tem eco com a realidade", afirmou.. 

Enquanto a emissora exibia ao fundo a realidade atual dos hospitais de Manaus, ele finalizou: "As imagens que vocês estão mostrando são indubitáveis, incontestáveis, e nos mostram que a imunidade natural de rebanho é impraticável, e diante de qualquer coisa, um crime contra a saúde pública e contra a humanidade.".