Frota envelhecida e demanda pela metade complicam transporte público em Manaus
Manaus/AM - Os efeitos do coronavírus afetam não apenas pessoas físicas, mas também em pessoas jurídicas. Para as empresas de transporte coletivo em Manaus, que já vinham sofrendo perda de passageiros para o transporte por aplicativo, as consequências da pandemia foram piores ainda.
Para falar melhor sobre este assunto, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram) ouviu o presidente da Comissão Nacional de Estudos de Mobilidade Urbana da OAB, Fernando Borges, que explicou quais impactos o transporte coletivo vem sofrendo e quais as possíveis soluções para reverter o cenário atual visando garantir o direito social de transporte da população, previsto na Constituição Federal.
Confira os principais trechos da entrevista:
Antes da pandemia, o setor de transporte coletivo em Manaus já apresentava sinais de crise econômica? Quais fatores contribuíram para esse cenário?
Fernando Borges: O cenário atual é de profunda crise, mas não apenas decorrente da pandemia. Ao longo de muitos anos as políticas públicas privilegiaram o transporte individual em detrimento do transporte coletivo, ou seja, a população mais carente foi esquecida pelos sucessivos governos que preferiram investir na mobilidade individual, facilitando inclusive a aquisição de veículos de passeio, sem obras de mobilidade compatíveis, o que gerou engarrafamentos e déficits nas concessões de transporte coletivo.
Quais são os efeitos da pandemia para o transporte coletivo em Manaus?
Fernando Borges: O transporte coletivo serve a outras atividades. Ninguém anda de ônibus para passear. As pessoas vão ao trabalho, à escola, fazer compras, etc. Com a crise econômica derivada das medidas de isolamento, muitas empresas fecharam e as pessoas tiveram suas rotinas modificadas. O impacto disso será certamente uma redução da demanda a curto prazo. Atualmente as empresas do transporte coletivo estão operando com aproximadamente metade da demanda pré-pandemia, ou seja, antes da pandemia o número de passageiros era de 600 mil pessoas por dia e atualmente apenas 300 mil pessoas utilizam o transporte coletivo diariamente. O tempo de recuperação é uma incógnita.
Qual a solução para as empresas do transporte coletivo mudarem o cenário atual?
Fernando Borges: As empresas sozinhas não podem fazer nada. Será necessário aporte de recursos externos sob pena de inviabilizar o serviço.
Na sua opinião, as empresas de transporte coletivo deverão buscar um novo modelo de serviço para se adequar aos efeitos pós pandemia? Por quê?
Fernando Borges: Penso que o modelo atual deve ser fortalecido. Deve haver investimento público em obras viárias, privilegiando-se o transporte coletivo em detrimento do individual. Pode haver um retorno substancial de passageiros aos ônibus se o sistema de transporte oferecer maior velocidade e regularidade, o que depende de um melhor sistema viário e equilíbrio econômico dos contratos para a renovação da frota.
A frota envelhecida é uma das reclamações sobre o transporte coletivo local, quais as dificuldades das empresas para fazer a renovação da mesma?
Fernando Borges: Primeiramente foi o fato de que não houve reajustes nas datas previstas, o que resultou na impossibilidade da renovação gradual da frota. Assim, a frota que era 70% nova em 2011 envelheceu de uma vez. Agora serão necessários recursos substanciais para a renovação da frota, o que implica em financiamento e garantia de equilíbrio financeiro dos contratos.
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