Prefeito de Manaus expõe deficiências da ZFM e cobra dialogo com novo superintendente
Manaus/AM - Após ser convidado para a cerimônia de posse do novo superintendente da Zona Franca de Manaus Algacir Polsin, o prefeito Arthur Neto demonstrou desconforto em não poder ter falado na ocasião. Em texto publicado pelo prefeito, ele parabenizou Polsin pelo cargo, mas expôs toda a deficiência da ZFM. Confira o recado na íntegra abaixo.
"Desejo-lhe todos os êxitos à frente da Suframa e, modestamente que seja, farei o que estiver ao meu alcance para que seja assim. Espero, então, estabelecer com o ilustre superintendente a mais positiva relação entre a Prefeitura que dirijo e a entidade que ora passa a contar com sua experiência e competência no trato da coisa pública.
Por dever de sinceridade, do qual procuro jamais escapar, digo-lhe da contrariedade que me causou ter sido convidado para acompanhar a cerimônia, sem direito à voz de Manaus que, no Amazonas, deixando-se de lado fictícias hierarquias, indubitavelmente, é a mais representativa de todas, Veja bem, prezado general Polsin, que me refiro ao prefeito da cidade-estado (cerca de 2 milhões e trezentos mil habitantes e pouco mais de 80% do PIB do conjunto do estado do Amazonas), seja ele quem for, tenha ele o nome que tiver. Os demais municípios somam entre 1,8 e 1,9 milhão de brasileiros.
Para exemplificar, Manaus é mais populosa que Acre, Rondônia, Roraima, Amapá...e Amazonas, se nosso grande estado não contasse com a maior metrópole de toda a Amazônia. Sei que nada disso é novidade para o senhor, porém bato na tecla que entendo me caber, como dirigente da 7a maior cidade brasileira, dona do 7o maior PIB, dentre as capitais de estados brasileiros.
Sinto que temos muito que dialogar. Hoje, eu não me teria limitado a elogios e a um discurso que não tem nada visasse à exposição clara da realidade. Claro que os votos de felicidade pessoal e profissional viriam inevitavelmente. Mas eu lhe teria dito que, no ritmo da presente toada, com ou sem incentivos fiscais, a Zona Franca não subsistirá por muito tempo.
Seu parque industrial está envelhecido. Não se investe, de verdade, em P&D, em inovação, em formação de robusto capital intelectual, em qualificação da mão de obra. Se a economia estivesse "bombando", haveria um caos portuário. Não temos hidrovias; temos rios magníficos, porém, repito, não contamos com hidrovias, que encurtariam caminhos e reduziriam os custos Zona Franca. Nossa telefonia celular é péssima. Nossa internet é contra os negócios, de tão precária que se revela. Precisamos de novos polos: o de áudio e vídeo está condenado à caducidade, assim como outros que ainda vão sobrevivendo.
Por que não investir na fabricação de drones, inclusive de tamanho suficiente para transportar produtos aqui elaborados, voando por cima da cobertura florestal e chegando a rodovias, ferrovias, aeroportos, rebaixando custos de transporte dessas mercadorias. Economia 4.0 pura.
Por que não aproveitar, através de exploração obviamente sustentável, o maior banco genético do mundo, que reside em nossa região? Explorar a biodiversidade, criar um polo de biotecnologia, viver da grande floresta sem destruí-la, sem permitir o garimpo poluidor, sonegador e criminoso, sem pensar em agronegócio no coração da floresta, porque em 20 anos o solo estaria fatigado e o passo seguinte seria a desertificação.
Por que não juntar o PHD formal, o da academia, com o PHD índio, que conhece todos os mistérios da floresta. Essa é a dupla exata para gerar prosperidade para os amazônidas, para os brasileiros e para parceiros empresariais nacionais e estrangeiros. Sim, porque a Amazônia é inarredavelmente terra brasilis, contudo nós todos sabemos do interesse planetário sobre ela. E é nosso dever governá-la correta e inteligentemente, em paz com nossas consciências e com o mundo todo.
Fico por aqui, general. Reafirmo os votos de pleno êxito para a sua gestão. Há muito a ser feito. E a conjuntura econômica não se mostra, de jeito algum, favorável. Não seria hora de promover uma ampla reforma na estrutura administrativa do órgão, de modo a torná-lo contemporâneos das exigências do seu próprio tempo?
Aceite meus mais cordiais cumprimentos
Arthur Virgílio Neto
Prefeito de Manaus"
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