Historiador não vê vantagens para Eduardo Braga se autoidentificar como 'pardo'
Manaus/AM - A decisão do candidato a governador Eduardo Braga de se autoidentificar como “pardo” nas eleições atuais, negada pela justiça eleitoral, gerou debates porque, nos últimos anos, por conta das ações autoafirmativas, tem aumentado o número de pessoas se autodeclarando pardo ou negro por “afroconveniência”, já que assim tem acesso a benefícios como cota de vagas em concursos e no caso de políticos, mais verbas do fundo partidário.
Essa é a avaliação do historiador Juarez Silva Jr, mestre em História Social e estudioso da temática étnico-racial, ao afirmar não entender que há dúvidas se a questão financeira foi o fator que levou Eduardo Braga a se autoidentificar como “pardo”.
Por ser candidato majoritário, ele já está numa situação privilegiada contando com muito mais recursos que os candidatos a cargos minoritários, por exemplo, diz o historiador.
“Entre os candidatos majoritários, essa questão da verba não faz tanta diferença quanto para os minoritários”, explicou ele, dizendo não descartar como coisa casuística essa decisão de Braga.
O pedido de Braga para mudar de cor foi negado pelo desembargador desembargador eleitoral Victor Liuzzi , que considerou não ser suficiente a autodeclaração para a questão da identificação da raça por envolver distribuição de verbas do fundo partidário e tempo de antena, além do histórico da autodeclaração de “branco” do candidato.
O argumento do desembargador foi rebatido pelos advogados de Braga, que afirmaram que como “branco” ele teria até mais direitos que como candidato “pardo”.
Jurez, que é afiliado à Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), reconhece que últimos anos tem aumentado a “autoconscientização”, mas também a “afroconveniência”, porém politicamente, não vê benefícios para Braga.
Didaticamente, explica que os movimentos negros entendem, em sua maioria, que negro é quem tem origem negra e não é questão exclusiva de tonalidade de pele. “Por isso, sempre brigamos para que os pardos tivessem consciência de ser parte da população negra”, afirma.
Juarez argumenta que negro é quem tem origem africana, e quando se vê uma pessoa reconhecendo suas origens, não pode ser contra porque identidade é uma percepção de coisas que repercutem na sua própria vida, seja do branco, afrodescente ou indígena.
“As pessoas confundem negro e preto, mas deve-se destacar que todo preto é negro, mas nem todo negro é preto. Isso no XIX era uma questão censitário e social de status, o pardo era o não branco livre e o preto era o negro ainda escravizado, então mesmo preto, se fosse livre, brigava para ser chamado de pardo”, explica.
Ao finalizar, Juarez acrescenta que a identidade tem três eixos a serem considerados, como a pessoa se vê, como é enxergada e a terceira é a realidade, como é vista e tratada na sociedade. Para ele, uma grande lição a se aprender é que “Negro não é cor, é origem”, mas é a cor que estabelece se vai haver discriminação em maior ou menor grau.
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